Tony Goes
Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Famosos reagem com humor à frase polêmica de Damares Alves

Mas, por trás da metáfora usada pela ministra, há um pensamento nefasto

Luciano Huck e Angélica publicam foto e questionam declaração de ministra - Reprodução/Instagram/lucianohuck

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Luciano Huck publicou nas redes sociais uma foto em que aparece vestindo uma camisa rosa e sua mulher, Angélica, uma azul. Caetano Veloso surgiu de camiseta rosa-choque, com a inscrição “Proteja Seus Amigos”. Gaby Amarantos publicou no Twitter a letra para uma possível marchinha de Carnaval: “Eu vou vestir rosa / Vou vestir azul / Se você não gosta / Vá tomar no **”.

Carlos Bolsonaro até tentou ironizar Luciano Huck, replicando em seu Insta Stories (ferramenta de compartilhamento de imagens que desaparecem em 24 horas) uma foto em que um filho do apresentador está usando azul, e a filha, rosa. Parece que o filho que o presidente chama de “02” desconhece a expressão usada por Huck na legenda de sua postagem: “Tanto faz”. 

O fato é que a internet brasileira explodiu em memes e protestos bem-humorados na tarde desta quinta (3), depois que foi divulgado um vídeo em que a recém-empossada ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, a pastora evangélica Damares Alves, aparece bradando “atenção, atenção, é uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa!”.

Alice Wegmann, Fernanda Paes Leme, Matheus Carrilho, Mônica Iozzi, Lulu Santos, Di Ferrero e Gloria Groove estão entre as muitas celebridades que se manifestaram, com ironia e descontração, contra a declaração da nova ministra.

Não só eles, é claro: anônimos correram a postar imagens do guaraná Jesus, originário do Maranhão, que usa azul e rosa em suas embalagens. Tampouco faltou quem lembrasse que a Virgem Maria costuma ser representada com um manto azul celeste. E até desencavaram fotos da própria Damares vestida de azul, o que “comprovaria” o fato dela ser uma mulher trans.

Também surgiram explicações de que uso do azul e do rosa para diferenciar os sexos é uma construção cultural recente, como conta o excelente artigo do colunista Pedro Diniz, publicado pela Folha.

À noite, a ministra-pastora foi à GloboNews dizer que não se arrepende da declaração. E que, é óbvio, o azul e o rosa são apenas uma metáfora: os pais podem vestir seus bebês do jeito que quiserem, ninguém tem nada a ver com isto. O que ela realmente defende, explicou Damares, é o fim do que chama de “ideologia de gênero”.

Ideologia de gênero é uma nomenclatura que não existe no meio acadêmico. Foi cunhada pela extrema-direita para rotular como impostores quem defende que sexo biológico e gênero são coisas distintas e desvinculadas.

A ciência comprova o que a vida real já nos mostra: pessoas que nascem com um determinado aparelho genital às vezes se identificam com o gênero oposto. Esse é um fenômeno comum a quase todas sociedades humanas. Ocorre entre tribos indígenas da América do Norte e e entre habitantes de ilhas do Pacífico.

No Ocidente contemporâneo, depois de séculos de repressão e muitas mortes inúteis, agora se permite que as pessoas vivam de acordo com o gênero com que se identificam. Nem é preciso passar pela mesa de cirurgia para o famigerado “realinhamento”: a cartunista Laerte e a atriz Nany People, por exemplo, continuam com seus “equipamentos originais de fábrica”, mas já são reconhecidas legalmente como mulheres.

Sem falar em quem não se identifica com gênero nenhum, ou com os dois ao mesmo tempo, ou até com um terceiro. A própria biologia já mostrou que os sexos não são estanques e que há uma escala deslizante entre eles. Querer forçar quem nasceu com pênis a se portar feito homem (o que também é uma construção cultural) é uma violação à própria natureza. Para quem acredita, é uma desobediência a Deus.

Damares Alves se cobriu de ridículo ao falar em “nova era” –ainda mais porque, para essa era ser implantada de fato, seria necessária uma polícia religiosa a patrulhar as ruas, como no Irã ou na Arábia Saudita.

Por enquanto está muito engraçado expor as bobagens expelidas pela ministra-pastora. A graça diminui quando lembramos que o Brasil é o país do mundo que mais mata LGBTs. Ou que por aqui uma mulher nem precisa trair o marido ou namorado: basta ela dar um fora nele para apanhar ou até ser morta. Mas enfrentar essas tragédias não parece ser a prioridade de Damares.