Sterling K. Brown não tem problema em ser chamado de Randall nas ruas. Afinal o personagem que ele interpretou durante seis temporadas no melodrama familiar "This Is Us" lhe rendeu reconhecimento do público e da crítica, além de prêmios como o Emmy e o Globo de Ouro.

Seu objetivo, no entanto, é passar a ser chamado pelo próprio nome. "É muito legal quando as pessoas gritam 'Randall!', mas é ainda mais legal quando dizem: 'Olha, é o Sterling K. Brown'. Ser conhecido por um trabalho diversificado é um pouco mais gratificante", avalia. "Por isso, estou sempre tentando fazer algo diferente com o próximo projeto."

Pode-se dizer que ele alcançou esse objetivo com "Paradise", série que estreou no mês passado no Disney+. Na trama, que aposta no mistério e explora as teorias da conspiração, ele interpreta o agente especial Xavier Collins, responsável pela segurança do presidente dos Estados Unidos.

Brown diz que o novo personagem é muito mais contido do que ele estava acostumado. "Randall mostrava suas emoções abertamente, enquanto Xavier mantém as coisas um pouco mais reservadas", compara. "Acho que ele está mais próximo da forma como muitos homens lidam com suas emoções."

Collins só não consegue conter os sentimentos com relação aos filhos. "Na série, sou um pai que está de luto pela perda de sua esposa", comenta. "Ele tem seus dois filhos, uma menina mais velha e um menino mais novo, e ela é colocada nessa posição de autoridade e responsabilidade para ajudar a cuidar do irmãozinho também. Acho que é uma relação realmente bonita e representa muita gente."

O ator também estreia como produtor, função que ele nunca havia desempenhado. Ele diz, no entanto, que a experiência em "This Is Us" o preparou de alguma forma, já que o showrunner Dan Fogelman sempre deixou o elenco à vontade para fazer sugestões sobre o texto.

"A maneira como ele permite que as pessoas tenham voz e se sintam incluídas no processo... você quase se sentia como se fosse produtor, mesmo que não oficialmente", comenta. "Muitos showrunners pensam 'Ah, eu gostaria que os atores me deixassem em paz para que eu pudesse escrever'. Nunca tive essa impressão dele."

Não por acaso os dois retomam a parceria neste trabalho. Fogelman é o criador de "Paradise" e diz que a ideia surgiu há muitos anos. "Escrevo as coisas rapidamente, mas penso nelas por muito tempo antes de começar", afirma. "E essa foi uma ideia que eu tive antes de 'This Is Us', na verdade."

O roteirista diz que a série tem sido um desafio diferente do anterior, que acompanhava a vida de uma família ao longo de vários anos, com muitos flashbacks mostrando coisas que haviam ocorrido anos antes. "Em 'This Is Us', havia muitas linhas do tempo e coisas para manter organizadas. Agora temos um grande mistério para manter estruturado", compara.

Ele diz que não vai ficar guardando cartas na manga para enganar o público a continuar assistindo. "Uma das coisas que me frustram é quando um programa tem um mistério com muitas reviravoltas e suspeitos, mas demora uma eternidade para começar a obter respostas e, às vezes, passa a primeira temporada e você tem que esperar um ano e meio para voltar no streaming", reclama.

Fogelman também foi o responsável por recrutar outro dos protagonistas da trama, James Marsden, que vive o presidente Cal "Wildcat" Bradford. Para o ator, a representação do personagem não é convencional para alguém em sua posição de poder.

"Ele é, definitivamente, um homem quebrado, falho, e pudemos explorar muito disso na série", afirma. "Isso foi atraente para mim criativamente, para meio que mergulhar e investigar essas dimensões de tudo o que pode ser um presidente. Você o vê como um ser humano que carrega muito arrependimento e está constantemente tentando acordar de manhã e tomar a decisão correta. Isso foi muito interessante para mim."

Ele diz que Bradford chegou onde está muito mais por ser fruto de um meio do que por ambição pessoal. "Não acho que essa posição que ele ocupa foi algo que ele sempre almejou ou se imaginou fazendo", avalia. "Sinto que havia outros interesses e aspirações que ele tinha, mas seu pai era um homem muito poderoso, muito persuasivo e não era aceitava um não como resposta."

Mesmo assim, tenta fazer o melhor que pode dadas as circunstâncias em que é colocado. "Sinto que ele tomou uma decisão e fez um acordo consigo mesmo de que vai tirar o melhor proveito disso e vai tentar fazer a coisa certa para as pessoas", afirma. "Acho que ele é um comunicador muito bom e acaba sendo muito bom no trabalho."

Marsden ri ao comentar sobre como construiu o perfil sorumbático do personagem. "Eu carrego tristeza em mim. Isso é tudo fingimento agora, sou um humano triste, triste", brinca. "Na verdade, quando você tem um roteiro na sua frente que é tão afiado e tão rico, o trabalho está praticamente feito para você", comenta, mais sério.