"Vivemos uma tendência imunda de copiar o que vem de fora do Brasil. Muito disso se deve ao fato de não termos memória de moda. Poucos estilistas reconhecem o que é original."

A frase é de Bethy Lagardère, musa de estilistas franceses como Yves Saint Laurent (1936-2008) e Guy Laroche (1921-1989) nos anos 1970 e que decidiu leiloar cerca de 700 peças de seu acervo pessoal para a construção de um museu de moda em Belo Horizonte, sua cidade natal.

Radicada na França --ela é viúva do bilionário das comunicações Jean-Luc Lagardère, morto em 2003--, a socialite expõe, até amanhã, no Atlântica Business Center, no Rio, os três lotes com os itens que serão vendidos de segunda, 2, a quarta-feira, 4.

Entre as peças, uma bolsa desenhada por John Galliano, ex-estilista da grife Dior, que reproduz a bandeira do Brasil, cujo lance mínimo é de R$ 6.200.

Sob encomenda também, é o casaco que Lagardère pediu para o amigo Jean Paul Gaultier confeccionar, assim como vestidos do italiano Roberto Cavalli. Além das roupas, joias, sapatos e móveis serão leiloados.

"A venda dessas peças dói em mim. Mas há pouca preservação de moda no Brasil e os museus que existem são fraquíssimos. Nenhum criador consegue armazenar sua história. Muita coisa de estilistas brasileiros importantes, como Dener [1937-1978] e Clodovil [1937-2009], se perdeu por falta de cuidados", diz.

"Parte da nossa história pode ser contada por meio de roupas", completa.

Não há previsão de lançamento do museu idealizado por Lagardère, "pretensiosamente criado para ser internacional".

O espaço será construído no Circuito Cultural Praça da Liberdade, complexo que abriga diversos museus na capital mineira.

O restante do guarda-roupa da socialite, que inclui peças emblemáticas do francês Yves Saint Laurent e de diversos outros estilistas consagrados da moda mundial, servirá de acervo para o museu.