Tony Goes

Ao morrer, Guilherme de Pádua conseguiu o que mais queria: voltar às manchetes

Assassino de Daniella Perez era louco por holofotes e só pensava em aparecer

Guilherme de Pádua lê recorte de jornal durante o julgamento pelo assassinato de Daniella Perez - Patrícia Santos-25.jan.1997/Folhapress

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São Paulo

O Brasil foi dormir neste domingo (6) com uma notícia inesperada: a morte súbita do ex-ator Guilherme de Pádua, vítima de um infarto fulminante.

Quem revelou o ocorrido foi o líder da Igreja Batista da Lagoinha, Mário Valadão, num vídeo bizarro. "Caiu e morreu. Morreu agora, agorinha, agorinha. Agorinha, ele acabou de morrer", diz o pastor, com um enorme sorriso nos lábios. Com a reação da internet, o vídeo foi tirado do ar, mas a essa altura já havia viralizado.

A alegria contagiante de Valadão pode ser sinal de uma elevação espiritual que a maioria das pessoas desconhece. Também pode ser a manifestação involuntária de um imenso alívio: Guilherme de Pádua, que se tornou evangélico na cadeia, fazia parte do time pastoral da Lagoinha e liderava o ministério Recomeço, que atua dentro das prisões.



Só que, antes de qualquer outra coisa, o assassino de Daniella Perez gostava mesmo era de aparecer. E este ano ele voltou a frequentar a mídia, por causa da minissérie "Pacto Brutal", da HBO. Os produtores evitaram propositalmente dar voz a Pádua, mas a imprensa quis saber o que ele achava do programa.

Deslumbrado pelos holofotes, Pádua tentou esticar ao máximo seus minutos extras de fama. Em agosto passado, gravou e divulgou um vídeo onde finalmente pede perdão a Gloria Perez, mãe de Daniella, por ter tirado a vida da filha da autora de "Travessia". É difícil acreditar que ele estivesse sendo sincero. Por que só agora, tantos anos depois do crime? Por que justamente na época em que "Pacto Brutal" estava bombando?

Guilherme de Pádua também era apoiador de Jair Bolsonaro –o que não chega a surpreender, já que o futuro ex-presidente costuma atrair homens com histórico de violência contra mulheres, como o ex-goleiro Bruno e o ex-atacante Robinho. Todos esses apoios, na verdade, são terrivelmente tóxicos para qualquer político, e podem ter contribuído para afastar ainda mais o eleitorado feminino da campanha pela reeleição de Bolsonaro.

A presença de Pádua na Lagoinha também pegava muito mal, apesar de Márcio Valadão dizer que se orgulhava de ter "recuperado" o psicopata. A igreja já está exposta demais na mídia: o cantor e pastor André Valadão, filho de Márcio, criou um problema para a denominação controlada por sua família ao postar um vídeo, pouco antes do segundo turno, onde mentia que havia sido censurado pelo TSE. Acabou-se descobrindo que sua produtora musical tem uma grande dívida trabalhista, o que explicaria seu apoio irrestrito à reeleição de Bolsonaro.

"Até o bispo da igreja dele deu a notícia rindo", reagiu o ator Raul Gazzolla, viúvo de Daniella Perez, ao saber da morte de Pádua. "Devia ser um tormento para a igreja ter como pastor um assassino com um ego tão grande quanto seu crime".

Gazzolla tem razão. O ego de Guilherme de Pádua era maior do que qualquer sentimento de culpa. Basta conferir como ele se comportava durante o julgamento: parece um astro de cinema lidando com seus fãs. Jamais demonstrou nenhum remorso, pelo contrário. Era evidente seu prazer em ser o foco das atenções, mesmo pelas razões mais torpes possíveis.

Paula Thomaz, sua ex-mulher e cúmplice na bárbara execução de Daniella Perez, tomou o caminho oposto. Casou-se novamente, mudou de sobrenome e hoje evita a imprensa a todo custo. Não sabemos o que ela achou da minissérie, nem qual sua versão atual para o crime (um sempre jogou toda a culpa no outro). Por isto mesmo, não dá para dizer que a morte de Guilherme de Pádua encerra o caso de uma vez por todas.

Com seu súbito desaparecimento, o mais célebre assassino brasileiro volta ao lugar que mais gostava: às manchetes. Mas não deixa de ser uma certa justiça divina ele não estar mais aqui para desfrutar este momento.