'Mundo Estranho': Para ator, 1º protagonista gay da Disney é 'um garoto qualquer'
Animação aborda conflito entre três gerações de homens de uma mesma família
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Sem planejar, Jaboukie Young-White, 28, entrou para a história da animação. É que no filme "Mundo Estranho", em cartaz nos cinemas, ele interpreta o adolescente Ethan Clade, primeiro protagonista abertamente LGBTQIA+ em um longa da Disney. O ator e comediante, no entanto, diz que não levou essa característica em conta na hora de emprestar sua voz para o personagem.
"Achei que seria incrível se eu pudesse olhar para ele como olharia para um garoto qualquer", contou em bate-papo com jornalistas para divulgar o filme. "Mas saber que eu poderia ser parte do que isso significa para outras pessoas é lindo. É sobre isso."
O americano de origem jamaicana, que é abertamente gay, conta que ficou muito animado com a participação no longa. "Não é uma história sobre ele sair do armário ou sobre ele aceitar a própria sexualidade, é sobre ele estar se descobrindo plenamente em um ambiente que está pronto para dar apoio a ele", comenta. "Acho que isso é interessante em qualquer meio, mas em uma animação isso é gigantesco."
Na animação, fica claro que Ethan tem um "crush" pelo colega Diazo (Jonathan Melo, na dublagem original). A orientação sexual do jovem não chega a ser uma questão para a família ou para os amigos. É tratada com naturalidade por todos a seu redor.
O jovem é filho do fazendeiro Searcher Clade, que é interpretado por Jake Gyllenhaal, 41. "Eu tenho alguma experiência plantando cânhamo [variedade de canabis] e soja", brinca o ator. "Não, na verdade, eu tenho amigos próximos que são fazendeiros de verdade."
A trama foca a divergência entre Searcher e seu pai, Jaeger Clade (Dennis Quaid), que queria que o filho seguisse seus passos como aventureiro. "Eu amo aventuras também", continua Gyllenhaal. "Podemos ir para outra sala para eu contar os detalhes [risos]. Então, sou experiente em aventuras e plantações."
O astro de Hollywood conta que se envolveu com a história por sentir que se tratava de uma história muito pessoal. "Eu consegui trazer a minha própria experiência de algum modo", avalia. "Como era uma animação, foi com a minha voz. Meu pai [o diretor e poeta Stephen Gyllenhaal] foi ao cinema e ouviu a minha voz quando estava indo pegar pipoca. Depois entrou na sala e viu minha versão animada; ele ficou enlouquecido."
Sobre o personagem, ele conta que Searcher foi sendo construído aos poucos, ao longo de mais de um ano de preparação. "Os animadores começam observando seu rosto, seus movimentos, suas expressões faciais e, então, o personagem vai lentamente se transformando em você, enquanto você passa por uma transformação extraordinária também. Acabei dando muito de mim, mesmo sem perceber."
Para a atriz Gabrielle Union, 50, que vive Meridian Clade (mulher de Searcher e mãe de Ethan), o fato de sua versão animada ter seus traços é ainda mais relevante. "Tenho uma garotinha negra em casa que é obcecada por cabelos, então quando ela viu a textura dos fios da Meridian, seus cachos, além de todo esse movimento a respeito do cabelo natural, foi algo muito grande", conta. "E não é só isso, ela tem traços afrocêntricos, formas, quadril, isso é ótimo."
Enquanto isso, na outra ponta do conflito geracional da família Clade, está o personagem de Dennis Quaid, 68, que ele considera um pouco cabeça-dura. "Ele se acha o melhor explorador que o mundo já conheceu", afirma. "Ele quer que o filho carregue esse legado. Acho que tanto Searcher quanto Jaeger são um pouco hipócritas sem saber, ambos acabam fazendo a mesma coisa um com o outro."
Ele também lembra que o filme, de certa forma, carrega uma mensagem ambiental. Na trama, eles moram na fictícia Avalônia, que é mantida com base em uma planta misteriosa que serve como combustível para a cidade. O vegetal foi descoberto por Searcher e seu pai, mas enquanto o primeiro quis se fixar e formar família, o segundo preferiu continuar com a vida de explorador. Em determinado momento, a planta começa a ficar mais escassa.
"Tanto os dois quanto o Ethan estão buscando a mesma coisa", avalia. "Eles só têm formas diferentes de tentar salvar Avalônia. Aí vamos acrescentando camada sobre camada. Eu senti como se fosse uma família real, discutindo questões de que discordam na mesa de jantar, sabe? Não tentamos fugir dos assuntos ou cobri-los, e é bem divertido."
Já o diretor da animação, Don Hall (de "Raya e o Último Dragão"), revela como surgiu a ideia do filme. "Eu estava pensando sobre meus filhos e sobre o mundo que eles herdariam, isso é o que estava na minha mente quando comecei tudo", conta. "Por isso quis contar uma história de como podemos ser bons ancestrais por meio de três gerações. Sou pai e meu pai também é muito central nessa relação, então acho que é algo com que todos podem se identificar."