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Cinema e Séries
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Com Steve Carell, 'Querido Menino' tem história real e dolorosa de luta contra drogas

Brad Pitt integra time de produtores vencedores de Oscar

Cena do filme 'Querido Menino', de Felix Van Groeningen, com Timothée Chalamet e Steve Carell

Cena do filme 'Querido Menino', de Felix Van Groeningen, com Timothée Chalamet e Steve Carell Francois Duhamel

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São Paulo

O quão longe pode ir um pai na tentativa de salvar o filho das drogas e outros males? É essa a pergunta que o diretor belga Felix Van Groeningen parece querer provocar nos espectadores de seu novo filme, "Querido Menino", que estreia nesta quinta-feira (21) no Brasil.

Baseado no best-seller de David Sheff e no livro de memórias de seu filho, Nicholas Sheff, o longa narra o efeito devastador que o mundo das drogas pode ter não só em dependentes químicos, mas em sua família e pessoas ao redor que acabam sendo envolvidas.

A produção, embalada na canção "Beautiful Boy", de John Lennon, fica a cargo de Brad Pitt, com Dede Gardner e Jeremy Kleiner (o trio já trabalhou junto no vencedor de Oscar "Moonlight", "12 Anos de Escravidão" e em "A Grande Aposta").

Longe das comédias, Steve Carell assume o papel do pai, David, que passa boa parte da jornada se esforçando para ajudar o filho, Nic, interpretado pelo indicado ao Oscar por "Me Chame Pelo Seu Nome", Timothée Chalamet.

David nutre um amor incondicional pelo filho, antes visto como membro exemplar do time de polo aquático, e tenta lidar com um sentimento constante de culpa por Nic, que se vê mergulhado cada vez mais nas drogas desde quando as experimentou, aos 12 anos. "É como se o mundo passasse de preto e branco para colorido", relata o personagem em sua primeira experiência com metanfetamina (droga sintética).

A narrativa sincera e emocionante surpreende por não se concentrar nas causas do problema, mas sim nas consequências e múltiplas formas de tentar revertê-lo, mesmo que o "sucesso do tratamento dos dependentes não chegue à casa dos dois dígitos".

De forma bastante realista, sem moralismos exacerbados que se costuma ter nos filmes que tratam sobre o assunto, o pai dedica boa parte de sua vida a Nic, e ressuscita dores nas diversas recaídas do filho. E o espectador sofre com o personagem.

"Há um ciclo de vergonha: você recai; você se sente mal com isso, então você usa mais drogas; você fica sem dinheiro, então você rouba; e então você tem que tomar mais drogas para esquecer as coisas horríveis que você fez”, comenta o diretor, mais conhecido pelo filme "Alabama Monroe" (2012), com o qual concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Carell, que vive David, afirma que esta é uma história muito realista sobre pai e filho passando por uma jornada "louca e horrível" juntos. "É sobre a urgência que David sente por causa de seu profundo amor por sua família, que é quase visceral. Ele não quer nada mais do que cuidar deles."

Enfiado num quarto com pôsteres do Nirvana e livros de Scott Fitzgerald, Nic cresceu lendo, escrevendo e desenhando, e em raros momentos ia surfar com o pai. A intimidade dos dois é tanta que eles chegam a compartilhar um cigarro de maconha. Com o tempo, o filho vai experimentando outras drogas e torna-se violento.

O braço marcado pelas injeções de heroína e os olhos caídos entregam um dependente que já é visto como morto. A ajuda do pai na contínua luta de Nic pela vida é essencial, mas o filho tem consciência que precisa dar um ponto final à sua condição, mesmo após repetidos desaparecimentos, reabilitações e promessas quebradas. Ele é a prova de como o ciclo da droga pode ir e vir, mesmo estando anos longe dela.

Ao longo da trama, David passa noites em claro pesquisando e até se colocando em situações de risco para entender o vício do filho. Desquitado da mãe de Nic, interpretada por Amy Ryan, David se relaciona com Karen (Maura Tierney), uma artista com quem teve mais dois filhos, bem mais novos.

Juntos eles constituem a "família perfeita" de São Francisco, que pinta árvores e faz bate e voltas à praia nos finais de semana –o que intensifica a visão de Nic ser a ovelha negra da família. As duas crianças, observando o que acontece, por vezes são o ponto de equilíbrio tanto para ele quanto para o casal de pais.

Timothée Chalamet diz que seu maior medo era que os Sheff's, donos da real história, vissem o filme e questionassem sua autenticidade. Mas de acordo com David (o da vida real), "foi assustador observá-lo, porque ele tem uma aparência que lembra a de Nic durante esses anos. Ele se movia [no filme] como Nic."

O ator se encontrou com Nic para pegar o tom da história, que descreve como "dolorosa". "Eu entendo que quando se está mergulhado nelas [drogas], você não é você mesmo. É como se houvesse duas versões de Nic."

Para o diretor, Chalamet "captura a essência de Nic", pois "interpreta o personagem como alguém que amamos, tanto que ficamos realmente com medo por ele". "O que torna isso especialmente triste e doloroso de assistir é que ele está lúcido o suficiente para perceber o que está fazendo."

Gardner, produtora que sugeriu Chalamet para o elenco, diz que o ator também "tem uma 'alma velha'". "Você tem a sensação de que ele viveu muito ao longo de seus anos. Acho que isso é verdade para Nic também."

Ao final da história, o diretor deixa uma mensagem alertando que a overdose é a principal causa de morte entre americanos com menos de 50 anos, e pontua que o problema recebe pouca atenção e financiamento para a sua resolução. Mas, ainda carregando as dores de David e todo o esforço que ele demonstra durante o filme, o questionamento que fica é: podemos realmente salvar pessoas?​

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