Bate-Papo na Web
Descrição de chapéu Folha, 100

Trabalhar naquele prédio amarelo era um sonho

Colunista lembra sua história na Folha, que acaba de completar 100 anos

Alessandra Kormann, grávida da sua segunda filha, com o marido, o fotógrafo Cesar Itiberê, na Redação da Folha, no final de 1999 - Arquivo Pessoal

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Cresci vendo o meu pai começar o dia lendo a Folha de S. Paulo. Naturalmente, foi o jornal que comecei a ler na adolescência, sem nem imaginar que alguns daqueles nomes que apareciam estampados nos créditos de fotos e textos seriam algumas das pessoas mais importantes da minha vida.

Já na faculdade de jornalismo e mãe da minha primeira filha, em meados dos anos 1990, fiz algumas aulas no Teatro Escola Macunaíma, que ficava então na Alameda Barão de Limeira, em frente à Folha. Apesar da potência libertadora das aulas de teatro, o meu sonho estava do outro lado da rua. Lembro de olhar pela janela, para aquele prédio amarelo, e pensar se um dia eu conseguiria trabalhar lá.

Em 1998, alguns meses depois que meu pai morreu, consegui: fui contratada como pesquisadora do Banco de Dados do jornal. Quando recebi a notícia, a sensação de realização só não foi completa porque meu pai não estava ali para comemorar comigo, mas no abraço triplo com minha mãe e minha irmã havia quatro pessoas.

Foram bons tempos de pesquisas naqueles volumes enormes com as coleções dos jornais, a história do país encadernada. Aos poucos, comecei a escrever biografias de personalidades que morriam. A primeira vez que vi meu nome impresso na Folha foi num texto sobre Marcos Rey, autor justamente de um dos primeiros livros que li na infância.

Depois fui para a Redação, passei por várias áreas: Brasil, Especiais, Agência Folha, Revista da Folha, Folhateen. Ganhei até um Prêmio Folha e fiz muitas reportagens de que me orgulho, mas um “troféu” que guardo com carinho é uma matéria minha com uma correção feita em caneta vermelha por Otavio Frias Filho.

Em 2005, saí da Folha e virei colunista do Agora, seu irmão mais novo. Desde 2018, a coluna sai também no F5. Mas por que escrevo tudo isso? Porque a Folha fez 100 anos na sexta (19), e faço esta pausa na coluna para desejar vida longa e próspera ao jornal, cada vez mais indispensável na defesa da nossa democracia.

Além de ajudar a escrever a história do Brasil, a Folha também escreveu grande parte da minha história. Foi na Folha que conheci o meu marido e um grande amigo, que mais tarde se tornou marido da minha irmã. Desses encontros nasceram minha segunda filha e meu sobrinho e afilhado. E é por isso que, até hoje, toda vez que passamos na frente do prédio amarelo, minhas filhas não aguentam mais ouvir: “Foi aqui que tudo começou...”