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Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Ator mirim de 'Indiana Jones' volta como galã romântico após 40 anos

Ke Huy Quan diz que quer fazer todos os papéis que não fez na juventude

Ke Huy Quan

Ke Huy Quan Jennelle Fong - 2.mar.22/The New York Times

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Robert Ito
The New York Times

Na metade dos anos 80, Ke Huy Quan estrelou dois dos filmes de maior bilheteria daquela década, interpretando Short Round, o companheiro órfão de Indiana Jones em "Indiana Jones e o Templo da Perdição" (1984), e Data, um menino obcecado por tecnologia que inventa diversas engenhocas para espancar valentões, em "Os Goonies" (1985).

Em março, Quan, 51, voltou à telona, em "Everything Everywhere All at Once", dos diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert, ou "os Daniels". No filme, que estreou nos Estados Unidos em março, Quan interpreta Waymond Wang, o marido amável da dona de uma lavanderia que enfrenta dificuldades, interpretada por Michelle Yeoh.

Mas porque se trata de um filme do multiverso, Quan também personifica outros dois Waymonds muito diferentes: o primeiro um mestre de artes marciais e guerreiro que percorre o universo, e o outro um galã romântico desesperado que, em outra época e lugar, deixou que a personagem de Yeoh fosse embora.

De muitas maneiras, a jornada de Quan, de "Indiana Jones" ao seu novo filme, é quase tão implausível e fantástica quanto os saltos de Waymond Wang por universos paralelos. Na casa de Quang, em Woodland Hills, um bairro de Los Angeles, enquanto comíamos um filé preparado por ele, o ator mencionou alguns dos pontos altos de sua carreira (entre os quais dividir uma piscina com Ford), falou sobre lutar kung-fu armado com uma pochete, e discorreu sobre trabalhos péssimos que ele teve a sorte de poder recusar. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.

Você nasceu em Saigon e sua família terminou em um campo de refugiados em Hong Kong quando você tinha sete anos. Como é que você foi de lá para "Indiana Jones?"
Nós chegamos a Los Angeles em 1979 e, por obra do destino, em 1983 Steven Spielberg e George Lucas estavam à procura de um menino chinês para estrelar em "Indiana Jones e o Templo da Perdição". Eles foram a Hong Kong, Cingapura, Londres, San Francisco, Nova York, e estavam a ponto de desistir quando o diretor de elenco lhes disse que deveriam tentar em Chinatown.

Por isso, Spielberg e Lucas fizeram uma seleção de elenco que durou o dia inteiro em nossa escola primária. O professor do meu irmão achou que ele deveria tentar, e por isso fui com ele e, durante o teste, fiquei sugerindo a ele o que fazer e como se comportar; o diretor de elenco me viu e perguntou se eu não queria tentar. Eu achei que tinha me saído muito mal.

Você sabia quem era Harrison Ford?
Não. Eu ainda não tinha assistido a "Star Wars" ou a "Os Caçadores da Arca Perdida" antes de terminarmos a filmagem. Mas ele era um cara maravilhoso. Muito simples, muito humilde, e um ator muito generoso. E me ensinou a nadar. Estávamos na piscina do nosso hotel no Sri Lanka e ele me perguntou: "Ke, você sabe nadar?" Eu respondi que não, e ele disse: "Entre na água e eu ensino".

Um ano depois, você fez "Os Goonies", mais um enorme sucesso.
Sim, foi mais uma aventura maravilhosa. Mas eu não cresci querendo ser ator. E quando fui ficando mais velho e percebi que aquilo era o que gostaria de fazer, eu não tinha muitas propostas. Quando havia alguma, o papel era sempre muito estereotipado, e todos os atores asiáticos de Hollywood estavam na briga por ele.

Quando cheguei aos 20 e poucos anos, ninguém mais me procurava para trabalhos. Um dia, meu agente me ligou e disse que tinha encontrado um papel. Eram só três linhas de diálogo, e eu seria um vietcong. Mas não consegui nem isso.

Quando você pensa nesses trabalhos, sua sensação é a de que foi uma sorte ter evitado uma roubada como aquela?
Agora, em retrospecto, com certeza sim. Mas na época, como ator, tudo que você quer é trabalhar. Se eu teria feito aqueles papéis que disputei, caso tivessem me oferecido? Quem sabe? Mas decidi deixar de lado a atuação. Não queria abandonar o ramo de vez, e por isso me inscrevi na escola de cinema da Universidade do Sul da Califórnia, e por sorte fui aceito.

