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Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Aventureiro que desafia famosos, Bear Grylls quer escalar picos ao som de Abba

Apresentador tira celebridades da zona de conforto em reality

O aventureiro Bear Grylls Netflix

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Kathryn Shattuck
The New York Times

Como um especialista em sobrevivência encara uma pandemia? Se você for Bear Grylls, 46, escolhe voltar à natureza para melhor escapar dos perigos da quarentena em casa.

"Foi um ano superdesafiador, e as crianças tiveram que estudar em casa por boa parte do tempo", diz Grylls em uma conversa por telefone, de Saint Tudwall’s Island West, ao largo da costa norte do País de Gales, onde ele e a mulher, Shara, vivem na antiga residência de um guarda-faróis, com seus três filhos. "Foi uma experiência bastante esclarecedora, porque tive de encarar minhas muitas inadequações."

Felizmente para seu ego, Grylls continua a se sair bem em diversas outras coisas. Enquanto a maioria das produções de TV e cinema tiveram de ser suspensas, ele conseguiu gravar toda uma temporada de seu programa para a NatGeo, Running Wild (Celebridades à Prova de Tudo), no qual coloca celebridades em alguns dos cantos mais inóspitos do planeta por 48 horas e as ajuda a passar pela experiência relativamente incólumes.

Se desconsiderarmos as eventuais queimaduras causadas pelo atrito das cordas ao deslizar montanha abaixo e o estômago embrulhado causado pelo consumo de escorpiões como refeição. "Somos uma equipe pequena e ágil", diz Grylls.

"Temos a capacidade de mudar de locação com a maior facilidade. E também temos a capacidade de respeitar as normas de gravação em época de Covid ao recorrer a médicos que já trabalharam como guias de escalada em cantos remotos e de difícil acesso do planeta."

Países podem se reabrir do dia para a noite para a entrada de visitantes —e Grylls normalmente é o primeiro a chegar, acompanhado por celebridades inquietas—, mas as fronteiras também se fecham repentinamente, forçando a equipe de filmagem a se transferir para outro lugar.

E a se desdobrar, para episódios gravados em locações como a Islândia, com Terry Crews e mais tarde Keegan-Michael Key, e o deserto de Moab, com Danica Patrick e, mais tarde, Danny Trejo. "Estou orgulhoso por muitos desses grandes astros terem confiado em nós, não só suas vidas no lado aventureiro da coisa como também sua saúde no aspecto da segurança contra a Covid", afirma.

Não será surpresa que muitas das indicações que Grylls vê como essenciais se relacionem à natureza e à emoção de saltar de altitudes perigosas. Mas não se espante caso o encontre dirigindo seu barco anfíbio a caminho da pizzaria local e cantando canções do Abba a plenos pulmões.

Leia trechos editados da conversa.

1. “Invencível”, de Laura Hillenbrand, e “As Far as My Feet Will Carry Me”, de Josef Bauer. Os dois livros realmente me inspiraram e influenciaram. Têm raízes na sobrevivência e na aventura, mas, assim que você mergulha sob a superfície dessas histórias. Na verdade, elas tratam de amizades, de fracassos e de ter fé e jamais desistir. Creio que esse espírito de "nunca desistir" tenha posição central em muito daquilo que faço e que defendo.

As tempestades criam heróis, não é verdade? E a Segunda Guerra Mundial foi uma das maiores tempestades que tivemos no século passado. Não surpreende que muitas das histórias de sacrifício, de amor e de esforço que vemos venham daquele período.

Meus dias nas forças especiais britânicas tiveram muita influência em minha formação e em minha vida. Foi então que aprendi muitas das técnicas que uso até hoje, e foi então que formei muitas das amizades que mantenho até hoje. E essas duas coisas são fundamentais para boa parte da minha vida.

2. “Mamma Mia!” e outros musicais cafonas: Eu assisto a “Mamma Mia! O Filme”, sem ser obrigado. (Risadas dos dois lados da conversa.) Não ria de mim —a resposta poderia ter sido genuína. Eu, na verdade, provavelmente assistiria ao filme por minha conta.

Mas. por outro lado, fico secretamente muito feliz quando meus filhos querem ver um musical cafona. Eu costumava ir ao cinema resmungando, mas sempre gostei. E até hoje continuo a amar musicais, não tenho vergonha disso e fico sensibilizado com os mais cafonas deles.

3. Crust Pizzeria: (Abersoch, no norte do País de Gales) é a nossa comunidade. E se você sair de barco lá, verá a pequena ilha em que vivemos. Nós compramos algumas pizzas, as colocamos na traseira do nosso barquinho e saímos mar afora, em meio à chuva e ao vento.

A equipe da pizzaria é maravilhosa, e eles são sempre incrivelmente gentis conosco. Viajo muito e já comi muitas pizzas boas, mas continuo a dizer que a de lá é a melhor de todas —talvez porque seja uma batalha tão grande trazê-las para casa.

