Filho de Tim Maia, Léo Maia relembra morte do pai: 'Quase fui junto'
'Fiquei tão mal que vomitava sangue', diz cantor
Vinte anos se passaram desde que Léo Maia, 44, descobriu pela televisão a morte de seu pai. Era o fim dos conselhos sagazes, das sacadas ácidas, da cobrança frente aos estudos e aos valores morais, de uma parceria entre pai e filho que misturava loucura e sensatez.
De passeios pela praia a voltinhas por bordéis do Rio de Janeiro, o filho de Tim Maia e de Maria de Jesus Gomes da Silva, a Geisa, resgata memórias que tem com o pai e diz que ele era um grande amigo. “Foi um cara incrível que me ensinou a soltar pipa e jogava bola comigo.”
Léo diz que quando tinha sete anos pediu ao pai para que lhe ensinasse a tocar violão. Tim disse que a primeira aula seria sobre humildade, e que o filho deveria varrer o chão do estúdio, porque o local de trabalho deve estar sempre limpo.
“Varri o chão e aprendi a tocar violão”, recorda Léo, que estreou com a música “Sossego”, de apenas um acorde. O pai, bastante direto, disse ao garoto que se ele não conseguisse tocar essa música, não conseguiria tocar mais nada.
O cantor e compositor lembra de ir sempre à praia da Reserva, no Recreio, onde ficava horas com o pai tomando sorvete.”Falava para o vendedor dar uma volta e deixar a caixa lá. A gente chupava picolé até doer o cérebro. Ele tinha um Fiat 147 e me colocava no colo para dirigir e me emprestava o carro para aprender.”
Aos 13 anos, Léo já era o piloto oficial do pai e chegou a levá-lo para casa diversas vezes após os shows. Quando Tim não estava bem para dirigir, apenas lhe estendia a mão com as chaves do carro e mandava o adolescente conduzir o veículo. “Isso não é recomendado, mas os Maias não são recomendados”, diverte-se.
O senso de justiça e a caridade foram as grandes qualidades de Tim Maia, segundo Léo. Diz que gostaria de ter podido lhe apresentar os filhos, Jorge Maia, 14, e Bento Maia, 6, frutos do relacionamento com a mulher, Luciana Palhares.
O intérprete de “Revanche” diz ainda que sente falta de ter mostrado ao pai que virou um artista, “que mesmo humilde, é alguém que tem respeito das pessoas”.
AQUELE 15 DE MARÇO
Tim Maia morreu aos 55 anos de choque séptico (colapso do organismo causado por infecção generalizada) em 15 de março de 1998 no hospital Universitário Antônio Pedro, em Niterói, região metropolitana do Rio. Ele estava internado desde o dia 8, quando se sentiu mal durante a gravação de um show no Teatro Municipal da cidade.
No anúncio da morte, Léo estava em Campos, no Rio, na faculdade. Ele cursava direito, mesmo a contragosto, porque Tim fazia questão de que o garoto estudasse. “Fiquei tão mal que eu vomitava sangue e tive gastrite hemorrágica. Quase que vou junto. Fiquei maluco. Tranquei a faculdade e fiquei um ano dormindo no estúdio do meu pai, com três cachorros. Até hoje, para mim, é complicado.”
Léo afirma que Tim Maia não era apenas um gordinho maluco que fazia sucesso por aí. Era o cara que o obrigava a estudar, que o fez trabalhar aos 14 anos para comprar os próprios ingressos de cinema e que lhe ensinou que é preciso ser humilde sempre. “As pessoas têm que entender que meu pai não é o Tim Maia. Meu pai é o Sebastião Rodrigues Maia, que foi coroinha, que exigia a benção quando entrava em casa. Meu pai teve a criação de dona Maria Imaculada e seu Altivo Maia, meus avós, que eram pessoas católicas fervorosas.”
Diz que se orgulha da influência do pai e da banda Vitória Régia em sua educação musical e que aprendeu diversas malandragens da música com o pai. Uma delas foi que o sinal do telefone tem o mesmo som da nota musical lá.
Porém, quando o som não ficava bom, lá vinha bronca: “Você tá de sacanagem. Não é possível que você não está vendo que isso está desafinado. Você não vai ficar me perturbando com esse blém blém blém”.lembra Léo, ao imitar a voz de Tim.
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