Tony Goes

Em Nasce uma Rainha, Glória Groove e Alexia Twister ajudam aspirantes a drag queen

Novo reality show da Netflix tem estreia prevista para novembro

Em Nasce uma Rainha, Glória Groove e Alexia Twister ajudam aspirantes a drag queen - Vanessa Bumbeers/Netflix

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Junho é o Mês do Orgulho LGBT+, e diversos canais de TV e plataformas de streaming estão exibindo séries e filmes alusivos à data. A boa notícia é que esses programas não ficam mais restritos a um único mês do ano. A Netflix, por exemplo, anuncia para novembro a estreia do reality Nasce uma Rainha, comandado pelas drag queens Glória Groove e Alexia Twister.

Nasce uma Rainha é um formato 100% desenvolvido no Brasil, pela produtora Boutique Filmes –a mesma de “3%”, primeira série brasileira da Netflix. Em cada um dos seis episódios, Glória e Alexia ajudam um aspirante a drag a encontrar seu nome artístico, seu visual e sua atitude em cena.

“A arte drag é muito plural. Envolve teatro, dança, moda, maquiagem... No programa, a gente usa essa arte para mudar a vida da pessoa, inclusive fora do palco”, conta Alexia Twister em entrevista por teleconferência.

“Durante as gravações, parecia que nós estávamos diante do espelho”, acrescenta Glória Groove. “Víamos muito de nós mesmas nos participantes. As mesmas inseguranças, a mesma vontade de vencer”.

Os candidatos a estrela incluem uma mulher, que se transforma em drag king, e uma pessoa que se identifica como não-binária (que não se alinha com nenhum dos dois gêneros “oficiais”). “Mas, afinal, o que é gênero?”, diz Alexia. “É uma coisa imposta”.

As apresentadoras entendem das coisas. Alexia, que atende por Matheus Miranda no dia a dia, nasceu há 40 anos em Taubaté e começou sua carreira em 1996 em São José dos Campos, duas cidades do interior de São Paulo. Seu nome de drag remete ao filme “Twister”, sucesso daquela época, que contava a história da devastação causada por um tornado no interior dos Estados Unidos.

Já Glória também é conhecida como Daniel Garcia, e começou ainda mais cedo: quando criança, foi integrante da Turma do Balão Mágico. Nasceu em São Paulo há 25 anos e já tinha uma carreira consolidada como dublador e cantor quando resolveu se montar, em 2014. Hoje, como Glória Groove, também é uma das drags que frequentam as paradas de sucesso, como Pabllo Vittar e Aretuza Lovi. “O engraçado é que a Glória que é a compositora, não o Daniel”, diz ela. “As músicas que eu escrevo são do ponto de vista dela”.

Assisti a dois episódios de Nasce uma Rainha. O programa é uma espécie de campo de treinamento intensivo para as futuras transformistas. Os participantes chegam ao set sem saber que Alexia Twister e Glória Groove estarão lá, e ficam esfuziantes. Cerca de 45% da equipe também são compostos por pessoas LGBT+, o que ajuda a criar um clima relaxado e divertido.

Só que nem tudo é risada. Nasce uma Rainha também abre espaço para os dramas pessoais, e colhe depoimentos de parentes e amigos –alguns deles ainda não aceitam as escolhas de vida dos candidatos. Mas o final é feliz: no palco de uma boate, apadrinhadas por Glória e Alexia, as novas rainhas estreiam diante de uma plateia lotada, e arrasam.

Nasce uma Rainha se insere em um fenômeno mais amplo: a ocupação de cada vez mais espaços culturais por drag queens, travestis e transexuais. Hoje já existe alguém como Rita Von Hunty, que comenta sobre política em seu canal no YouTube, e atrizes que já vão muito além dos shows em casas noturnas, como Nany People e Maria Clara Spinelli.

“Tudo isso é o resultado de muitos anos de história, muita luta e transgressão”, comemora Alexia. “Nós derrubamos barreiras!”.

Mas elas ainda existem, claro. Uma delas é a pandemia, que fechou boates e teatros e diminuiu drasticamente o mercado de trabalho das drag queens. Alexia tem sobrevivido dando aulas online, e Glória continua gravando e lançando músicas, mas nenhuma delas têm feito shows. “A quarentena fez a Glória dar uma parada", conclui Glória Groove. "O Daniel voltou!”, ri ela.