Celebridades

Ator de "Contágio", Jude Law acredita em futura pandemia global

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jude Law está com medo. Após filmar "Contágio", que estreou no Brasil em outubro, o ator londrino vive com a certeza de que, em no máximo 20 anos, um vírus letal provocará uma pandemia global que dizimará parte da humanidade.

Essa é a história do filme, de Steven Soderbergh. Mas Law jura que seu temor não é peça de propaganda. Diz que se convenceu após conversar com infectologistas durante as filmagens do longa.

"Todos devemos ficar assustados. É como viver num país que tem terremotos, furacões, ondas gigantes. Não há como não acontecer essa pandemia. É uma resposta da natureza. Nós todos, como espécie, devemos assumir que bagunçamos com a natureza", afirma o ator, em tom de discurso que ressalta seu lado verde, o mesmo que faz campanha para que os governos tomem medidas contra o aquecimento global.

Law diz que, mais que o vírus, teme a reação da sociedade. "Segundo os especialistas, é como o filme mostra. As pessoas entram em pânico, perdem os valores morais e só pensam em sobreviver. Ainda que para isso tenham de roubar, saquear, atacar os outros."

Crédito: Brigitte Lacombe/Folhapress O ator Jude Law, estrela do filme "Contágio", de Steven Soderbergh, e "360", de Fernando Meirelles
Ator Jude Law (foto) integra elenco do filme "Contágio", de Steven Soderbergh, e de "360", de Fernando Meirelles

"Contágio" é um pesadelo para os hipocondríacos, com um vírus desconhecido infectando e matando quem encontra pelo caminho. Questiono o ator se ele mudou seus hábitos após filmá-lo, se passou a lavar as mãos com mais frequência. "Não, mas vacinei meus filhos. Eles tinham tomado as básicas. Ouvia de alguns médicos que os reforços e aquelas não obrigatórias deveriam ser deixados de lado. Agora, não quero saber disso. Levei todos para tomar as vacinas possíveis."

O ator conversou com Serafina no hotel Claridges, no centro de Londres.

Apesar de o local ser aquecido, ele manteve um pesado casaco de lã e um chapéu preto, que o acompanha nos últimos tempos, talvez para esconder as "entradas" que insistem em avançar em sua cabeça.

FUGA DE LONDRES

Não é só quando menciona as vacinas que lembra dos filhos, duas meninas e dois meninos. Aos 38 anos e com relações extraconjugais exploradas pelos tabloides, gosta da imagem de homem de família. Fala com carinho dos rebentos e também dos pais, que moram no interior da França.

Nascido (em 29 de dezembro de 1972) e criado em Londres, Law agora quer mudar para o interior. Diz que as pessoas nas cidades grandes estão perdendo a noção de civilidade.
"Vou pegar meus filhos e viver longe dos grandes centros, dessa vida frenética", afirma.

Uma das poucas coisas que parecem não amedrontar o ator é trabalho. Nisso, é compulsivo.

Além de "Contágio", está em "360", filme do brasileiro Fernando Meirelles, e logo será lançada a sequência de "Sherlock Homes", de Guy Ritchie, em que interpreta Doctor Watson. Neste ano, fez também uma peça em Londres, "Anna Christie", de Eugene O'Neill. O espetáculo foi recebido com entusiasmo pela crítica. Agora, ele conversa com um dramaturgo contemporâneo para um outro projeto futuro no palco.

No filme de Meirelles, vive um executivo londrino que, em crise no casamento, procura uma prostituta eslovaca em Viena. É flagrado, acaba chantageado e é obrigado a fechar um negócio menos interessante para sua empresa.

"360" e "Contágio" tratam, de formas muito diferentes, de globalização e de como um simples ato afeta a vida de pessoas em lugares distantes.

"Foi curioso ter feito os dois longas quase ao mesmo tempo. São dois filmes com múltiplas histórias, e ambos os diretores são muito respeitosos, muito calmos, muito generosos com os atores. Concordo piamente com a mensagem dos filmes: um ato aqui pode afetar alguém em qualquer lugar."

Law diz sentir uma grande responsabilidade por ser famoso e influenciar pessoas ao redor do mundo. "Você tem que tomar cuidado com quem se associa, o que diz e principalmente que trabalhos fazer, que mensagem vai passar. É a mesma responsabilidade que deve ter um blogueiro, um jornalista. É preciso deixar claro que uma opinião não é 'A' opinião."

ESCUTAS ILEGAIS

Nesse momento, envereda por um dos temas que mais o incomoda: a mídia irresponsável. Ele é uma das vítimas das escutas ilegais do tabloide britânico "News of the World", que fechou em julho deste ano. Repórteres do jornal ouviam as caixas de mensagens dos telefones de celebridades em busca de informações exclusivas.

Law está processando o "News of the World" e não pode falar muito sobre o escândalo. Mas não se contém. "Eu não sou um tolo e não odeio todos os jornalistas. Gosto de ser informado, compro jornais, leio notícias na internet. Há jornalistas bons que escrevem textos excelentes. Mas há também apetite por um jornalismo preguiçoso, mal-intencionado, que afeta minha vida. Eu realmente sofri com isso. Como posso ter uma relação só positiva com a imprensa, quando vi mentiras colocadas na minha boca?"

Por ironia, em "Contágio", ele interpreta um blogueiro/jornalista que, por um lado, contesta as autoridades, que escondem a pandemia. Por outro, tenta lucrar com ela. "O personagem é uma fera de duas cabeças. É responsável, alguém que apresenta denúncias --o que a mídia deveria ser. Ao mesmo tempo, é vingativo, arma esquemas, publica fofocas --tudo o que a mídia não deveria ser."

O ator quis criar um personagem que não fosse nem vilão nem herói, diz, para as pessoas decidirem se ele é bom ou ruim.

Na hora de botar a criatura em cena, porém, deve ter pesado o trauma com jornalistas. Alan, o blogueiro ficcional, anda de forma estranha, e o ator usa um aplique nos dentes, para parecerem estragados. "Ele ficou um pouco com aparência de animal. Um réptil".

Um tipo que, pelo jeito, provocaria medo no ator.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias