Você viu?
Descrição de chapéu

Sexo, amor e imortalidade: o que explica nossa obsessão por vampiros

Mark Gatiss, da série da BBC 'Dracula', e Rolin Jones, de 'Entrevista com o Vampiro' opinam sobre a questão.

Ícone fechar

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Lestat de Lioncourt (interpretado por Sam Reid) e Louis de Pointe du Lac (Jacob Anderson) - BBC/Larry Horricks/AMC Network Entertainment LLC

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Eles são criaturas imortais, sedentas por sangue e se alimentam de seres humanos. Eles têm presas afiadas e aversão ao alho e à luz do sol.

Os vampiros não parecem ser o tipo de herói que costuma atrair simpatia. Ainda assim, eles nos fascinam há séculos.

O primeiro conto em língua inglesa sobre estes monstros foi escrito em 1819: O Vampiro (Ed. Clepsidra, 2020), de John William Polidori (1795-1821).

Outros se seguiram, entre eles Drácula, de Bram Stoker (1847-1912). O livro inspirou o filme mudo Nosferatu (1922), do cineasta alemão F. W. Murnau (1888-1931).

A obra foi refilmada pelo diretor Robert Eggers, estrelada pelos atores Bill Skarsgård, Lily-Rose Depp e Nicholas Hoult. Seu lançamento no Brasil está previsto para janeiro de 2025.

Mas qual o motivo da nossa atração por histórias de vampiros?

A fascinação do escritor e ator Mark Gatiss começou cedo. Um dos roteiristas das séries da BBC Sherlock (2010-2017) e Drácula (2020), ele conta que é "obcecado pelo terror" desde que se conhece por gente.

Sua paixão de infância por histórias assustadoras fez com que Gatiss interpretasse Drácula em uma produção de áudio. Ele depois produziu um documentário sobre o monstro e uma série para a BBC, que mostra as aventuras do conde em Londres, interpretado por Claes Bang.

Para ele, a oportunidade de trazer à vida o emblemático vampiro de Stoker parecia "boa demais para ser verdade".

"Como Sherlock Holmes, ele é um mito imortal e, de fato, se alguém oferecer a chance de produzi-lo - você tem que fazer", ele conta.

Claes Bang como Dracula limpando a boca - BBC/Hartswood Films/Netflix/Robert Viglasky

Rolin Jones é roteirista e produtor executivo da adaptação para a TV de Entrevista com o Vampiro (2022-2024). A série é baseada na coleção de romances da escritora americana Anne Rice (1941-2021).

Nela, o vampiro Louis de Pointe du Lac (interpretado por Jacob Anderson) conta a um jornalista a história de sua vida e do seu relacionamento com Lestat de Lioncourt (Sam Reid). No Brasil, Entrevista com o Vampiro de Anne Rice está disponível na Amazon Prime Vídeo.

Jones explica que as histórias de vampiros "vão e vêm com frequência" porque "elas causam sensações fortes e apavoram as pessoas". Muitas delas levantam questões sobre a imortalidade, o amor e a morte.

Podemos observar a popularidade atual destas figuras nas redes sociais. A hashtag #vampire, por exemplo, tem 2,7 milhões de postagens no TikTok.

Jones destaca que, todos os dias, ele observa mais pessoas tatuando no corpo os rostos dos personagens. Para ele, "este é um grupo de fãs fanáticos".

Atores da série de TV 'Entrevista com o Vampiro de Anne Rice'. - BBC/AMC Network Entertainment LLC

'Quase morri de susto'

As características dos vampiros da ficção mudaram ao longo da história. Alguns queimam até torrar na luz do sol, enquanto outros ficaram famosos pela sua pele cintilante, por exemplo.

Mas todos eles têm um ponto em comum: a imortalidade.

A professora Sam George, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, leciona sobre os vampiros da ficção.

Ela explica que esses monstros fazem sucesso por tanto tempo, em parte, porque eles "nos fazem pensar nas grandes questões que nos preocupam, as ideias sobre o envelhecimento" e "o que acontece além do túmulo".

George destaca que "o vampiro sempre teve forte relação com as doenças contagiosas". Para ela, se examinarmos a história, podemos ver que o nosso interesse pelo monstro imortal parece ser exacerbado em tempos de doenças em massa.

"Quando surgiu o primeiro vampiro da ficção, em 1819, havia uma forte relação com a tuberculose", ela conta.

Max Schreck como Nosferatu em filme de 1922 - Getty Images

George explica que o filme mudo Nosferatu, de 1922, é baseado em um personagem famoso pelos ratos portadores da peste que o acompanhavam. O filme foi lançado pouco depois da pandemia de gripe espanhola.

A professora ressalta que isso "é muito importante para explicar por que os vampiros são tão populares agora, se você analisar Nosferatu e sua relação com a peste e pensar que, depois da covid, estamos tão interessados nos vampiros como fontes de contágio".

Rolin Jones acrescenta que, para ele, um ponto de interesse fundamental é descobrir por que os vampiros querem continuar vivendo. Para ele, "a mortalidade está presente em qualquer drama e isso é muito interessante".

Ele destaca que a própria Anne Rice escreveu o romance depois de perder sua filha e este sentimento de "luto e pesar" é "excepcionalmente bem articulado" no livro.

Sedutores

Assad Zaman, que interpreta o vampiro Armand e Jacob Anderson, que interpreta Louis de Pointe du Lac - BBC/Larry Horricks/AMC Network Entertainment LLC

Os vampiros podem fazer despertar nossos medos da morte e da nossa mortalidade, mas Jones ressalta que existe algo mais que nos atrai nestes personagens de dentes compridos.

"Eles são os monstros mais sexy, mais sensuais que existem", segundo ele. "Eles seduzem você."

Sam George concorda. Ela explica que "os vampiros ficaram mais jovens e atraentes ao longo dos anos", relembrando a diferença entre Nosferatu e Edward Cullen, da saga Crepúsculo (2008-2012), interpretado por Robert Pattinson.

A professora destaca que a forma em que as pessoas leem histórias de ficção sobre vampiros "mudou". Ela explica que houve um aumento do interesse pelo tema da sexualidade dos vampiros, como a "família queer" apresentada no romance de Rice.

A combinação entre o amor e a imortalidade, segundo George, também aparece no filme Drácula de Bram Stoker (1992), de Francis Ford Coppola. Seu slogan era "o amor nunca morre".

Para George, a "sensação de que o vampiro pode abordar uma série de questões de uma vez", do amor até a morte, é o motivo que explica por que este personagem permanece tão popular até os dias de hoje.