Teste de fidelidade: sedução virtual vira negócio contra homens infiéis
'Eles caem como patinhos, um atrás do outro', diz modelo sobre trabalho
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Insegurança, ciúmes, intuição… Os motivos que podem fazer surgir uma pulga atrás da orelha quanto à fidelidade do parceiro variam bastante, especialmente em tempos de redes sociais. Seja qual for a razão, ficou mais fácil trair. Mas o que muita gente ainda não percebeu é que o mundo digital também propicia novos -e inteligentes- caminhos para descobrir a traição.
Em uma corrente nascida como um "ato de sororidade", mulheres passaram a fazer testes de fidelidade online para outras mulheres, com o intuito de acabar com dúvidas e desconfianças de uma vez por todas.
Seja no Instagram ou no TikTok, diversos perfis oferecem e divulgam o teste - em bom português, uma bem arquitetada armadilha para ver até que ponto vai a fidelidade de alguém. Homens em relacionamentos heterossexuais são praticamente 100% dos alvos de desconfiança até agora neste mercado incipiente e promissor.
O modus operandi é simples, até um pouco óbvio, e dificilmente deixa de trazer resultados: a exuberante mulher contratada procura o provável traidor nas redes, o chama para conversar e o enche de elogios. Massageia o ego, joga charme. Papo vai, papo vem, sugere um encontro. Touché. Para surpresa e frustração de muitas das contratantes, o "mozão" na maioria das vezes acaba topando.
Carol Lekker, 25, é brasileira, mora em Barcelona, e conta que seu primeiro teste surgiu quando uma amiga, desconfiada, pediu sua ajuda. Carol deixou de segui-la no Instagram (detalhe importantíssimo) e chamou o então namorado dela para conversar, na mesma rede social. "Vi sua foto, gostei da sua energia. A gente deve se conhecer de vidas passadas… Eu acredito em reencarnação", relembra ela sobre a conversa inicial.
O rapaz caiu nessa conversa mole e decidiu marcar um encontro. A partir daí, Lekker encaminhou as mensagens para a amiga e não falou mais com o infiel –assim como faz nos testes até hoje. "Eles caem como patinhos, um atrás do outro. Se a mulher recebe uma mensagem, ela desconfia. O homem pensa que ele é o gatão, gostosão", desdenha.
Ela conta que a "terceirização" dos testes surgiu por indicações de várias amigas, e quando passou a atender pessoas desconhecidas, viu que havia um nicho a ser explorado. Passou então a cobrar de 1.000 a 2.000 euros (cerca de R$ 5.000 a R$ 10 mil) pela tarefa, que costuma durar de dois a quatro dias. "Se for um homem muito 'pra frente' em um dia ele já entrega tudo e marca um encontro."
Lekker sempre dá um confere no perfil do homem antes do teste, e os entraves mais comuns são os perfis fechados e a ausência de perfis em redes sociais. É nessa hora que as mulheres entram em ação para ajudar com informações. Já houve casos em que que as contratantes chegaram a passar o email empresarial e o LinkedIn do sujeito para que o teste aconteça.
Geralmente é o homem que escolhe o local do encontro. "Isso mostra que ele está interessado. Assim que ele marca, eu já sumo e paro de mandar mensagem". Lekker diz que não oferece testes presenciais e opta por não se envolver no desfecho da história, sem saber de brigas ou discussões entre o casal. "Mas eles [homens] vêm, me xingam e me ameaçam de morte", conta.
E NO BRASIL?
Os testes de Lekker não se restringem apenas à Europa. Ela diz que já fez testes para brasileiras, que a procuraram após ver seu nome em entrevistas de sites internacionais. A modelo e seu negócio já foram notícia nos sites dos jornais The New York Post e Daily Mail. "A mulher [brasileira] estava a ponto de se casar, me encontrou em uma entrevista e quis contratar o meu serviço."
No Brasil, a prática de desvendar casos de infidelidade usando mulheres como iscas nas redes sociais já começa a se profissionalizar. A influenciadora digital Lídia Luiza, 23, criou uma empresa especializada e logo viralizou ao publicar vídeos do serviço.
Ela conta que, ao contrário de Lekker, seu primeiro teste surgiu de uma experiência pessoal, em um relacionamento passado, quando ela pediu a uma amiga que marcasse um encontro com seu então namorado. Ele topou - e no dia do "date" ela mesma apareceu.
Lídia passou a testar parceiros de algumas amigas e pessoas próximas, e os pedidos de ajuda foram só aumentando. Ela decidiu então usar seu poder de sedução para descobrir a infidelidade de cada vez mais gente, muitos desconhecidos. Acabou se envolvendo demais nos rolos alheios e percebeu que isso estava afetando sua saúde mental. A partir daí, começou a cobrar pelo serviço. "Tive que começar a fazer terapia porque acabei absorvendo as histórias, e minha própria psicóloga sugeriu monetizar o trabalho."
Viu-se então num mercado em franca expansão e resolveu investir na criação de uma empresa especializada. "Antes fazia os testes e tinha outros trabalhos. Hoje meus ganhos vêm totalmente dos testes e, comigo, trabalham dez meninas". Ela completa dizendo que, assim como Lekker, todo o contato é feito de forma online, por uma questão de segurança das funcionárias.
"Meu principal desafio é tentar lidar com as críticas", diz. "Muita gente não entende a finalidade dos testes: ajudar mulheres a saírem de relações fracassadas. Ainda julgam muito", afirma Lídia. Lekker diz que também levou um tempo para aceitar os julgamentos que recebe, em sua maioria vindos de homens. "Alguns me chamaram de vagabunda, disseram que eu deveria morrer porque brinco com relacionamento de outras pessoas."
E DEPOIS DO TESTE?
"Eu nunca imaginei que a pessoa com quem eu estava poderia cair nisso. Ele [o namorado] sempre foi tão discreto e respeitoso... Mas sabe aquela pulga atrás da orelha? Fiquei feliz por descobrir [que ele me trairia] antes de tornar o relacionamento mais sério, porque eu achava que iríamos casar". A frase é de uma cliente de Carol Lekker, que preferiu não se identificar.
As duas profissionais do teste de fidelidade nas redes contam que a maioria de suas investidas culmina no fim do relacionamento, como no caso da cliente de Carol. Outros deixam o homem mais "alerta" para não pensar em cometer o mesmo erro no futuro. "Os testes servem para trazer mais segurança para quem busca um relacionamento", pontua Lídia.