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Em sua terra natal, no vilarejo de Teotitlán del Valle, em Oaxaca, no México, Porfirio Gutiérrez é conhecido em sua comunidade indígena como "El Maestro". Em Ventura, na Califórnia, onde vive agora, e para o mundo da arte contemporânea, que ele está cativando, é um artista com uma missão.
Mas, para Gutiérrez, o trabalho é o mesmo: conservar, preservar e inovar, quando necessário, a sabedoria e cultura de gerações associadas à fabricação de uma coisa que mantém tudo interessante —a cor. Mas não se trata de qualquer cor.
Estas cores são derivadas da natureza, o que significa que a missão de Gutiérrez é descobrir novas e velhas formas de colher plantas e insetos direto do mundo natural e transformá-los nos pigmentos que oferecem a gloriosa plenitude dos corantes naturais.
O ateliê de Gutiérrez em Ventura é repleto de caixas de plantas secas e insetos. O mais inusitado de todos é um inseto cintilante prateado, chamado cochonilha, que será convertido em um luxuoso corante vermelho.
Esses insetos são cultivados ano após ano da mesma forma que as sementes são guardadas pelos agricultores, passando a sabedoria ambiental de geração em geração. Gutiérrez cultiva sua própria cochonilha em uma impressionante parede de cactos instalada em seu estúdio.
Os insetos crescem como parasitas nas folhas, consumindo o suco do cacto, que produz ácido carmínico em suas cavidades corporais. Quando secos e moídos, transformam-se milagrosamente em um pó aveludado e na base para a cor vermelha.
Quando comparada aos corantes sintéticos que são usados hoje basicamente em todas as nossas roupas e tecidos, a versão natural é quase sempre inexplicavelmente melhor.
É o equivalente visual a um pêssego amadurecido no pé ou um tomate seco ao sol. Algo dentro de você reconhece que é assim que deve ser. E, com os corantes naturais, não é diferente.
Ao longo do tempo e das culturas, temos acarpetado o chão das cavernas e mergulhado nossos jeans em tintura, não porque eles não funcionem de outra forma, mas porque a cor torna os objetos banais da vida memoráveis.
E se você for tão abençoado com conhecimento quanto Gutiérrez, então a cor te fortalece espiritualmente e te conecta ao modo de vida de seus ancestrais —um modo de vida que sustentou civilizações por viver em simbiose com a natureza.
Um modo de vida que 500 anos de colonização apagou sistematicamente.
Gutiérrez não quer que o corante natural volte a ganhar destaque na indústria têxtil, global porque a busca pelos ingredientes pode levar à mais destruição da natureza.
Ele quer que vejamos que é possível ganhar a vida e fazer o bem com essa troca de favores com a natureza: ela provê para nós, e, em contrapartida, pegamos apenas o que precisamos dela.
Ele quer que vejamos dentro de suas cores. Quer que vejamos que cada tecido que ele produz, seja inspirado pelo antigo simbolismo ou pelo modernismo da Califórnia, leva adiante o conhecimento antigo e a sabedoria sagrada.
Como seus predecessores nômades itinerantes, Gutiérrez luta para manter viva a tradição.
Ele deixou seu vilarejo aos 18 anos para buscar novas oportunidades nos Estados Unidos. No que ele descreve como um período de silêncio, ele não falava a língua ou comia a comida de sua comunidade indígena.
Quando ele voltou para a aldeia, dez anos depois, afirma ter visto os rostos de seus ancestrais no rosto de sua mãe.
Foi quando decidiu que dedicaria sua vida a dar continuidade às tradições e a transmitir os valores de seus ancestrais para as futuras gerações.
A terra, as ovelhas cuja lã se transforma em linha, as plantas que crescem livremente na natureza e até os insetos —todos fazem parte das cores de Gutiérrez.
O trabalho de Gutiérrez foi exibido em um centro de artes da cidade californiana de Ojai e, agora, está exposto na Universidade do Estado do Arizona, até julho de 2022.