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Os planos da Disney para conquistar a China com a nova versão de Mulan

China agora tem sua primeira princesa da Disney na vida real
China agora tem sua primeira princesa da Disney na vida real - Disney
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Descrição de chapéu BBC News Brasil
Yvette Tan Heather Chen

Não haverá canções ou dragões falantes, e o antagonista do filme será uma feiticeira chinesa, não um líder maligno do exército huno: Mulan está voltando para as telonas. A Disney lançou nesta semana um trailer do remake de seu clássico de 1998, história baseada em uma guerreira lendária que se disfarça de homem para lutar no lugar de seu pai doente no exército imperial da China.
 
O filme faz parte de uma série de sucessos da Disney dos anos 1990 que estão sendo refeitos para o século 21, incluindo Cinderela, A Bela e a Fera e Aladdin. A animação Mulan fracassou em seu local de nascimento quando foi lançada há mais de duas décadas. Mas, desta vez, a Disney está fazendo o possível para conquistar a China com sua nova versão da heroína.

VAMOS AO QUE INTERESSA

Quando o filme original da Disney foi ao ar, a China não era um mercado importante para a empresa americana. Vinte anos depois, a China é o segundo maior mercado cinematográfico do mundo. Cerca de 70% da receita dos estúdios de Hollywood são geradas no exterior, em comparação com cerca de 30% há duas décadas.

E o público chinês hoje é capaz de adicionar milhões de dólares ao resultado nas bilheterias. "As receitas chinesas podem alavancar ou quebrar um filme", disse a escritora e analista cultural Xueting Christine Ni.  
E a Disney sabe disso - e é por esse motivo que está gastando US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão) no filme, de acordo com uma de suas estrelas, Gong Li.

"A Disney está mirando agressivamente a China", disse à BBC Stanley Rosen, professor de Ciência Política da Universidade do Sul da Califórnia. Produções recentes da Disney, como "Toy Story 4", não conseguiram ter sucesso nas bilheterias chinesas. Em contraste, a DreamWorks Studios, de Steven Spielberg, teve um enorme sucesso entre o público chinês com o seu Kung Fu Panda.
 
Para esse filme, diz o professor Rosen, "eles passaram muito tempo na China, investindo esforços na pesquisa de pandas e conversando com especialistas". "O público chinês é claramente mais sofisticado agora, por isso, se a Disney quiser reconquistá-lo, precisará descobrir os aspectos culturais de Mulan."
 
Isso significa que o novo filme não pode ser uma reconstituição cena a cena do antigo. "O original da Disney estava se esforçando tanto para ser chinês, mas de uma forma estereotipada –há lanternas, fogos de artifício... Eles até colaram um panda lá. O humor, o andamento das relações, são totalmente americanos, ou o que a América imagina que a China seja", disse Ni à BBC.
 
Em uma cena, por exemplo, o imperador é visto se curvando para Mulan. Seria impensável para o imperador, que na época era visto como uma figura divina na China, se curvar a quem quer que fosse.

FAZENDO DIREITO

O elenco desse tipo de filme é geralmente alvo de críticas. A Disney baniu os temores iniciais de "branqueamento" (ou whitewashing, em inglês) –havia rumores totalmente infundados de que ela seria interpretada por Jennifer Lawrence–  ao lançar a atriz chinesa-americana Liu Yifei no papel principal.
 
Em seguida, aumentou o status de estrelas apresentando a lenda das artes marciais Jet Li como o imperador chinês e Gong Li como uma bruxa vilã –grandes nomes da China que também fizeram sucesso no cinema ocidental.

Mas o elenco é "simplesmente um elemento de melhor representação e inclusão nos filmes da Disney", disse a especialista em cultura Rebecca-Anne Rozario, professora da Monash University, em Melbourne, na Austrália.
 
Portanto, há outros fatores que a Disney terá que incluir para tornar o filme um sucesso. Mulan é uma heroína nacional na antiga lenda chinesa. Suas lendas datam da dinastia Wei do norte, por volta de 380 dC. Isso é menos princesa Disney e mais uma Joana d'Arc chinesa.

Então, o novo roteiro do filme voltou ao material original do século 6, a Balada de Mulan, como inspiração. Também foi filmado parcialmente na China, e a história é centrada na mulher, que também tem uma diretora feminina em Niki Caro.
 
"Do tom do novo trailer, parece muito mais próximo da lenda original do que a animação de 1998 e, portanto, mais perto de Hua Mulan como os chineses a conhecem - a jovem corajosa que defende seu dever com o Estado e a família", disse Ni. "Acho que desta vez, a live action terá uma chance muito maior de conquistar o público chinês."

QUEM É ESSA GAROTA QUE EU VEJO?

Bastante esperada, a refilmagem não escapou de críticas. "Onde estão as músicas?", reclamou um fã descontente no Facebook. "Esta não é o Mulan que eu me lembro se não ouvirmos as músicas que crescemos escutando."

Outros lamentaram a ausência do piadista dragão Mushu. "Sabemos que a Disney está mudando muitas coisas e deixando muitos dos personagens originais, mas Mushu é hilário", disse um deles. O grilo da sorte da heroína e a avó atrevida de Mulan também não aparecem. Em seu lugar, está a irmã mais nova de Mulan.
 
E algumas pessoas de olhos de águia notaram imprecisões históricas no trailer. Mulan é vista vivendo em uma cabana tulou, um estilo tradicional de casa redonda. Mas elas são de Fujian, a mais de 1.000 km de Henan, província ao norte na qual Mulan teria originalmente nascido e construída séculos depois de sua era.
 
Mas também houve muita reação positiva. Pessoas nas redes sociais chinesas elogiaram a estreia de Liu Yifei como Mulan. Uma pesquisa online na plataforma chinesa Weibo também descobriu que mais de 115 mil usuários estavam "satisfeitos" com o que eles conheciam do filme até agora. "A China finalmente tem sua própria princesa da Disney, sobre a qual ninguém pode reivindicar", escreveu uma pessoa ali.
 
Outra, que disse não se identificar com o desenho animado original, compartilhou sua excitação com o novo longa. "Hua Mulan foi a heroína que agraciou nossos livros de histórias na escola. Estou feliz que o trailer está definindo sua história como mais uma chinesa épica especialista em artes marciais do que como um desenho americano."
 
Mas os maiores elogios vieram da voz da Mulan "original", Ming-Na Wen, que foi ao Twitter para elogiar o desempenho de Liu. O filme está previsto para ser lançado em março de 2020. A Disney não dá detalhes por enquanto, mas disse que mais informações seriam divulgadas à medida que a data de lançamento se aproxime.
 
Há indicativos de que algumas das músicas clássicas do filme de animação surgirão de alguma forma, mas isso pode acabar sendo um problema secundário para os fãs chineses de Mulan. Como disse um usuário do Weibo: "A Mulan da China está de volta".

BBC News Brasil
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