'Não voto em Trump, ele pensa que está acima da lei', diz condenado dos Hells Angels
Ex-presidente do clube de motoqueiros lendário por seus crimes, George Christie foi preso três vezes e é um dos entrevistados de nova série do canal A&E
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George Christie poderia ser seu vizinho. Quem visse na rua o senhor de 77 anos, cabelo branco ralo e bem penteado, bigode finamente aparado, jamais imaginaria que ele foi por 33 anos presidente do braço californiano dos Hells Angels, o lendário grupo de motoqueiros acusado de dezenas de crimes.
A Justiça passou mais de 40 anos no seu encalço e conseguiu prendê-lo três vezes, em uma delas confinando-o por quase um ano numa solitária. A primeira delas reuniu 57 condenações, entre elas roubo, fraude, evasão fiscal, venda de drogas para menores e conspiração criminosa.
Hoje, Christie vive da "glória" do seu mandato na Califórnia, que foi de 1978 a 2011. Vive dando entrevistas em podcasts e publicou três livros sobre sua experiência. Se a Justiça o condenou algumas vezes como o cabeça dos crimes, ele insiste que seu papel era o contrário: o de um negociador que tentava trazer a paz e a união entre o Hells Angels e outras gangues inimigas em momentos de escalada da violência.
"Em toda grande organização, as pessoas tomam boas e más decisões. O Hells Angels não é uma organização criminosa, mas admito que é uma organização com criminosos. Exatamente como o Senado, o Congresso americano, a polícia, talvez até a imprensa. Sinceramente, não creio que o Hells tenha mais criminosos do que qualquer um desses".
CRIME BRUTAL
Christie deu entrevista ao F5 para divulgar "Segredos dos Hells Angels", série do canal pago A&E que reúne algumas das histórias mais mirabolantes da gangue, como um plano para matar Mick Jagger.
Um dos episódios relembra o assassinato brutal de Margo Compton, jovem de 24 anos que trabalhava como massagista de membros dos Hells Angels em San Francisco. Ela teve a coragem de ir à polícia denunciar líderes da gangue por agressão, estupro e por ter sido forçada a se prostituir junto com quatro colegas.
A acusação de Compton levou ao indiciamento de Buck Garrett, presidente do clube na cidade de Vallejo, na Califórnia. A polícia reuniu indícios de que Buck, em revanche ordenou o assassinato brutal de Margo e de suas filhas gêmeas em casa.
Christie defende até hoje que Buck não tem nada a ver com a história, e que o assassino, Robert "Bugeye" Bob, cometeu o crime por conta própria para conseguir ingressar nos Hells Angels –algo que nunca conseguiu. Segundo ele, a organização nunca endossou esse crime.
Todo esse currículo de fora-da-lei assumido pode levar o leitor a pensar que Christie é um fervoroso eleitor de Donald Trump. Ledo engano. Ele diz que nunca votou nem votará este ano no candidato republicano, preferindo se abster.
"Não gosto do jeito que Trump lidera. Ele divide as pessoas, joga umas contra as outras. Acha que está acima da lei, o que pode parecer hipócrita vindo de um cara como eu. Mas eu admito que sou um fora da lei. Quando você é líder de um país, há fronteiras que precisa respeitar", compara. "Trump tem 34 crimes em suas costas, eu só tenho quatro. Talvez eu mesmo devesse concorrer à Presidência", diz, com um tranquilo sarcasmo.