Antonio Tabet, Mauricio Meirelles e outros humoristas defendem Leo Lins, condenado por discriminação
Comediante foi sentenciado a oito anos com base na Lei do Racismo e no Estatuto da Pessoa com Deficiência
Antonio Tabet, Danilo Gentili, Mauricio Meirelles, Fábio Rabin e outros humoristas se manifestaram nesta terça-feira (3) contra a condenação de Leo Lins.
O humorista, ex-integrante do programa de Danilo Gentili no SBT, foi condenado a oito anos e três meses de prisão pelos crimes do artigo 20 da Lei do Racismo ("praticar e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional") e do artigo 88 do Estatuto da Pessoa com Deficiência ("discriminação de pessoa em razão de sua deficiência").
Em vídeo de 2022, que teve mais de 3 milhões de visualizações no YouTube, o comediante faz declarações contra negros, idosos, obesos, portadores de HIV, homossexuais, evangélicos, indígenas, nordestinos, judeus e pessoas com deficiência.
A Justiça estadual de São Paulo determinou a retirada do programa do YouTube em 2023, após o Ministério Público estadual alegar que o conteúdo era uma "incitação à violência" e "desrespeito à dignidade de grupos minoritários e vulneráveis".
Além disso, Lins foi proibido de realizar qualquer comentário "depreciativo" ou "humilhante" a minorias, não podia deixar São Paulo sem autorização judicial prévia e precisaria comparecer mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades.
No X, Maurício Meirelles comparou a condenação à prisão dos cantores Oruam e Poze do Rodo: "Ninguém deve ser preso pela sua arte", escreveu. Mais tarde, brincou: "Quer saber? Vou parar de fazer piada e entrar pro comando vermelho."
Antonio Tabet também usou o X para se manifestar: "Isso aqui é um absurdo. Pode-se não achar a menor graça ou até detestar as piadas de Leo Lins, mas condená-lo à prisão por elas é uma insanidade e um desserviço. Espero que essa decisão completamente descabida seja revertida", escreveu.
Fábio Rabin postou um vídeo comentando a condenação. "No ano 2000, quando eu nem sonhava em ser comediante, um amigo me mandou uma piada nazista, eu xinguei ele de tudo que é nome e aquilo abalou nossa amizade. Hoje eu jamais faria o que eu fiz no passado, porque eu analiso a técnica da piada, se ela é boa, se ela é ruim", disse Rabin.
"Tem gente que usa a piada de forma negativa, para machucar o outro, fazer discurso de ódio. Mas quando o cara está no palco fazendo um show para quem pagou, ele tem licença poética para fazer aquelas piadas", concluiu.
Por volta das 22h, Danilo Gentili publicou um vídeo dizendo: "Piadas não geram intolerância e preconceito. O humor não comete crimes. É uma forma de arte que serve para causar alívio, riso e boas sensações em quem está ouvindo."
Já a humorista Bruna Braga se posicionou a favor da condenação. "Racismo é crime. Comediante foi racista, vai ser preso, a gente tem que ser contra?", escreveu no X. Ela integra o elenco da série "No Corre" (Multishow).
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Além da prisão, em regime inicialmente fechado, Lins também deve pagar uma multa equivalente a 1.170 salários mínimos (no valor da época em que o show ocorreu) e indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos.
Na decisão, a Justiça entendeu que "no caso de confronto entre o preceito fundamental de liberdade de expressão e os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica, devem prevalecer os últimos". Cabe recurso à sentença. O processo corre na 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
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