Novo álbum de Norah Jones mistura poesia e experimentação em tom melancólico
Avessa às redes sociais, cantora e pianista faz lives durante quarentena
Norah Jones, 41, não costumava ser muito ativa em suas redes sociais. Mas isso mudou desde o início da quarentena. Com os shows da turnê que faria pelos Estados Unidos cancelados, a cantora e pianista americana que impressionou o mundo logo no seu álbum de estreia – "Come Away with Me" (2002) vendeu mais de 20 milhões de cópias– agora pode ser vista constantemente em lives e vídeos publicados no seu Instagram ou YouTube.
E ela está gostando muito da experiência. "[Fazer as lives] Me ajudou a perceber que há algo amável nisso, mesmo que seja melhorar o dia de uma pessoa [...] Foi realmente ótimo para mim finalmente entender como utilizar a rede social de uma maneira com a qual me identifico e que me deixa confortável", afirma Jones em entrevista exclusiva ao F5.
Quando a pandemia do novo coronavírus explodiu em todo o mundo, Jones conta que ela e a sua equipe não sabiam muito o que fazer em relação ao lançamento do seu novo álbum, que estava programado para o dia 8 de maio. Por causa de atrasos na produção dos discos de vinil e CDs, a apresentação do novo projeto da artista foi adiada por cerca de um mês, mas mantida. "Pick Me Up Off The Floor" estará disponível em todas as plataformas a partir desde sexta-feira (12).
Norah Jones afirma se sentir "um pouco impotente" diante do que está acontecendo mundo, mas vê a música como um canal para as pessoas lidarem melhor com tudo isso. "Eu acho que a música pode te levantar ou pode te ajudar a sentir o que você está sentindo. Ainda que ela me deixe triste, é importante sentir e lidar com isso", afirma.
Funciona com ela. "Escuto música todas as noites e isso me ajuda a passar por esse momento", diz. Durante o isolamento, a cantora revela que tem ouvido diferentes canções, dependendo do seu humor. Uma de suas preferidas é "Song of the Highest Tower", do Cut Worms, projeto musical do músico Max Clarke.
"Pick Me Up off the Floor" não é um álbum dançante, avisa de antemão a artista. Assim como os outros trabalhos de Jones, é sobre sentimentos. "As pessoas não se sentem tão sozinhas quando há alguém cantando sobre o que elas sentem". Embora tenha sido desenvolvido antes da pandemia, algumas das faixas parecem se encaixar ao momento atual, como a já lançada "How I Weep" (Como eu Choro), que fala sobre a dor incalculável de uma perda.
É verdade que a situação dos Estados Unidos e do mundo já não era das melhores mesmo antes da crise do coronavírus, na visão da artista americana. Neste sentido, o álbum também reflete um desejo dela por mais conexão entre as pessoas. "Vivendo neste país –neste mundo– nos últimos anos, acho que há um sentimento subjacente de 'Me levante'. Vamos sair dessa bagunça e tentar descobrir algumas coisas", diz Jones, no texto que acompanha a divulgação do trabalho.
Já "I'm Alive" (Eu estou viva), realizada em parceria com Jeff Tweedy (da banda Wilco), fala da luta feminista de uma mulher para encontrar a sua voz em meio a "noite dos homens, que querem os direito dela, e normalmente vencem, mas ela está viva".
A faixa bônus "Tryin' to Keep It Together" ganhou clipe intimista gravado durante a quarentena na casa de Jones, que passa o isolamento ao lado do marido, dos dois filhos, e de sua melhor amiga, Marcela Avelar, e o namorado dela. "Depois que as crianças foram dormir, nós filmamos. Foi bacana. Tomamos alguns drinks e nos divertimos", diz.
PROJETO
Depois da turnê de "Day Breaks", de 2016, Norah Jones não queria mais fazer outro álbum. Ela, então, iniciou outro projeto, uma série de sessões curtas com diferentes colaboradores, como Mavis Staples e Rodrigo Amarante. Dessas parcerias, surgiram singles. Com o brasileiro, a artista lançou "I Forgot" e "Falling". "Ficamos juntos no estúdio caseiro dele por três dias e nos divertimos muito, fazendo música e nos tornando amigos. Foi realmente especial", diz a cantora sobre a parceria.
Mas outras tantas músicas frutos desses encontros que não foram lançadas ficaram "presas na cabeça" de Jones, que enxergou uma linha de conexão entre elas. E assim surgiu "Pick Me Upp off the Floor". Três delas, por exemplo –"Hurts to Be Alone", "Heartbroken, Day After", "Were You Watching"– nasceram de uma sessão de Jones com o baterista Brian Blade e o baixista Christopher Thomas.
Em "Were You Watching", os versos foram escritos pela poeta Emily Fiskio. Amiga de Jones, ela se tornou uma influência importante para a cantora escrever a sua própria poesia, que está presente no novo álbum.
A artista esteve no Brasil no fim de 2019, quando fez dois shows em São Paulo. "Eu adoraria [voltar], só não sei quando." Enquanto o retorno não acontece, os fãs brasileiros podem matar a saudade vendo as lives de Norah Jones, a mais nova adepta das redes sociais.