Você disse a eles que tinha trabalhado em "Os Goonies", não é?
Com certeza incluí esse detalhe na minha inscrição.

E o que você fez depois de se formar?
Eu terminei a faculdade em 1999, e recebi um telefonema de Corey Yuen [um reverenciado ator e coreógrafo de cenas de ação de Hong Kong], que me convidou para ir a Toronto e trabalhar com ele na equipe de dublês de ação de um filme. E quando cheguei ao set, era "X-Men"!

Como é que Corey Yuen tinha seu telefone?
É uma história engraçada. Muitos anos antes, ele queria que eu fizesse um filme para ele em Hong Kong, como ator. Mas na época eu estava preso por contrato a um programa de TV, e por isso recusei o convite. Mas mantivemos o contato ao longo dos anos.

Como é que "Everything Everywhere All at Once" surgiu?
Em 2018, eu estava trabalhando por trás das câmeras quando saiu um filme chamado "Podres de Ricos", que fez um pouquinho de sucesso. Fiquei tão inspirado por aquele filme que a ideia de voltar às minhas raízes começou a fervilhar em minha cabeça.

Por isso liguei a um amigo que é agente e disse que estava pensando em voltar a trabalhar como ator, e perguntei se ele gostaria de me representar. E literalmente duas semanas depois ele me ligou para dizer que havia um filme, escrito e dirigido pelos Daniels, e estrelado por Michelle Yeoh. E, no filme, um papel para o qual eu seria ótimo, o de marido dela. E eu pensei, "oh, meu Deus".

Fiz meu teste no dia seguinte, e achei que tinha me saído realmente bem. Mas não tive resposta deles por dois meses. Quando eu tinha perdido toda a esperança, me telefonaram e disseram que queriam conversar comigo de novo. E eu achei que, de novo, fui incrivelmente bem na segunda audição, mas quando saí da sala vi outro ator asiático esperando para fazer um teste para o mesmo papel. Ele era mais alto, mais bonito, parecia ter acabado de sair da revista GQ. Voltei para casa e liguei para meu agente para dizer que tinha tentado o melhor que podia, mas que não achava que conseguiria aquele papel.

Era um ator famoso? Alguém que eu conheça?
Não me lembro. Era um cara realmente bonitão. E por isso achei que não conseguiria o papel. Mas logo depois meu agente avisou que o papel era meu. Pulei bem alto. Fiquei muito feliz.

É um bom papel para o seu retorno.
Obrigado. Eu amei cada minuto do trabalho. Lembro-me do primeiro dia da filmagem. Jamie Lee Curtis sentada na minha frente. Michelle Yeoh por trás de mim. James Hong à minha esquerda. Por um breve momento, tive um ataque de pânico, e fiquei pensando que aquelas pessoas todas eram lendas, e que diabos eu estava fazendo lá?

Você tem uma cena de luta épica usando uma pochete como arma.
O estilo da luta de wushu [kung-fu] com a pochete é conhecido como wushu dardo de corda. Fiz muita arte marcial, mas em geral com chutes e socos. Treinei muito para aquela cena. Levava a pochete comigo para casa e a girava constantemente, quebrando coisas. E minha mulher pedia: "Querido, será que você pode ensaiar lá fora?"

Michele Yeoh fez alguns filmes de artes marciais. Você se sentiu pressionado?
Michelle Yeoh é a absoluta rainha dos filmes de artes marciais. E por isso eu mesmo me pressionei. Não queria desapontá-la. E ela me ajudava o tempo todo, sabe, sempre fazendo com que eu me sentisse confortável, porque fizemos muitas cenas juntos.

James Hong, que interpreta seu sogro, está em Hollywood desde sempre. Ele o tratou como garoto?
Ele tem 91 anos, e caminhava pelo set como se tivesse 20 e poucos. A voz dele é muito grave, alta e forte, e ele ama trabalhar. Fez mais de 600 filmes e séries. No último dia da filmagem, ele trouxe muitas fotos de seu trabalho em outros filmes, e perguntou "quem quer uma foto autografada?" Todo mundo levantou a mão.

O papel, ou os três papéis, parece(m) muito bacana(s). Ainda existe um papel dos seus sonhos que você gostaria de fazer em algum lugar?
Quero interpretar muitos, muitos papéis diferentes, que não tive a oportunidade de fazer quando era mais jovem. Assim, estou aberto a qualquer convite. Quando comecei, eu muitas vezes era o único rosto asiático no set. Por isso, poder chegar a um set agora e ver muitos rostos asiáticos é realmente inspirador, e me dá muita esperança.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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