Os primeiros exploradores a alcançarem o Titanic nos últimos 15 anos afirmam que parte do naufrágio está em franca deterioração. Ao longo de cinco mergulhos, uma equipe internacional de exploradores de alto mar examinou o navio naufragado, que está a 3.800 metros de profundidade no oceano Atlântico.
Enquanto uma parcela dos destroços estava surpreendentemente em boas condições, outra havia se perdido no mar. O maior estrago foi percebido no setor dos alojamentos dos oficiais da tripulação. O historiador do Titanic, Parks Stephenson, afirmou que parte do que viu durante o mergulho foi "chocante".
"A banheira do capitão é uma imagem favorita entre os entusiastas do Titanic –e ela se perdeu", disse ele.
"A casa do convés daquele lado está colapsando, levando consigo os salões. E essa deterioração continuará avançando."
Segundo Stephenson, o teto inclinado da proa provavelmente seria a próxima parte a se perder, obstruindo a iluminação que chega ao interior do navio. "O Titanic está retornando à natureza", acrescentou o historiador.
CORRENTES, CORROSÃO E BACTÉRIAS
O navio está sendo destruído por fortes correntes oceânicas, pela corrosão salina e por bactérias que comem metais. O RMS Titanic está submerso há mais de cem anos, a cerca de 600 km da costa de Newfoundland, no Canadá.
O navio de passageiros, que foi a maior embarcação de sua época, atingiu um iceberg em sua viagem inaugural de Southampton para Nova York em 1912. Dos 2.200 passageiros e tripulantes a bordo, mais de 1.500 morreram.
A expedição de exploração dos destroços do Titanic foi realizada pela mesma equipe que recentemente fez o mergulho mais profundo de todos os tempos, até o fundo da Fossa das Marianas, que fica a cerca de 12 km de profundidade no oceano Pacífico.
Os mergulhos aconteceram em um submersível de 3,7 metros de comprimento por 3,7 metros de altura –chamado de DSV Limiting Factor– que foi construído pela empresa americana Triton Submarines. Houve uma série de obstáculos na expedição do submarino ao redor do naufrágio do Titanic, separado em duas partes principais distantes quase 600 metros uma da outra.
O mau tempo no Atlântico e as fortes correntes submarinas dificultaram os mergulhos. Havia também um risco significativo de a embarcação ficar presa ao naufrágio. Os mergulhos recentes foram filmados pela Atlantic Productions para um documentário.
Além de capturar imagens, os cientistas da expedição também estudam as criaturas que vivem nos destroços. Apesar das condições quase congelantes, águas escuras e forte pressão, a vida prospera por lá.
Isso, aliás, é um ponto importante na deterioração do Titanic, afirma a cientista de expedição Clare Fitzsimmons, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido. "Há micróbios no naufrágio que estão corroendo o ferro do próprio naufrágio, criando estruturas do tipo 'rusticle', que é uma forma muito mais fraca do metal", disse ela.
Essas estruturas –semelhantes a estalactites de ferrugem penduradas nos destroços– são tão frágeis que podem se desintegrar em uma nuvem de poeira se forem desestabilizadas de alguma forma. Os cientistas estão estudando como os diferentes tipos de metal entram em erosão nas águas profundas do Atlântico, para avaliar quanto tempo ainda resta ao Titanic.
Robert Blyth, do National Maritime Museum, em Greenwich, ressaltou a importância de mergulhar e documentar os destroços em seu estado atual. "O naufrágio em si é a única testemunha que temos atualmente do desastre do Titanic", disse ele. "Todos os sobreviventes já morreram, então acho importante usar o naufrágio enquanto o naufrágio ainda tem algo a dizer."
UM HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO DO NAUFRÁGIO
1985 - O local de naufrágio do Titanic é descoberto por uma equipe franco-americana
1986 - O submersível Alvin explora os destroços
1987 - A primeira expedição de resgate coleta 1.800 artefatos do navio
1995 - James Cameron visita o naufrágio - as filmagens são usadas no filme Titanic
1998 - Os primeiros turistas mergulham no local
1998 - Parte do casco do navio é coletado
2005 - Dois submersíveis tripulados visitam o naufrágio
2010 - Robôs autônomos mapeiam o local
2012 - Destroços passam a ser protegidos pela Unesco
2019 - Submarino DSV Limiting Factor faz cinco mergulhos