Temos um barco inflável rígido Sealegs, épico, brilhante, muito resistente. Estrutura de alumínio, motor de popa, rápido, estilo militar, encara qualquer mar. Os nossos filhos cresceram pilotando o barco desde muito pequenos.

São competentes de verdade. Na verdade, é um barco anfíbio, e quando você aperta um botão e as rodas baixam é possível dirigir costa adentro, apanhar as pizzas, fazer a volta, retornar ao mar, recolher as rodas e atravessar o estreito até a ilha.

4. Milão: Passamos muito tempo nas montanhas da Suíça. Temos uma cabana por lá. Meu filho mais velho está fazendo a universidade em Milão. Assim, entre a universidade e nossa casa, há algumas das montanhas mais espetaculares do planeta. Milão provavelmente é minha cidade favorita, porque continua a parecer italiana e pequena.

É obviamente uma cidade grande, mas não é assustadora. Roma às vezes intimida, mas Milão parece mais aconchegante. A parte velha da cidade ainda é calçada com paralelepípedos e há bondinhos e edificações maravilhosas. É isso que eu amo.

5. Verbier, Suíça: Um lugar deslumbrante. Temos algumas das montanhas mais íngremes dos Alpes por lá. Não é um desses resorts de esqui aos quais as pessoas vão para férias. Muitos esquiadores e guias alpinos se mudam para lá, suas famílias vivem lá.

Estão criando uma pequena comunidade de montanha, aventurosa e ótima. Amo que nossos filhos tenham crescido tendo isso como parte importante de suas vidas. É um lugar realmente especial para nós. Eu sempre defenderei Verbier com o maior orgulho.

6. Monte Brento, na Itália: Monte Brento foi meu primeiro grande BASE jump em altitude elevada —uma muralha de mil metros, muito abrupta. Fiz o salto para o começo do episódio sobre Capitão América e Anthony Mackie de Running Wild (exibido em 29 de março).

Eu sabia que ele fazia saltos nos filmes da Marvel o tempo todo. Achei que tínhamos a oportunidade perfeita para aquilo. Estaríamos filmando ali perto de qualquer jeito. Nós aceleramos o treinamento e alteramos algumas coisas.

Não é o tipo de salto que alguém deseje fazer regularmente. É definitivamente uma empreitada de risco mais alto. Tudo saiu bem, e provavelmente é a abertura de que mais me orgulho na série. Foi com certeza a coisa mais perigosa que já fizemos. Não dormi muito na noite anterior. Na verdade, não dormi muito nas oito noites anteriores.

7. “Believe”, de Mumford e Sons: Não sou muito bom com música. Não conheço as bandas. Mas sou amigo de Marcus e o amo e amo essa canção. Sempre que alguém me pergunta sobre minha canção favorita respondo que é alguma coisa de Mumford e Sons.

8. “Carruagens de Fogo” e “Greystoke, a Lenda de Tarzan, o Rei da Selva”: Adoro "Carruagens de Fogo", a coisa toda, o filme, a música, a história. Quando corro, sinto o prazer de Deus. Essa é minha jornada na vida, de muitas formas. Quando estou lá fora, é onde me sinto conectado. É meu lugar.

É como sinto que devo viver. E “Tarzan” é brilhante —uma vez mais, é sobre o algo de selvagem que existe dentro de nós e que precisamos deixar sair periodicamente. Não é algo que possamos manter engarrafado.

Ninguém fez um “Tarzan” com uma história tão boa desde aquele. Se o filme passa a ser sobre músculos, perdeu meu interesse. Não é isso que interessa. O que importa é o rosnado em torno da mesa de jantar e correr sobre os telhados, grunhindo. É o que todos nós desejamos fazer, não?

9. Usina de Energia de Battersea: É uma parte muito emblemática de Londres. Quando Shara e eu nos conhecemos, na Escócia, descobrimos que os dois tínhamos vivido à sombra do edifício. Ele é parte importante de nossa vida.

Lembro-me de conversar com pessoas envolvidas na reforma e eles dizerem que se tratava de um verdadeiro Evereste da arquitetura. Não dá para derrubar e começar de novo. Para torná-lo habitável, eles tiveram de remover cada tijolo, verificar a integridade e recolocá-lo em posição.

A coisa toda está sendo reconstruída com todos os componentes originais. É um verdadeiro feito de engenharia. Compramos um imóvel lá para termos uma base em Londres, mas ainda não nos mudamos.

10. S'mores: Tenho muitas lembranças e experiências boas que envolvem s'mores [petisco tradicional para fogueiras noturnas], de minha passagem pelo escotismo quando era criança ao presidente [Barack] Obama me fazer um quando estávamos no Alasca.

Vi o espectro todo dos ssmores, e há algo de grandioso neles. É a combinação da natureza e de pessoas fazendo algo juntas. O fato que ele sempre causa sujeira, e o sabor é maravilhoso, e de que um ssmore é sempre como que um presente para o paladar... E você precisa se presentear na vida regularmente. E mais vezes do que imagina.

Tradução de Paulo Migliacci

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