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Descrição de chapéu BBC News Brasil

O país onde você pode ser preso por passear na rua com seu cachorro

Os cães são vistos como 'impuros' pelas autoridades islâmicas, mas a posse deles está aumentando como uma forma de rebelião silenciosa

País proíbe passeio com cães - Getty Images
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Jessica Rawnsley Parham Ghobadi
BBC News Brasil

Autoridades do Irã ampliaram a proibição de passeios com cães para algumas cidades do país, citando preocupações com a ordem pública e com a saúde e segurança.

A proibição -que reflete uma ordem policial de 2019 que proibia passear com cães na capital, Teerã- foi estendida a pelo menos outras 18 cidades na semana passada. O transporte de cães em veículos também foi proibido.

A posse de cães é desencorajada no Irã desde a Revolução Islâmica de 1979 -sendo os cães vistos como "impuros" pelas autoridades e um legado da influência cultural do Ocidente.

Mas, apesar dos esforços do governo, a posse de cães está aumentando, especialmente entre os jovens, e é vista como uma forma de rebelião contra o regime restritivo iraniano.

Cidades como Isfahan e Kerman impuseram proibições nos últimos dias, de acordo com a agência de notícias AFP.

Uma autoridade da cidade de Ilam, no oeste do país, onde uma proibição foi implementada no domingo (8), disse que "ações legais" seriam tomadas contra pessoas que violassem as novas regras, de acordo com a imprensa local.

No entanto, a aplicação de restrições no passado foi irregular. Muitos donos de cães continuam passeando com seus cães em público em Teerã e outras partes do Irã.

Não há nenhuma lei nacional que proíba completamente a posse de cães, mas os promotores geralmente emitem restrições locais que são aplicadas pela polícia.

Em algumas situações, donos são presos e cães são tomados de seus donos.

"Passear com cães é uma ameaça à saúde pública, à paz e ao conforto", disse Abbas Najafi, promotor da cidade ocidental de Hamedan, ao jornal estatal Iran.

Muitos começaram a passear com seus cães em áreas isoladas à noite ou a levá-los para passear em veículos para não serem detectados.

Políticos no regime islâmico consideram a posse de animais de estimação anti-islâmica. Muitos estudiosos religiosos consideram acariciar cães ou entrar em contato com sua saliva como "najis", ou ritualmente impuro.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, já descreveu a posse de cães -exceto para fins de pastoreio, caça e segurança- como "repreensível".

Em 2021, 75 legisladores condenaram a posse de cães como um "problema social destrutivo" que poderia "mudar gradualmente o modo de vida iraniano e islâmico".

O Ministério da Cultura e Orientação Islâmica do Irã proibiu anúncios de animais de estimação ou produtos relacionados a animais de estimação em 2010 -e em 2014 houve uma iniciativa no parlamento para multar e até mesmo açoitar quem passeava com cães, embora o projeto de lei não tenha sido aprovado.

Após a recente repressão, os críticos argumentam que a polícia deveria se concentrar na segurança pública em um momento de crescente preocupação com crimes violentos, em vez de atacar donos de cães e restringir as liberdades pessoais.

Ter cães, desafiar as leis obrigatórias do hijab no Irã, frequentar festas clandestinas e beber álcool são há muito tempo formas de rebelião contra o regime teocrático do Irã.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

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