Cães e gatos sofrem tanto quanto humanos com a poluição urbana
Pets precisam de cuidados especiais e devem evitar
A poluição urbana é um problema de saúde pública que gera medidas drásticas dos governos para diminuir as emissões de gases tóxicos. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 7 milhões de pessoas morrem mais cedo no mundo devido a complicações ligadas aos poluentes nas cidades.
Poucos se interessam, porém, aos efeitos sobre os animais domésticos –que, como o homem, respiram cotidianamente o mesmo ar contaminado das metrópoles. Cães, gatos, coelhos –mamíferos que, como os humanos, sofrem com os efeitos das partículas finas e óxido de azoto, os principais gases que, a longo prazo, provocam ou agravam doenças respiratórias, além de favorecer a aparição de cânceres e tumores, além de causar a morte precoce.
Os estudos sobre o tema são raros, a começar pelo fato de que não existe uma instituição que acompanhe o que seria um equivalente à “saúde pública” dos animais. Na Europa, por exemplo, não há estatísticas objetivas sobre o aumento da mortalidade ou das doenças nos bichos de estimação.
O que existe é apenas a constatação cotidiana dos veterinários mais experientes, como observa Martine Kammerer, diretora do Centro de Antídodos Animais e Ambientais e professora da Escola Nacional Veterinária de Nantes, na França.
“Infelizmente podemos dizer que não há dados. Para os homens, temos estudos epidemiológicos complexos, com organismos de acompanhamento detalhados. Mas na medicina veterinária, tudo que podemos afirmar sobre a poluição é muito aproximativo e em teoria”, constata a pesquisadora. “Isso vale para o mundo todo: nos Estados Unidos também não há mais dados.”
GATOS COM ASMA E CÃES COM EXPOSIÇÃO DIRETA A POLUENTES
Gatos, que possuem tendência a desenvolver asma alérgica, são bastante vulneráveis às micropartículas –ainda mais nos dias quentes, quando a concentração do poluente aumenta no ar. Já os cães, que frequentam mais a rua com seus donos, estão sujeitos à exposição direta dos escapamentos dos carros– que ficam bem na altura dos seus focinhos. Nos dois casos, os filhotes e os animais idosos são os mais suscetíveis, a exemplo do que também ocorre com os humanos.
Como a preocupação com o bem-estar animal é um tema em ascensão, os cuidados para diminuir a exposição dos animais domésticos tendem a se amplificar. Uma medida simples é observar se o animal respira com dificuldade durante as caminhadas na rua, e respeitar os seus limites se ele demonstra cansaço. O aumento dos casos de insuficiência respiratória é um sinal deste mal urbano.
“Felizmente, ainda não precisamos colocar máscaras nos cães na hora do passeio, mas podemos nos esforçar para levá-los em parques arborizados, para respirar um ar mais puro. Também podemos preferir os horários de menor exposição aos poluentes, como o amanhecer ou tarde da noite, ou seja, fora dos horários de pico dos automóveis e, principalmente, evitando os congestionamentos”, explica Kammerer. “O passeio não é só para caminhar: é para respirar melhor.”
ANIMAIS: TERMÔMETROS DE MAZELAS PARA O HOMEM
Ao longo da história, o comportamento da fauna funciona como um termômetro para situações perigosas ao homem, como mostra o desaparecimento das abelhas devido ao uso abusivo de agrotóxicos.
O exemplo recente mais marcante talvez seja o dos animais silvestres que “previram” a ocorrência do violento tsunami no sudeste asiático em 2004 e se refugiaram nas colinas antes da chegada da onda devastadora, que matou mais de 220 mil pessoas.
A sensibilidade dos bichos à poluição atmosférica é diferente da do homem, mas a análise sobre os efeitos de diferentes componentes químicos nos animais – e as consequências similares que podem existir nos humanos – é uma das bases da ciência. Por isso, aprofundar os estudos a respeito do impacto da poluição nos animais urbanos pode revelar informações preciosas para antecipar consequências no homem.
É importante também não negligenciar a poluição interna. “Os gatos domésticos, que não saem de casa, são amostras da poluição que temos em casa, em especial os produtos químicos que exalam dos materiais de construção e de limpeza, dos carpetes, das cortinas –os chamados perturbadores endócrinos”, ressalta a pesquisadora francesa.
“Os gatos, me parece, têm cada vez mais problemas de tireoide, típicos desse tipo de poluentes. Essa relação é uma hipótese que está sendo explorada por muitos pesquisadores.”
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