Trabalhar naquele prédio amarelo era um sonho
Colunista lembra sua história na Folha, que acaba de completar 100 anos
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Cresci vendo o meu pai começar o dia lendo a Folha de S. Paulo. Naturalmente, foi o jornal que comecei a ler na adolescência, sem nem imaginar que alguns daqueles nomes que apareciam estampados nos créditos de fotos e textos seriam algumas das pessoas mais importantes da minha vida.
Já na faculdade de jornalismo e mãe da minha primeira filha, em meados dos anos 1990, fiz algumas aulas no Teatro Escola Macunaíma, que ficava então na Alameda Barão de Limeira, em frente à Folha. Apesar da potência libertadora das aulas de teatro, o meu sonho estava do outro lado da rua. Lembro de olhar pela janela, para aquele prédio amarelo, e pensar se um dia eu conseguiria trabalhar lá.
Em 1998, alguns meses depois que meu pai morreu, consegui: fui contratada como pesquisadora do Banco de Dados do jornal. Quando recebi a notícia, a sensação de realização só não foi completa porque meu pai não estava ali para comemorar comigo, mas no abraço triplo com minha mãe e minha irmã havia quatro pessoas.
Foram bons tempos de pesquisas naqueles volumes enormes com as coleções dos jornais, a história do país encadernada. Aos poucos, comecei a escrever biografias de personalidades que morriam. A primeira vez que vi meu nome impresso na Folha foi num texto sobre Marcos Rey, autor justamente de um dos primeiros livros que li na infância.
Depois fui para a Redação, passei por várias áreas: Brasil, Especiais, Agência Folha, Revista da Folha, Folhateen. Ganhei até um Prêmio Folha e fiz muitas reportagens de que me orgulho, mas um “troféu” que guardo com carinho é uma matéria minha com uma correção feita em caneta vermelha por Otavio Frias Filho.
Em 2005, saí da Folha e virei colunista do Agora, seu irmão mais novo. Desde 2018, a coluna sai também no F5. Mas por que escrevo tudo isso? Porque a Folha fez 100 anos na sexta (19), e faço esta pausa na coluna para desejar vida longa e próspera ao jornal, cada vez mais indispensável na defesa da nossa democracia.
Além de ajudar a escrever a história do Brasil, a Folha também escreveu grande parte da minha história. Foi na Folha que conheci o meu marido e um grande amigo, que mais tarde se tornou marido da minha irmã. Desses encontros nasceram minha segunda filha e meu sobrinho e afilhado. E é por isso que, até hoje, toda vez que passamos na frente do prédio amarelo, minhas filhas não aguentam mais ouvir: “Foi aqui que tudo começou...”