Tony Goes

Por que 'Jury Duty' é a série mais engraçada do ano

Indicada a quatro Emmys, sitcom da Prime Video mistura reality e comédia

Arte promocional de 'Jury Duty', série exibida pelo Amazon Prime Video no Brasil - Divulgação

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São Paulo

Os indicados ao Emmy, a mais importante premiação da TV americana, foram anunciados no dia 12 de julho passado. Entre os finalistas da categoria melhor série cômica, estão títulos consagrados como "Ted Lasso" e "Abbott Elementary", e novidades que caíram no gosto da crítica ou do público como "O Urso" e "Wandinha".

Uma única surpresa entre os oito selecionados: "Jury Duty", uma série que estreou em abril no Amazon Freevee, uma plataforma gratuita de streaming, e que ainda não havia chamado muita atenção. Além disso, a sitcom também foi indicada a melhor ator coadjuvante, melhor roteiro e melhor escalação de elenco.

Os oito episódios da primeira temporada de "Jury Duty" já estão disponíveis no Brasil, na Amazon Prime Video (onde aparece também com um título brasileiro, "Na Mira do Júri"). Dá para maratonar tudo em apenas quatro horas, e vale muito a pena: dificilmente aparecerá outra série mais engraçada este ano.

A premissa é diabólica. Ronald Gladden, um rapaz comum da Califórnia, respondeu a um anúncio online que procurava pessoas dispostas a participar de um documentário sobre um julgamento. Foi escolhido entre milhares de candidatos para ser um dos 12 jurados do caso em que uma socialite, também empresária do ramo de moda, processa um ex-funcionário que destruiu uma máquina de imprimir camisetas e causou um prejuízo milionário.

O que ninguém contou a Ronald é que era tudo mentira: o juiz, o réu, os advogados, os policiais, os outros membros do júri. Todos são atores. Um deles, inclusive, famoso: James Marsden, da franquia "X-Men", que interpreta uma paródia de si mesmo.

Os demais, pouco conhecidos, fazem figuras estereotipadas: o nerd tímido, a moça promíscua, a idosa que dorme o tempo todo, o inventor de traquitanas sem traquejo social, e por aí vai. Todos praticando o chamado "underacting": atuações discretas com poucos arroubos, para se passarem por pessoas reais.

As filmagens duraram 17 dias, e Ronald só soube da verdade no final, quando lhe contaram que ele havia participado de uma elaborada pegadinha. Aliás, bastante questionável do ponto de vista ético: não foi para aparecer numa sitcom que ele se inscreveu, muito menos para ser feito de bobo. Mas um cachê de 100 mil dólares (cerca de R$ 500 mil) adoçou a surpresa.

Os produtores deram muita sorte ao escalar Ronald, porque ele se comportou de maneira exemplar. Instalado num hotel junto com seus "colegas" de júri, o cara foi submetido a uma infinidade de situações constrangedoras: desde ajudar um jurado a reatar por telefone com a namorada e depois traí-la com outra jurada, até assumir a culpa por um cocô gigante que entupiu uma privada.

Inocente, gentil e prestativo, Ronald achou que estava cercado por um bando de excêntricos, sem se dar conta de que as barbaridades ditas por eles eram escritas por roteiristas profissionais. O risco de tudo desandar no meio do caminho era enorme.

"Jury Duty" é muito bem escrita e atuada, naquele estilo de falso documentário em que os personagens falam diretamente para a câmera –não por acaso, os dois criadores da série, Lee Eisenberg e Gene Sputnisky, foram roteiristas de "The Office". Desde que foi indicada a quatro Emmys, a série caiu nas graças da imprensa americana e vem sendo descoberta pelo grande público.

Agora, será que é viável uma segunda temporada? Esse "Truman Show" da vida real, em que o personagem central não sabe que está num reality, é praticamente impossível de ser replicado. Só se mudarem para outra locação –quem sabe, uma penitenciária? Ou se filmarem em outro país.

Mas não importa. A primeira (e talvez única) temporada de "Jury Duty" já é um pequeno marco na história da TV. Também é a série mais divertida de 2023.