A grade curricular é muito parecida com o que se poderia esperar de um curso de graduação em literatura em língua inglesa, com textos de William Wordsworth, Willa Cather e Samuel Taylor Coleridge. Mas há um nome na lista que pode surpreender os estudiosos em formação: Taylor Swift.

No semestre de primavera, Stephanie Burt, uma professora de inglês da Universidade Harvard, ministrará uma nova disciplina, "Taylor Swift e Seu Mundo". Quase 300 alunos se matricularam.

A disciplina faz parte de uma onda em instituições acadêmicas de todo o país, incluindo a Universidade de Nova York e a Universidade do Texas em Austin. Stanford invocou a música de Swift "All Too Well (Ten Minute Version)" com um curso planejado para o próximo ano intitulado "All Too Well (Ten Week Version)", e a Universidade Estadual do Arizona ofereceu uma disciplina de psicologia sobre o trabalho da cantora.

No próximo ano, a Universidade da Califórnia, Berkeley, planeja oferecer "Arte e Empreendedorismo: Versão de Taylor", e a Universidade da Flórida ensinará aos estudantes de graduação a narrativa de Swift. A descrição do curso da Flórida começa com as palavras "... Ready for it?" —uma alusão à música do álbum "Reputation".

Em uma conversa com o New York Times, Burt, 52 anos, discutiu seu amor pela música de Swift e o que exatamente seus alunos estudarão. A entrevista foi editada e resumida.

Vamos começar com a pergunta principal. Você é uma swiftie [como são conhecidos os fãs da cantora]?
Há uns 10 ou 12 anos, percebi que, de todas as músicas que se ouvia em farmácias, aeroportos, estações de ônibus e lugares públicos, havia uma que era melhor do que as demais. Eu queria saber quem a escreveu. Era uma música mais cativante, tanto em termos líricos quanto musicais, uma peça perfeita de construção. Era "You Belong With Me".

"Fearless" te conquistou!
Descobri que ela tinha muitas outras músicas ótimas. O que me fez realmente pensar nela como uma artista cujo processo e carreira eu queria aprender mais e refletir muito foi quando vi "Miss Americana", o documentário.

O que tem nele?
Ele realmente mostra muito bem o quanto ela teve apoio —ela é alguém que veio de muito privilégio e teve pais que realmente queriam ajudá-la a realizar seus sonhos, o que, sinceramente, eu também tive—, mas também mostra como ela trabalhou para se tornar ela mesma e como se tornou alguém que toma suas próprias decisões de uma maneira que envolve as pessoas e não as aliena. Eu percebo que ela provavelmente poderia fazer menos voos de jato particular.

Você tem uma era favorita?
Varia entre "Red" e "Folklore"/"Evermore".

Vamos falar um pouco sobre o trabalho do curso. O que está na grade curricular?
Cada semana combina uma parte do trabalho dela com uma parte do trabalho de outras pessoas. Estamos lendo dois romances diferentes de Willa Cather. Estamos lendo um romance de James Weldon Johnson sobre um artista performático que tem uma relação muito diferente com sua própria carreira em suas mãos. Estamos lendo um romance contemporâneo de Zan Romanoff sobre o fandom do One Direction.

Vamos ler um pouco de Wordsworth, sendo Wordsworth um poeta do Distrito dos Lagos. Ela canta sobre os poetas do Distrito dos Lagos na Inglaterra. Wordsworth também escreve sobre alguns dos mesmos sentimentos que Taylor canta: decepção em retrospecto e olhar para trás e perceber que você não é mais a criança que era, mesmo que você queira ser.

Quais músicas serão combinadas com esses textos?
Estamos lendo "Work Without Hope" de Coleridge. "Work Without Hope", é claro, sendo a versão de Coleridge de "You’re on Your Own, Kid".

Claro. E quanto aos trabalhos de casa?
Os trabalhos escritos incluirão alguns ensaios acadêmicos convencionalmente argumentados, nos quais o aluno precisa fazer um argumento bem fundamentado com evidências claramente estruturadas em prosa de fácil compreensão. Um deles deve ser sobre um tópico relacionado a Taylor. Um deles deve ser sobre algo mais que lemos para o curso. Portanto, você não pode escrever apenas sobre Taylor Swift e obter uma boa nota.

Haverá uma prova final?
O terceiro dos três trabalhos é a tarefa final. Tenho sentimentos mistos em relação às provas finais porque elas estressam as pessoas. É chato aplicá-las e não é divertido. Por outro lado, os estudantes de Harvard também costumam fazer outras disciplinas que exigem muito tempo deles, especialmente se forem, por exemplo, futuros médicos. Ou eles têm outros compromissos que consomem muito tempo. Se você não fizer algo para garantir que eles sintam que precisam fazer a leitura, às vezes eles, infelizmente, deixam de ler.

Existe alguma chance de uma palestra de convidado da doutora (honoris causa) Taylor Swift?
Eu mandei um tweet para ela e receberia bem a presença dela se ela quiser aparecer, mas ela está bastante ocupada.

Um curso de Harvard sobre Taylor Swift parece propício a detratores. O que você diria às pessoas que podem criticar um assunto como esse como não sério ou não digno de estudo rigoroso?
Este é um curso que inclui muitas pessoas mortas tradicionalmente admiradas que foram ensinadas em departamentos de inglês por muito tempo, que eu não apenas admiro, mas estou ensinando neste curso. O trabalho de Taylor é a espinha dorsal. Se você não aprecia esse corpo de composição de músicas e de performance, isso não é meu problema. Mas eles devem lembrar que literalmente tudo o que ocupa muito tempo em um departamento de inglês moderno foi, em algum momento, uma forma de arte popular de baixo prestígio que você não se incomodaria em estudar, como os sonetos de Shakespeare e, em particular, o surgimento do romance. Posso citar Wordsworth?

Por favor.
'Outros amarão o que amamos e ensinaremos a eles como.' Se você vai ensinar as pessoas a amarem algo que elas veem como obscuro, distante, difícil ou desconhecido, sua melhor chance de fazer isso de forma honesta e eficaz é conectá-lo a algo que as pessoas já gostam.