Narrador da ESPN, Rômulo Mendonça dá apelido até para bola e vira destaque nos EUA
Mendonça sonha agora em narrar jogos da Olimpíada de Tóquio
Conhecido das narrações da NBA e de esportes americanos na ESPN, Rômulo Mendonça, 37, não se cansa de inovar em suas transmissões. O locutor tem como principal característica agregar expressões bem-humoradas ao seu vocabulário e incluí-las nos jogos esportivos. E o jeito diferente de narrar deu tão certo que ele teve reconhecimento até da ESPN americana.
Foi em 2018 que os parceiros norte-americanos se encantaram com a maneira nada peculiar dele de vibrar com as jogadas. Na versão do SportsCenter desse país, usaram até legenda para traduzir o que aquele brasileiro de Divinópolis (MG) dizia sobre uma "jogadaça" de LeBron James, então atleta do Cleveland Cavaliers. Na ocasião, após uma cesta monumental, Mendonça não se conteve em gritar: ‘LeBron, ladrão, roubou meu coração’.
“Eu nunca poderia imaginar. De uma forma não voluntária, rompi a barreira da língua. Em um primeiro momento, quando eles ouviram eles acharam curioso, eram gritos com canto. O apresentador falou: ‘eu não sei o que esse cara falou, mas foi divertido. Por um semestre recebia mensagens em redes sociais de brasileiros que lá moravam e que levaram um susto em ouvir narração em português”, diverte-se Rômulo. “Eu nunca mais vou conseguir que isso aconteça de novo, vou aproveitar essa”, brinca.
O narrador faz parte dos canais ESPN desde 2011. Ele entrou com o intuito de narrar outros esportes fora do futebol, embora também comande partidas do principal esporte nacional na emissora. Mas é com a NBA que ele se diz mais realizado, já que é o esporte que mais acompanha e estuda desde menino. Ele também narra futebol americano.
Embora tenha algumas referências em narradores brasileiros, como o amigão Paulo Soares, Mendonça revela que é o espanhol Andrés Montes (1955-2009) a sua maior inspiração. Ele também narrava NBA e tinha um estilo diferente dos demais em seu país. “É o estilo que busco de criação de expressões, apelidos para personagens do jogo, buscar o humor”, diz.
O locutor já narrou duas finais do basquete americano no local. Para ele, é algo mágico poder estar no mesmo lugar que grandes ídolos do esporte. E como trata-se de um evento mundial e grandioso, mais gente acaba assistindo e, por isso, mais pessoas o conhecem e se encantam com o jeito brincalhão de Rômulo apelidar os jogadores.
“São muitas expressões enfáticas usadas para destacar determinados personagens. Quanto o jogador Kawhi Leonard, por exemplo, virou o MVP [melhor jogador] com o Toronto Raptors, num momento em que ele estava dominante, falei que ele era um déspota ditando as suas próprias leis. Então eu sempre exalto algo da personalidade do cara com frases não tão comuns. Fui ganhando confiança e virou uma escala industrial”, reforça.
Porém, Rômulo faz uma ponderação. Além do bom humor, usa muito estudo e bagagem para cada transmissão. “Nunca acharei que transmissão é um showzinho particular meu de humor, seria derrocada. Estudo muito, leio demais, me preparo, busco estatísticas. Não consigo imaginar fazer sem acompanhar tudo. O humor vem naturalmente com a base.”
Embora o basquete faça os olhos do narrador brilhar, foi na cobertura da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, quando ele viu crescer a sua popularidade. “Narrei o vôlei naquela ocasião e deu muito certo. Chamava o jogador Lucarelli de mensageiro do caos, o Wallace era o macho alfa e o Serginho era o patrimônio nacional. Viralizei muitas vezes com isso. Muita gente que não me conhecia passou a me conhecer e a assistir mais as transmissões. A bola, eu chamava de lambisgoia”, relembra.
A ESPN ainda conversa para ter os direitos de transmissão da próxima Olimpíada, no ano que vem, em Tóquio, no Japão. Caso o acordo seja concluído, será mais um sonho realizado para Rômulo. “Seria mais um presente, só de estar lá cobrindo é algo que quero vivenciar. É especial. Tudo o que falei aqui, todo esse processo de vida foi viabilizado pela repercussão que consegui na Olimpíada do Rio”, conclui Mendonça.