BBB 23 é o pior, mas só reclamar não adianta
Se os que acham que há manipulação boicotassem o programa, chamariam a atenção
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Há alguns anos, numa palestra na faculdade onde eu dava aula, Pedro Bial disse que a TV aberta é uma programação comercial, interrompida por intervalos de programas.
Hoje, além dos intervalos, encontramos a "programação comercial" dentro de programas, novelas, em forma de merchandising, product placement, menções.
Ou seja, a intenção de toda emissora, como acontece com quase todas as empresas privadas no mundo capitalista, é lucrar. Todas as outras coisas, informar, entreter, ensinar, promover justiça social são objetivos secundários. Acho que você já deve ter percebido como isso fica óbvio no BBB 23.
O Big Brother é o programa que mais fatura na Globo. Só o BBB 23 faturou R$ 1 bilhão. Mesmo sendo esta uma das piores edições. Mesmo com todas as mudanças de regras. Mesmo com as expulsões por importunação. Mesmo com gente que foi eliminada voltando. Mesmo com as injustiças com os participantes. E mesmo com a Bruna Griphao tendo permanecido na casa, embora tivesse mais de 70% de votos para ser eliminada na enquete do UOL. Por isso a palavra "manipulação" tem sido mencionada nas redes junto com "pior BBB".
As pessoas estão revoltadas, indignadas, comentam o tempo todo sobre os furos dessa edição. O problema é que, como sabemos, revolta, indignação e ódio aumentam o engajamento e a audiência. Reclamar e continuar assistindo não resolve nada, não melhora nada. Mas o caminho para mudar poderia estar nos fandoms.
Como sabemos, os fandoms dos participantes mobilizam o Big Brother. A prova disse é que a disputa entre Manu Gavassi, Mari e Prior entrou para o Guinness World Records como a maior votação de um programa de TV de todo o mundo: 1,53 bilhão. É uma marca impressionante.
Se os fandoms que acham que houve manipulação ou que houve injustiça com seus ídolos resolvessem boicotar o programa, certamente conseguiriam chamar a atenção. Mas isso nunca vai acontecer. Não é da nossa natureza. Ao contrário. Somos movidos por tretas, intrigas, pela raiva. Como diz a expressão, agimos todos "na força do ódio".
Uma pena. Pois, justamente quando, enfim, o BBB tem uma edição com mais pessoas pretas, estamos caminhando para uma final de brancas. Não é à toa que tem perfil dizendo que "o BBB acabou e o racismo venceu". Pior, tem quem diga que se a ex-atleta branca que agrediu um entregador negro no Rio de Janeiro entrasse para o Big Brother venceria.