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'Megxit': como os britânicos reagiram ao anúncio do casal real

Príncipe Harry e Meghan Markle - AFP
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Descrição de chapéu BBC News Brasil

Enquanto o mundo prestava atenção na escalada do conflito entre Irã e Estados Unidos, um post no Instagram se tornou um ímã para a atenção de milhões de pessoas.

Pela rede social, Harry e Meghan, duque e duquesa de Sussex, anunciaram que não vão mais representar a família real britânica em compromissos públicos. Mais do que isso: disseram que vão buscar meios de se tornar "financeiramente independentes" da realeza.

Até a publicação desta reportagem, o post do casal no Instagram tinha 1,7 milhão de curtidas e mais de 135 mil comentários. Mas, curtidas significam apoio?

Sabe-se que não. Descrito como uma surpresa até para a família real, o anúncio caiu como uma bomba na imprensa britânica e ainda é um dos mais discutidos e buscados em todo o mundo.

Na imprensa, nas ruas e nas redes sociais, muitos britânicos se dizem decepcionados com a decisão. Outros cobram que o casal devolva o equivalente a R$ 12,8 milhões gastos na reforma da Frogmore Cottage, a mansão em Windsor, nos arredores de Londres, onde Harry e Meghan vivem.

Há também quem peça que eles abram mão de seus títulos de nobreza. A maior parte das críticas, no entanto, se concentra na duquesa — o que tem sido classificado como "injusto", "sexista" ou "racista" por alguns analistas.

De outro lado, parte da sociedade britânica lamenta a decisão, mas a vê como acertada. Para estes, Harry e Meghan são vítimas de sensacionalismo e mentiras e fizeram bem em deixar os holofotes para cuidarem de suas vidas — e da criação do pequeno Archie, nascido em maio de 2019.

Cobertura

O principal destaque vem sendo dado pelos tabloides, jornais conhecidos pela linguagem exagerada e muitas vezes sensacionalista. Lidos por grande parte dos ingleses, os tabloides costumam ser um bom termômetro para a temperatura do debate público em torno de temas polêmicos.

O Daily Mail, na quinta-feira (09), acusou o casal de abandonar "dramaticamente a linha de frente real sem avisar a rainha Elizabeth, o príncipe Charles ou o príncipe William".

A manchete diz: "Rainha em fúria após Harry e Meghan dizerem: 'Estamos fora'".

Outro tabloide conhecido, o The Sun, destacou um termo que vem ganhando força no país: "Megxit" — um trocadilho com "Brexit", mas substituindo o radical "Brit", de Grã-Bretanha, por Meg, de Meghan.

A relação entre o casal e os tabloides vem se deteriorando desde o casamento real, em 2019. Em outubro do ano passado, o príncipe Harry abriu um processo judicial contra os proprietários do The Sun, do extinto News of the World e do Daily Mirror os acusando de supostos grampos telefônicos e invasão de privacidade.

Na ação, o príncipe Harry diz que o jornal participou de uma suposta interceptação ilegal de mensagens de correio de voz, segundo o Palácio de Buckingham.

Na capa que destacou o caso, o tabloide diz que a decisão gerou uma "guerra civil" na família real.

De outro lado, a cobertura dos jornais mais tradicionais foi mais comedida.

Uma foto da dupla ocupou boa parte da capa do The Times, que trouxe a seguinte manchete: "Harry e Meghan deixam seus papéis em meio a divisão no Palácio".

Na capa do jornal The Independent, o casal real dividiu espaço com o noticiário sobre o Irã. "Harry e Meghan deixam a família", dizia a chamada principal.

Por último, o Guardian dedicou quase a capa inteira aos dois, citando trechos da postagem do casal no Instagram.

"Harry e Meghan prestes a deixar posição sênior na realeza."

Mas, além das capas, qual é o clima do debate?

Todos os olhos em Meghan

Ambos têm sido alvo de palavras duras que vão desde "egoístas" até "precipitados" ou "atrozes".

Meghan, pessoalmente, tornou-se alvo de boa parte dos ataques e é acusada de ser responsável pela saída de Harry da linha de frente da família e pelo afastamento entre os dois irmãos.

Até os apoiadores do Brexit se posicionaram contra a ex-atriz — e de maneira agressiva.

Compartilhada pela conta oficial no Twitter do Brexit, o @LeaveEUOfficial, mostra uma montagem de Meghan segurando um cabresto e pisando com salto alto em Harry.

A imagem é acompanhada por uma frase particularmente ofensiva na qual o príncipe Harry é rotulado como "de coração fraco".

A publicação foi duramente criticada por parte dos usuários da rede — incluindo apoiadores do Brexit, que a classificaram como de mau gosto.

Nos Estados Unidos, a escritora Afua Hirsch, colunista do New York Times, diz que as críticas centradas em Meghan podem ser explicadas com uma palavra: "racismo".

Para ela, "o aparente projeto da imprensa britânica de perseguir Meghan foi bem-sucedido — mas a parte que talvez não fosse esperada foi a perda do príncipe Harry junto com ela".

Na avaliação da colunista, a imprensa e a opinião pública foram muito mais duros com Meghan, de origem negra, do que com Kate Middleton, esposa do príncipe William, que é branca.

A polêmica levou uma usuária do Twitter a escrever que está com "vergonha de ser britânica" por causa do "tratamento à primeira pessoa não branca a entrar na família real".

Mas nem todo mundo pensa como ela. "Nós demos as boas-vindas a Meghan com todo o amor e isso não tem nada a ver com raça" disse outro usuário.

Há poucos meses, o jornalista da BBC Andrey Kozenko falou sobre uma virada no tratamento destinado a Meghan.

"Os tabloides britânicos receberam Meghan há dois anos com simpatia, e agora a atacam a todo o momento", disse.

"Julgam-na por tudo", ela acrescenta, "desde as reformas caras feitas em sua casa, até sua aparência, seu comportamento em eventos sociais e suas declarações públicas".

Que dizem os analistas da realeza?

O repórter da BBC para assuntos da realeza, Jonny Dymond, disse que por trás da decisão de se afastarem do núcleo duro da família real estava o fato de que o casal "simplesmente não suportava" grande parte do trabalho da família real que desempenhava.

Dymond classifica como injusto culpar Meghan pelo afastamento.

Segundo Dymond, "ambos pareciam ganhar vida em seus encontros com as multidões, mas Harry odiava as câmeras e ficava claramente entediado pelos cerimoniais".

"O caminho de Harry na família real sempre foi difícil", disse Dymond. Segundo ele, à diferença do irmão mais velho, Harry não se acostumou com o assédio da imprensa e visivelmente se incomodava quando exposto ao escrutínio das câmeras.

"Resumindo, há muito tempo ele queria sair. Agora, junto com a mulher que ama, ele parece ter encontrado o caminho."

Nos últimos meses, ambos fizeram diversas críticas à forma como a imprensa se referiu a suas vidas pessoais.

Ao falar da morte inesperada de sua mãe, a princesa Diana, em 1997, Harry disse:

"Já vi o que acontece quando alguém que amo é tão mercantilizado ao ponto de não ser tratado ou visto como uma pessoa de verdade."

Para Jonny Dymond, da BBC, "há claramente um abismo relevante entre Harry e Meghan, por um lado, e o resto da família real, por outro", afirmou o jornalista.

BBC News Brasil
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