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Ana Lúcia Torre, de 'Espelho da Vida', diz que não acredita em morte e relata 'chamado' espírita

Atriz de 73 anos interpreta Gentil e Joana na trama das 18h da Globo

Ana Lucia Torre - Mastrangelo Reino/ Folhapress
Rio de Janeiro

A atriz Ana Lúcia Torre, 73, no ar atualmente em “Espelho da Vida” (Globo), diz que “se sente em casa” lendo os textos de Elizabeth Jhin e que sua família recebeu uma espécie de chamado do espiritismo quando ela ainda era pequena, o que fez seu pai se tornar um grande médium. 

“Mamãe era católica e meu pai não frequentava a igreja. Eu fui batizada, fiz primeira comunhão [...] Quando tinha uns cinco anos, comecei a desmaiar toda segunda-feira na escola. Eu ficava imóvel, mas de olhos abertos, vendo tudo. No dia seguinte eu já estava normal. Ninguém sabia o que eu tinha”, relatou.

“Até que uma vizinha nos convidou para ir a um terreiro de umbanda”, continua ela. “Obviamente, meus pais me levaram lá. Me deram um passe. Meu pai recebeu um caboclo, dobrou de altura e de tamanho. E o chefe do terreiro falou que eu tinha sido o caminho para ele chegar até lá. Papai se dedicou ao espiritismo a vida inteira”.

Essa é a segunda vez que Torre faz uma novela de temática espírita. “Para mim, existe um espírito que é imortal. Meu corpo dá vida momentaneamente para que este espírito realize as coisas que quer e que precisa realizar. Essa novela é uma delícia, porque fala aquilo que acredito.”

Ser espírita, segundo a intérprete de Gentil e Joana, não é motivo de vergonha ou medo, mas ainda significa lidar com alguns tabus. 

“Antigamente, era muito difícil para uma pessoa assumir que era espírita. As pessoas demoravam anos para contar para alguém, e quando contavam era porque achavam que a outra também era [espírita]. Mas hoje em dia todo mundo diz.”

Para ela, grande parte desse tabu veio através da religião católica e também de algumas correntes  evangélicas. “No entanto, o que os pastores fazem com quem está com o demônio no corpo, nada mais é do que uma sessão de desobsessão que se faz no espiritismo há milênios”, afirma.

ESTIGMA DO ESPIRITISMO

Patrick Sampaio, 34, que interpreta Felipe e Otávio em “Espelho da Vida”, disse à Folha que acredita que a novela de Elizabeth Jhin pode contribuir para a desestigmatização do espiritismo. 

Criado em uma família espírita por parte de mãe, o ator afirma que já experimentou diversas vertentes do espiritismo, como a umbanda, por exemplo. Hoje, ele se considera um espiritualista.

“Ainda vivemos em um país de maioria católica, mas vemos um crescimento muito grande de protestantes, evangélicos, pentecostais... E uma parte dessas pessoas que guiam a comunicação dessas religiões no Brasil talvez tenha promovido uma certa intolerância em relação ao espiritismo”, afirma.

O ator, no entanto, ressalta que o que aprendeu com o pastor Henrique Vieira, durante o programa “Amor e Sexo” (Globo), apresentado por Fernanda Lima, do qual Sampaio foi roteirista: “Ele é evangélico e diz o seguinte: quando falamos de evangélicos, estamos falando sobre muita gente. E quando falamos em intolerância, estamos falando sobre evangélicos neopentecostais midiáticos, que é um recorte muito menor da comunidade evangélica. É importante lembrarmos disso.”

“Espelho da Vida” é a primeira novela da qual Sampaio integra o elenco fixo. Ele foi convidado para participar do início da trama, mas acabou ficando até o fim, com dois personagens -um no presente e outro no passado. “Meu balanço deste trabalho é o mais positivo do mundo. Sou uma manteiga derretida. Chorei pensando no tamanho desse presente.”