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'A Raposa': BBC lança podcast sobre brasileiros que levaram sem saber 1 tonelada de cocaína dentro de barco

Três velejadores brasileiros inocentes foram presos por tráfico de drogas

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Daniel postou foto com Fox agradecendo a oportunidade - Daniel Guerra via BBC News Brasil

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Em 2017, três velejadores brasileiros inocentes foram presos por tráfico de drogas a quase 3 mil quilômetros de casa, em Cabo Verde, em um chocante erro judiciário.

Enquanto isso, o britânico suspeito de planejar e executar o crime desapareceu do radar da polícia.

Sete anos depois, uma investigação da BBC acabou localizando o suspeito-chave dessa trama, conhecido como "Fox" ("Raposa", em português)

Essa história, que já podia ser vista em um documentário (assista aqui), agora pode ser ouvida no novo podcast narrativo da BBC News Brasil, A Raposa. Serão cinco episódios, lançados toda segunda-feira.

Como parte da investigação, a repórter Cristine Kist foi a três continentes, passando por uma ensolarada marina no Brasil, um presídio em Cabo Verde e um estacionamento de hotel na Inglaterra.

O primeiro episódio, Marinheiros de Primeira Viagem, já está disponível, como parte da série BBC Investiga.

A Raposa é uma parceria da BBC News Brasil e do BBC Africa Eye, premiada unidade investigativa do BBC World Service.

A HISTÓRIA

O início dessa história começa com um anúncio na internet que dizia que o proprietário de um iate britânico chamado Rich Harvest procurava ajudantes de convés para levar seu barco do Brasil para a Europa —uma das grandes viagens oceânicas do mundo.

Não haveria salário, mas todas as despesas seriam pagas e, o que era ainda mais importante, os jovens velejadores acumulariam milhas e parte da experiência necessária para alcançar seu maior objetivo.

"O meu sonho na época era me tornar capitão de barcos e ir trabalhar na Europa", lembra Daniel Guerra, hoje com 43 anos. Daniel aceitou a missão junto a outros três tripulantes.

O dono do Rich Harvest era George Saul, uma figura sorridente e simpática, pouco afeita às formalidades. Os velejadores, segundo ele, podiam até chamá-lo pelo seu apelido: "Fox".

Fox veio até o Brasil conhecer a tripulação (e suas famílias), mas voltou à Europa de avião, antes de o barco navegar pelo oceano Atlântico.

No último porto antes de partir do Brasil, a polícia em Natal (RN) passou cerca de seis horas procurando drogas no iate, com a ajuda de um cão farejador.

No entanto, eles não encontraram nada. Naquele momento, os velejadores brasileiros pensaram que se tratava apenas de uma verificação de rotina. Eles já tinham ouvido falar de cocaína plantada em barcos e agora, pelo menos, imaginavam que estava tudo limpo.

Após duas semanas de viagem, o veleiro apresentou problemas no motor, obrigando-os a parar em Cabo Verde.

Mas os policiais cabo-verdianos foram mais meticulosos do que os seus colegas brasileiros, usando equipamentos especiais para cortar e expor o interior do barco.

Escondida debaixo de fundos falsos, eles encontraram cerca de 1,2 tonelada de cocaína - com valor estimado em £100 milhões (mais de R$ 700 milhões) pelo preço de mercado praticado nas ruas da Europa.

Foi uma das maiores operações de apreensão de droga de Cabo Verde.

Os brasileiros foram detidos e levados para a prisão. Em março de 2018, a tripulação foi a julgamento em Cabo Verde.

Durante o julgamento, eles argumentaram ser totalmente inocentes. Os acusados insistiram que nunca tinham ouvido falar de Rich Harvest ou de seu dono até responderem ao anúncio de emprego.

Apesar disso, eles foram condenados a dez anos de prisão cada um.

Em 2019, a Justiça de Cabo Verde anulou as condenações, e os brasileiros finalmente puderam voltar para casa.

Fox, por sua vez, voltou para o Reino Unido e nunca foi julgado.

Esta reportagem foi originalmente publicada aqui.