Televisão

Por onde anda a 'gordinha com cara de bolacha' da polêmica reportagem de 1994 de César Tralli

Jornalista mostrou Shahar Boyayan, dona de agência para pessoas fora dos padrões estéticos da época, como exemplo de mulher feia; vídeo viralizou

O jornalista Cesar Tralli e a empresária Shahar Boyayan em reportagem para o Jornal da Globo em 1994 - Azm Production/Youtube

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São Paulo

De tempos em tempos, uma reportagem de Cesar Tralli para o Jornal da Globo de 1994 viraliza e acende debates na web. "Dá pra imaginar gente comum, gordinha, careca, míope, ganhando um bom dinheiro para fazer comercial de TV?", dizia a chamada. A entrevistada era a dona de uma agência de publicidade que apostava em pessoas fora do padrão para os comerciais da época.

"A baixinha, loirinha, gordinha, 80 quilos e com cara de bolacha, descobriu na própria feiura a sua fonte de renda. Ela não só fez propaganda de TV, como abriu uma agência, que só contrata gente feia", diz o jornalista. A entrevistada era Shahar Boboyan, dona da agência Funny Faces.

Na entrevista, a empresária "cara de bolacha" não se mostra nem um pouco ofendida e diz por que aposta neste tipo de negócio: "O mercado gosta do tipo, porque marca muito, é muito simpático, tem muito alto astral". Se, na época, ela considerava que a sua inovação havia dado certo, hoje ela tem certeza. O F5 conversou com a empresária, que contou sobre o sucesso do negócio 30 anos depois.

"Na verdade, aquela matéria me ajudou muito como empresária", disse Shahar, que hoje mora nos Estados Unidos e comanda outra empresa. "Foram vários anos. Para você ter uma ideia, essa foi a primeira matéria que saiu sobre a agência. Depois disso, eu tinha fila na rua de pessoas que se achavam feias, mas queriam fazer comerciais de TV", contou.

A empresária diz que os diversos trabalhos conseguiram provar a sua teoria e tiveram bons resultados para várias pessoas: "Eram pessoas que, normalmente, se sentiam menos, né? Ah, eu sou gordinha, eu sou baixinha, eu sou... E, na verdade, eles viram que não. Na verdade, eles tinham um superpoder. Eles podiam usar o corpo deles para vender alguma ideia de um produto".

Ela também diz não ter raiva de Tralli, ao contrário de muitos internautas nas redes sociais nos dias de hoje: "Ele foi uma excelente pessoa. Não me incomoda", diz. Os tempos mudaram, e Shahar sabe isso. "Eu acho que se acontecesse hoje, eu ia ficar me achando extremamente desrespeitada".

Shahar lembra que hoje, apelidos com as características do corpo são considerados preconceito, o que não era uma realidade 30 anos atrás. "E acho que [o assunto] volta toda hora justamente porque as pessoas mudaram como elas veem o outro, né? Naquele momento, tem 30 anos, todos nós éramos diferentes, e isso não foi um problema", opinou.

Ela diz que não há motivos para raiva de Cesar Tralli e defendeu o modo como a reportagem foi feita. "Na verdade, a gente precisa ainda manter o nosso humor um pouquinho. Eu não teria tido sucesso com a agência se a gente não brincasse com o humor o tempo inteiro. Isso é importante. Se a gente perder isso, eu não sei como vai ficar a sociedade".

Procurado pelo F5, o âncora do Jornal Hoje não se manifestou sobre a reportagem.