Celebridades

Discos da fase psicodélica de Ronnie Von são relançados como cult e experimentais

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O disco fracassou? Viva o disco fracassado! Longe de ser uma regra, não é raro ver essa lógica aplicada na música pop: discos mal recebidos por crítica e público e que anos mais tarde são redescobertos têm sua importância reavaliada e se tornam "cult".

De Lou Reed ("Metal Machine Music", 1975) a Nick Drake ("Pink Moon", 1972), passando por Tom Zé, os exemplos são muitos.

Ronnie Von, 69, é um entendido desse riscado.

"Foi um fiasco desses antológicos. Disseram que era o fim da minha carreira", contou ele à Folha, sobre os discos "Ronnie Von", de 1968, "A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais", de 1969, e "A Máquina Voadora", de 1970.

Relançados em vinil, os títulos estavam fora de catálogo desde os anos 1970. Nesse meio tempo, se tornaram item de colecionador -edições originais podem custar US$ 300 (cerca R$ 690) em sites como o eBay.

O motivo que explica o renascimento dos álbuns é o mesmo que serviu para decretar seu fracasso: ousadia.

Musicalmente, a trilogia era alicerçada em psicodelia (um conceito distante para jurados de Flavio Cavalcanti, que apresentava o principal programa de calouros da época), muito colada em "Revolver" (1966), dos Beatles, e "If Only for a Moment", do grupo britânico Blossom Toes.

Nas letras, havia anjos que andavam de bicicleta no céu e viagens em naves fenícias. Junto disso, arranjos que juntavam guitarras elétricas e orquestrações vertiginosas.

"Acho que ele queria, sobretudo, romper de vez a rivalidade com Roberto Carlos", disse Alberto Sacomani, produtor dos três discos.

Crédito: Karime Xavier/Folhapress O cantor Ronnie Von no jardim de sua casa, em São Paulo
O cantor Ronnie Von no jardim de sua casa, em São Paulo

À época, "rei" e "príncipe", como eram chamados, apresentavam cada um seus programas de TV. De um lado, os bambas do iê-iê-iê, do outro, Ronnie e os tropicalistas.

O distanciamento se completou com esses discos. Enquanto Roberto Carlos cantava "é ciúme, ciúme de você", Ronnie Von ia de "pois amanhã vamos pra rua fazer/ fazer uma tremenda anarquia".

"Público, gravadora, rádios: ninguém entendeu nada", disse ele, que até hoje jura ter gravado toda aquela loucura de cara limpa.

"Ficávamos do meio-dia às cinco da manhã no estúdio. O esquema dos arranjos era criou-gravou, não tinha isso de pré-produção. A gente era meio inconsequente", contou rindo Sacomani.

O primeiro disco da trilogia, aliás, foi gravado durante um mês em que a gravadora esteve sem diretor. Tremenda anarquia.

André Midani, o novo chefe, bancou o arroubo a despeito das vendas pífias e dos custos de gravação.

No detalhe, os discos representavam também a aproximação definitiva entre Ronnie Von e os tropicalistas, com quem ele já gravara dois discos -com os Mutantes e com Caetano Veloso.

Damiano Cozzela, parceiro de Rogério Duprat (1932-2006) e Julio Medaglia, arquitetos de importantes arranjos da Tropicália, se encarregou de "transformar em música os quadros de Salvador Dalí" com suas orquestrações, segundo Ronnie.

Antes de afundar a própria carreira, o cantor voltou às paradas com músicas mais palatáveis como "Banda da Ilusão" (1973).

Ficou um arrependimento. "A verdade é que eu não deveria ter me afastado da Tropicália. Foi coisa de gravadora, gente dizendo 'ah, isso aí não dura muito'. Mas acho que foi uma ousadia que dá orgulho", diz.

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