Taís Araujo diz que filhos sofreram racismo e destaca importância da representatividade
Atriz afirma que enche as crianças de referências da cultura negra
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Taís Araujo, 42, afirmou que seus filhos já foram vítimas de racismo. A declaração foi dada, na noite desta segunda (8), em entrevista ao programa Roda Viva, da Cultura. A atriz disse que ela e o marido, Lázaro Ramos, 42, procuram encher as duas crianças de referências e cultura negra para que eles possam "criar estofo" ao lidar com o tema.
Ao abordar o assunto, Taís contou que o filho mais velho, João Vicente, 11, já até a ajudou em um episódio de racismo que aconteceu com a caçula, Maria Antônia, 6.
"A minha filha já veio falando para mim que um amiguinho riu do cabelo dela, falou do cabelo dela. Aliás, essa história é linda. Ela veio me puxar para me contar: 'Mãe, eu quero falar uma coisa para você.' Meu filho passou, acho que ouviu e jogou um livro sobre cabelo para mim enquanto ela estava me contando –lá em casa tem muito livro infantil com temática negra. Ele me socorreu. Achei muito bonito deles dois", disse.
A atriz disse também que demorou para aceitar o fato de ser uma referência para crianças e mulheres negras, mas que hoje considera esse papel muito importante e prazeroso. "Ainda mais porque eu sou mãe de uma menina negra, então, eu quero que ela tenha estofo", completou.
Taís lembrou que quando era criança e adolescente não tinha referências de mulheres negras na TV. "[Se me perguntam] Quem era a sua referência negra no momento? Eu caio num vazio, inexistente. Eu posso te falar do que eu via na TV, via a Simony, depois a Xuxa, a Angélica, muito distantes de mim, obviamente. E tem essa lacuna aí mesmo na minha formação, que sigo correndo atrás para a minha construção enquanto mulher, enquanto mulher negra."
A atriz Zezé Motta, 76, era um dos exemplos que ela afirmou seguir, mas, ainda assim, existia uma diferença de idade grande. "O sentido da representatividade é só você se sentir possível, e a gente só sente possível com o que a gente enxerga. O que a gente não enxerga a gente desconhece e não se acha possível naquele lugar. Acho importante os autores hoje estarem atentos e alertas a isso, porque acho sim que a dramaturgia e a televisão podem ser responsáveis nesse sentido. Aliás, acho que devem ser responsáveis."
A falta de pessoas negras no seu convívio também se mostrou presente quando a atriz contra que se mudou do Méier, bairro na zona norte do Rio, para a Barra da Tijuca, área nobre na cidade.
"Eu era a única negra daquele condomínio, uma das únicas negras do colégio. Se a gente contar a escola inteira, não enche uma mão a quantidade de alunos negros", afirmou.
Taís lembrou ainda que quando começou a trabalhar como modelo a indústria cosmética não produzia produtos para os diferentes tipos de pele negra. "Existiam duas cores de base: ou eu ficava cinza ou ficava vermelha [...] A gente não existia." Segundo ela, que apresenta o programa Superbonita no GNT, isso mudou nos últimos anos. "O mundo melhorou muito, a gente existe hoje para as indústrias de cosmético."