Hugh Laurie vai ao espaço em 'Avenue 5' e diz que toparia colonizar Marte
Astro de 'House' diz ter liberdade para improvisar nas gravações da comédia futurista
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Para Hugh Laurie, 63, estar perdido no espaço sideral é uma metáfora. Na série "Avenue 5", cuja segunda temporada estreia no catálogo da HBO nesta segunda-feira (10), ele interpreta o atrapalhado capitão Ryan Clark, que precisa lidar com as consequências de um desvio de rota durante uma viagem de turismo programada para durar 8 semanas e que agora levará anos para voltar à Terra.
"Ryan vive em um estado constante de pânico porque ele teme ser descoberto", conta o ator. "Ele é uma versão extrema do que nós humanos vivemos, dessa sensação de que você não é bom o suficiente, de que não sabe o que está fazendo. Todos nós passamos por isso."
Nos novos episódios, a síndrome do impostor deve aumentar para o personagem, já que agora ele descobre que, além de tudo, a espaçonave está indo na direção do Sol. "É quase como se fosse o destino, claro que as coisas tinham que terminar desse jeito", comenta. "Tem um certo fatalismo nessa ideia, é como se ele sempre soubesse que chegaria o dia em que todos descobririam que ele não é qualificado o suficiente para aquilo."
No entanto, como se trata de uma comédia, esses temas aparecem como pano de fundo. "Existe essa resignação, que eu acho bastante charmosa, mas também amo o fato de que ele nunca desiste", diz. "Por pior que as coisas fiquem, ele sempre acha um jeito. Ele tem o impulso de tentar fazer a coisa certa, de salvar as pessoas e a nave, mesmo que não tenha habilidade para isso."
Na vida real, Laurie diz que não tem interesse em entrar em uma nave apenas para passar alguns momentos fora da atmosfera terrestre. "Não acho que eu jamais iria querer fazer nenhum tipo de turismo estupidamente caro", afirma. "Mas se estiverem procurando voluntários para ir a Marte, para nunca voltar e tentar fazer a vida funcionar por lá, acho que eu toparia. Acho que seria incrível."
O ator diz que não chegou a se inscrever quando a Nasa (a agência espacial americana) abriu essa possibilidade, o que atraiu milhões de interessados. "Não sei se eu me qualificaria", brinca. "Provavelmente sou muito velho e sem utilidade. A não ser que eles queiram usar pessoas dispensáveis para limpar campos minados (risos)."
A reflexão o leva a lembrar de um de seus personagens mais famosos, o doutor House da série médica "House" (2004-2012). "Por ter ficado 8 anos fingindo ser médico, tenho a consciência de que um médico de verdade seria muito mais útil", compara. "Qual o sentido de alguém fingir ser um médico? Não tem utilidade. Tenho noção disso. Honestamente, não sei o que os atores poderiam oferecer em Marte, provavelmente nada."
Ele ainda faz piada com o que menos sentiria falta na Terra: "O trânsito, mas talvez daqui a 30 anos, também tenha engarrafamento lá em cima, é difícil de prever". Por outro lado, sentiria saudades das árvores e dos cachorros. "Eu cheguei a perguntar se nenhum personagem da série poderia ter um animal de estimação, mas parece que é complicado tê-los no estúdio", lamenta.
Sobre o método de trabalho de Armando Iannucci, criador e showrunner da série, ele é só elogios. "Em uma série mais convencional, as pessoas esperam que você diga exatamente o que está escrito no roteiro", conta. "Se você mudar uma palavra, vem alguém dizer que você errou. Quando eu dizia que tinha mudado, as pessoas ficavam um pouco chocadas."
Segundo ele, em "Avenue 5", a improvisação não apenas é admitida, como incentivada. "O roteiro que recebemos no começo de um episódio tem muito pouco a ver com o que acabamos filmando", revela. "Armando está constantemente tentando coisas novas e reescrevendo tudo. É normal só termos o roteiro final depois de termos terminado de gravar."
Ele diz que isso faz com que os atores tenham que ficar muito atentos e sejam rápidos no entendimento das propostas. "É tremendamente divertido, mas também pode ser assustador algumas vezes", confessa. "Como você não sabe para onde as coisas estão indo, não sabe se vai ficar parecendo um absoluto idiota em cena. Mas é um jeito definitivamente excitante de trabalhar."
Dono do método, Iannucci tem a inquietação típica de quem se preocupa em deixar sua obra o mais atual possível. "A razão de ter criado uma série que se passa no futuro e no espaço é o sentimento que tenho de que as coisas mudam muito rápido", comenta. "Se fosse tentar sobre o que está acontecendo agora, já estaria defasada quando eu conseguisse filmar."
Fã da franquia "Battlestar Galactica", ele conta que a opção pela comédia teve a ver com sua visão de mundo. Como quando optou por esse gênero no filme "A Morte de Stalin" (2017), que acabou banido na Rússia. "A comédia é a única forma de processar o absurdo que estava acontecendo", avalia. "Sinto que na série é a mesma coisa, mas em escala maior. Pelo riso, racionalizamos e damos alguma forma ao que estamos vivendo e que parece tão arbitrário às vezes."
O criador diz que houve uma preocupação da HBO em lembrar as pessoas de tudo o que ocorria na primeira temporada da série, lançada em janeiro de 2020 —a pandemia atrapalhou os planos de fazer uma segunda leva de episódios no ano seguinte. "Vejo nas redes sociais gente que só está descobrindo a série agora, então é quase como se fosse um relançamento", explica. "Sabemos que 3 anos se passaram [desde as gravações da 1ª temporada], mas não queríamos deixar a série morrer porque deixamos muitas coisas em aberto."
Aliás, ele também desmente que a série vá acabar depois do lançamento dos novos episódios, como chegou-se a noticiar na imprensa americana. "Nós liberamos os atores dos contratos por causa dessa pausa, achamos que seria injusto mantê-los presos porque todos tinham outros projetos, mas queremos fazer mais", garante. "A decisão é da HBO. Nós temos mais histórias para contar se eles quiserem e se conseguirmos reunir todos novamente, vontade não falta!"