Minissérie 'Um Dia Qualquer' aborda as milícias cariocas em tom de tragédia grega
Com cinco episódios, programa estreia nesta segunda (17) no canal Space
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Nos primeiros anos deste século, "milícia" ainda não era uma palavra incorporada ao nosso vocabulário cotidiano. Mas o fenômeno já existia: em bairros pobres das zonas norte e oeste do Rio de Janeiro, associações informais entre policiais da ativa e agentes aposentados se propunham a “limpar” essas áreas da influência do narcotráfico.
Os métodos não eram legais: intimidação, extorsão, execuções sumárias. Mas o sucesso fez com que esses justiceiros logo passassem a controlar regiões inteiras, tornando-se um flagelo ainda pior que os traficantes de drogas.
Foi nessa época que o diretor e roteirista Pedro von Krüger escreveu a primeira versão de “Um Dia Qualquer”. O projeto nasceu como um longa para os cinemas, e passou por diversas fases. Rodado em 2019, o filme deveria ter entrado em cartaz em fevereiro deste ano, e acabou tendo a estreia adiada. Mas o público poderá conhecer agora uma versão mais extensa: uma minissérie em cinco episódios, que estreia nesta segunda (17) no canal pago Space.
“Apresentamos a ideia para o grupo Turner, e eles nos disseram que tinha tudo a ver com o Space”, conta von Krüger em entrevista por videoconferência. “Mas nos pediram conteúdo extra, exclusivo para a TV, para exibir "Um Dia Qualquer" em formato de minissérie. Mas como fazer isto? A história já estava fechada e, como o próprio título indica, acontece toda em um único dia”.
A solução foi acrescentar cenas em flashback, que se passam dez anos antes do dia em questão. “Essa história pregressa dos personagens já existia, mas não seria filmada. Resolvemos então mostrá-la, e as motivações ficaram mais claras”, acrescenta o cineasta.
O ponto de partida de “Um Dia Qualquer” não é a criminalidade, mas um triângulo amoroso. Quirino (Augusto Madeira), Penha (Mariana Nunes) e Chapa (Jefferson Brasil) se conhecem desde crianças. Os dois homens são apaixonados pela mulher. Quando adultos, Quirino e Chapa se veem em lados opostos da lei: o primeiro é policial, o segundo é traficante. Depois de namorar ambos, foi com este último que Penha escolheu ficar.
Dez anos depois, Quirino é o líder de uma milícia (as gravações aconteceram em Marechal Hermes, mas o nome do bairro nunca é mencionado). Penha, que antes fazia o estilo “cachorra do funk”, agora é uma compenetrada evangélica. Ele ainda a ama, mas ela não quer nada com ele. Só que os dois tiveram um filho juntos, que agora está adulto.
Pergunto a Mariana Nunes, também por videoconferência, como foi compor uma personagem com duas fases tão distintas. “Na verdade, a Penha é uma só”, diz a atriz, cujo último trabalho marcante foi a Rita da novela “Amor de Mãe” (Globo), morta por Telma no último capítulo da primeira fase. “Ela é uma mulher forte, que sabe o que quer. E que usa esta força para sobreviver e manter sua família unida em um ambiente hostil”.
Mariana chegou ao papel por indicação de uma amiga em comum com Pedro von Krüger, a atriz Dira Paes –"a Dira foi a madrinha do nosso 'casamento'", ri von Krüger.
Já o caminho de Tainá Medina (“O Doutrinador”) até “Um Dia Qualquer” foi mais longo: a atriz carioca fez um teste e depois participou de um workshop de um dia inteiro, conduzido pelo preparador de elenco Sergio Penna.
“Éramos diversos atores, e a produção queria ver quem dava liga com quem”, conta ela, que adorou o processo. “Conheci um monte de gente e fiz novos amigos”. Também conquistou o papel de Bruna, a jovem esposa de Quirino, que trai o marido com o próprio filho deste, Beto (Willean Reis).
Estas complicadas relações familiares desembocam em uma tragédia, que evoca os mitos gregos de Édipo e Antígona. Mas nada disso faz com que “Um Dia Qualquer” perca sua urgência e contemporaneidade: afinal, a série mergulha fundo no universo das milícias, que deixaram de serem restritas ao Rio de Janeiro e hoje estão próximas ao mais alto círculo do poder federal.
Com produção da Elixir Entretenimento e da Com Domínio Filmes, “Um Dia Qualquer” estreia no canal Space nesta segunda (17), às 22h. O canal exibe um episódio por dia até sexta (21), sempre no mesmo horário. No sábado (22), a partir das 18h, uma maratona traz todos os cinco episódios em sequência.
Erramos: o texto foi alterado
O sobrenome correto da atriz Tainá é Medina, não Medrado. A minissérie “Um Dia Qualquer” seria exibida às 22h, não às 23h. O texto foi corrigido.