Com dicas básicas para cozinheiros principiantes, Rita Lobo faz sucesso na quarentena
Audiência da chef vem crescendo, tanto na TV como nas redes sociais
A quarentena empurrou uma parte da população para a cozinha. Gente que mal sabia fritar um ovo de repente se viu obrigada a preparar três refeições diárias, variando o cardápio sem descuidar dos aspectos nutricionais.
Esses mestres-cucas de primeira viagem têm uma santa padroeira: a chef Rita Lobo, 45, que há 20 anos ensina culinária através de seus muitos livros publicados, seus programas no canal GNT e seu site Panelinha.
O confinamento, aliás, fez bem para os negócios de Rita. Sua audiência vem crescendo, tanto na TV como nas redes sociais. Seu número de seguidores no Instagram passou de 1,2 milhão para 1,4 milhão. No Facebook, simplesmente dobrou: eram 500 mil, agora são um milhão.
"Nós conseguimos falar rapidamente para este momento", conta Rita em entrevista por telefone. "Porque já vínhamos fazendo esse tipo de trabalho há muito tempo. Dominamos a alimentação e sabemos produzir conteúdo."
Rita lidera uma equipe fixa de 20 pessoas, e seus programas são feitos por sua própria produtora de TV. Nos primeiros meses da pandemia, ela protagonizou nada menos do 50 lives diárias no Instagram, algumas com mais de uma hora de duração, cozinhando ao vivo e passando o beabá das panelas para uma multidão de ignorantes.
"As pessoas têm limitações de habilidades, limitações de ingredientes, limitações econômicas. Ninguém quer gastar muito neste período. E todo mundo me pergunta: como que eu posso reforçar meu sistema imunológico? Só que não existe alimento mágico. A resposta é: comendo comida de verdade."
Comida de verdade é o cavalo de batalha de Rita: aquela feita com ingredientes frescos e saudáveis, que passa longe dos alimentos ultraprocessados. Rita não é vegana, não é natureba nem adepta de nenhuma dieta específica. Muitas de suas receitas são bem tradicionais, bem brasileiras e bem fáceis de fazer.
"O meu trabalho é voltado para o público. Não é só o que eu gosto de comer. Eu adoro pimentão, por exemplo, e nem por isso eu forço a barra”, ri ela. “Também não sou tão radical assim. Se você comer arroz, feijão e duas hortaliças no almoço, então pode comer besteira no jantar."
O mais incrível é que essa chef de mão-cheia entrou relativamente tarde na cozinha. “Minha mãe não me ensinou nada. Graças ao feminismo, ela faz parte de uma geração de mulheres que conseguiu se livrar das panelas."
Rita começou a trabalhar como modelo aos 15 anos de idade. Mas, por volta dos 18, sentiu que precisava dar um rumo definitivo à sua vida. "Percebi que nada podia ser tão legal quanto aprender a cozinhar."
Fez um curso de gastronomia em Nova York, numa escola que hoje se chama ICE (Institute of Culinary Education). De volta ao Brasil, abriu um restaurante em São Paulo, o Oriental. "Era um lugar bacana, mas eu descobri que não gosto da rotina de dona de restaurante. Meu negócio é passar adiante o que eu aprendi. Quando você sabe cozinhar, você sabe fazer melhores escolhas."
Rita Lobo foi colunista de comida da Folha, e abriu o site Panelinha em 2000. Lançou seu primeiro livro, "Cozinha de Estar", em 2006, e uma dezena de outros volumes desde então. Seguiram-se um canal no YouTube, uma editora, uma produtora e, desde 2012, programas como o "Cozinha Prática" no canal GNT.
Hoje o Panelinha tem uma parceria com o Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo), o que garante as propriedades nutricionais de todas as suas receitas.
"Eu costumava ter tudo planejado. Sabia o que iria fazer nos próximos cinco anos. A quarentena acabou com tudo isso. Íamos lançar um livro comemorando duas décadas do Panelinha, que eu não sei mais quando sai. Estamos vivendo um dia de cada vez."
Agora ela está no ar com "Rita, Help!", uma extensão da série de sucesso que apresenta há anos no YouTube. O GNT vem exibindo dois episódios em sequência todas as terças, a partir de 21h30, em que Rita ensina a fazer o que há de mais básico: arroz, feijão, frango, farofa...
É claro que ela também domina receitas muito mais elaboradas. Pergunto se encararia uma competição culinária tipo MasterChef ou Mestre do Sabor. Rita responde na lata: "Deus me livre! Iam me pedir para fazer uma coisa, e eu iria fazer outra. Sou uma pessoa inadministrável!".