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Serviço gratuito de reconhecimento facial gera alerta de que pode ser usado para assédio

ONG britânica promove campanhas sobre privacidade e direitos civis

O reconhecimento facial levanta diversas questões de privacidade - GETTY IMAGES
Jane Wakefield - BBC

Uma ferramenta gratuita de reconhecimento facial que permite que as pessoas encontrem fotos suas ou de outras pessoas na internet foi criticada por ativistas pelo direito à privacidade. O PimEyes se descreve justamente como ferramenta de privacidade —criada para ajudar a evitar o uso indevido de imagens.

Mas segundo o Big Brother Watch, ONG britânica que promove campanhas sobre privacidade e direitos civis, afirmou que a nova ferramenta poderia permitir a vigilância de Estado, o monitoramento comercial e até mesmo promover perseguição e assédio em uma escala inimaginável.

Criado em 2017, PimEyes tinha como função um projeto pessoal e de lazer, mas acabou sendo vendido no ano passado. O site permite que as pessoas façam o upload de qualquer imagem gratuitamente e, em seguida, varre a internet —pelo menos sites acessíveis ao público, como Tumblr, agências de notícias e blogs— atrás de páginas que usaram esta imagem. Atualmente, possui 6 mil usuários inscritos.

"Ver esta poderosa tecnologia de vigilância comercializada para indivíduos é arrepiante. Está pronto para perseguir e coloca mulheres e crianças em risco sem precedentes", afirmo Silkie Carlo, diretora do Big Brother Watch.

Em resposta, o site PimEyes disse que a política de privacidade impede que as pessoas usem a ferramenta para este caso. "Todas as ferramentas podem ser usadas da maneira errada", completou. A empresa disse à BBC que não utiliza imagens extraídas das mídias sociais, apesar de a BBC, ao testar a ferramenta, encontrar fotos de repórteres que foram publicadas no Facebook e no Twitter.

"Se você encontrou rostos postados apenas no Facebook, significa que alguém o postou em outro lugar. Nós rastreamos apenas sites que concordam com suas regras de rastreamento", diz a empresa, em nota. O uso de imagens de mídia social causou problemas à empresa de reconhecimento facial ClearviewAI.

A companhia reuniu mais de três bilhões de fotografias do Facebook, Twitter e YouTube. Esse material foi colocado à disposição do FBI, pelo Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos e por outras 600 agências de aplicação da lei em todo o mundo para identificar suspeitos.

As três empresas de redes sociais pediram para que a ClearviewAI parasse com o procedimento. Já o PimEyes oferece um serviço premium que permite que as pessoas insiram até 25 imagens de pessoas diferentes e recebam alertas sempre que novas fotos forem carregadas online. Atualmente, possui 350 usuários ativos desse serviço.

A empresa também reconheceu que seus dados são usados para alimentar o Paliscope, um software criado por uma empresa sueca amplamente usado por várias polícias e outras forças de segurança em investigações criminais. Mas a PimEye removeu de seu site uma referência a buscas que fazia na chamada dark web para a polícia.

Segundo a PimEye, as imagens carregadas no site "nunca são salvas ou indexadas". Em vez disso, diz que faz uma "impressão digital" de um rosto —usando suas as principais características— que é codificada e salva temporariamente em seus servidores.

AMAZON BANIU SERVIÇO

A tecnologia de reconhecimento facial se tornou cada vez mais controversa à medida que mais forças policiais ao redor do mundo adotam as ferramentas. Vários estudos questionam a precisão da tecnologia, sugerindo que ela apresenta um desempenho particularmente fraco na identificação de pessoas negras.

Após protestos contra o assassinato de George Floyd e pedidos de reforma da polícia, IBM e Amazon decidiram interromper o uso de ferramentas de reconhecimento facial por um ano.

No caso da Amazon, o uso policial de seu software de reconhecimento Rekognition foi suspenso por um ano para permitir que o governo dos Estados Unidos decida sobre como deseja que a tecnologia seja usada no futuro.

BBC News Brasil