Com Rafael Vitti, 'Jupiter' aborda paternidade e as mudanças que ela traz
Filme tem Orã Figueiredo tentando se conectar com filho adolescente
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Com roteiro e direção de Marco Abujamra, o filme "Júpiter" (HBO Max) conta a história de Mario (Orã Figueiredo), um detetive especializado em flagrantes de adultério que descobre que tem um filho adolescente de 17 anos, chamado Júpiter (Rafael Vitti), de uma relação extraconjugal.
No longa, com estreia prevista para janeiro de 2022, Mario sofre um infarto após ser perseguido por um marido adúltero que o flagrou fazendo fotos dele com a amante. Após voltar para casa, o detetive recebe a visita inesperada de um filho que não sabia da existência, é obrigado a cuidar dele e ainda tem que lidar com a ira da mulher Teresa (Guta Stresser), com quem é casado há 25 anos.
Passado o susto da paternidade, Mario tenta se aproximar do filho tímido e introduzir o adolescente no mundo da investigação, mas o garoto não leva jeito para o ofício do pai. Depois de algumas tentativas frustradas, o detetive descobre que o passatempo de Júpiter é jogar xadrez, no qual ele atingiu o nível de mestre. É exatamente essa habilidade para o jogo que aproxima pai e filho.
O diretor do filme diz que o xadrez na trama é uma referência autobiográfica, pois gosta do jogo desde criança e chegou a participar de torneiros. Abujamra admite que, se fosse escrever o roteiro hoje, talvez o jogo não estivesse no longa, por causa do sucesso da série da Netflix "O Gambito da Rainha" (2020).
Abujamra afirma que queria que o personagem tivesse essa peculiaridade de praticar algum esporte diferente, e o xadrez veio como uma escolha fácil. Segundo ele, o jogo trazia na época da filmagem, antes do sucesso de "O Gambito", uma estranheza e um elemento de curiosidade. "Você associa a introspecção, mas ao mesmo tempo quem conhece o jogo sabe que é muito excitante."
O diretor revela que escreveu o personagem Mario para o ator Orã Figueiredo, que conhece há muitos anos e com quem já havia trabalhado. "Enquanto eu escrevia [o roteiro] já pensava no Orã para o personagem, mas foi o único. A gente fez um teste extenso de elenco, principalmente para os jovens."
Abujamra acrescenta que foi "uma sorte muito grande trabalhar com todos esses atores" do filme. Ele diz que filmar com Rafael Vitti foi um "espetáculo" e que eles fugiram da zona de conforto que o ator estava acostumado. O ator interpreta o papel de um rapaz bonito, mas muito tímido.
"Até porque, por questões de idade [Vitti tem 26 anos], ele é muito convidado para fazer [determinados] personagens. Ele é muito bonito, charmoso, tem aquele jeito muito conquistador. É natural que seja chamado para fazer certos tipos de personagens."
Uma curiosidade é que Figueiredo, que vive Mario, não tem filhos. Ele já interpretou outro pai na ficção, Hugo na novela "Totalmente Demais" (Globo), mas diz que não vê similaridade entre os dois personagens a não ser o fato de serem pais.
Segundo Figueiredo, o personagem da novela era um pai presente, protetor, amoroso e que fazia tudo pelas duas filhas. Em contrapartida, Mario assume um filho e, no decorrer da trama, passa a ser pai, o destino dá essa paternidade para ele.
"Por coincidência, estou fazendo um filme em São Paulo que o personagem é um pai. Acho que estou assumindo dentro do audiovisual brasileiro assim um pai, coisa que eu não sou e é o mais interessante que eu não tenho filhos", diz rindo.
Para construir o personagem distante da sua realidade, o ator conta que teve que observar e transportar a sua bagagem de filho para a de pai. Figueiredo diz, no entanto, que o fato de o personagem ter sido bem idealizado pelo roteirista o ajuda a ir além da questão da paternidade. "O personagem é muito bem construído psicologicamente, a estrutura dele e tudo mais. O Marco [Abujamra] me ajudou bastante a chegar nele."
Para o ator, o filme mostra a evolução de um homem medíocre, que tem um casamento estagnado, sem filhos e nenhuma pretensão de mudar. Segundo ele, Mario rejeita o filho em um primeiro momento porque não quer mudar sua vida estagnada. Mas ao permitir que Júpiter entre na sua vida, tudo muda.
"[Mario] ganha uma luz que vai modificar sua relação com o mundo e a mulher dele. Ele acaba transferindo todo o futuro, a alegria para a potência de Júpiter, que se transforma em um gênio do xadrez."
Guta Stresser, que interpreta Teresa, acha a família do filme perfeitamente contemporânea e normal. Ela diz que conhece famílias parecidas, em que uma mulher com estabilidade profissional e financeira vive com um marido que descobre ter um filho. "Estou lembrando agora casos da minha família de muitos e muitos anos atrás. Não acho que seja uma família fora da curva."
Guta defende sua personagem dizendo que Teresa é totalmente possível, crível e real. Ela admite que é uma pessoa muito diferente da personagem comedida e metódica retratada no longa e que conversou muito com Abujamra para compor a personagem. "Ela fala muito baixo e eu mesmo não falo [como ela]."
A atriz explica que, na preparação da personagem, tentou fazer uma mulher cotidiana, normal, totalmente possível, comedida, sem muitos exageros e, ao mesmo tempo, com muitas camadas.
"Ela não é simplesmente uma mulher de leitura muito fácil, porque a gente vê e fala: 'nossa é uma mulher bem normal, bem possível, cotidiana'', afirma a atriz.
Mas Guta diz que, se o público olhar Teresa a fundo, perceberá que ela não é só uma mulher certinha e metódica. Ela pode, afirma a atriz, bater portas, chorar e esconder um segredo, como qualquer um. "O que traz para mim a riqueza em um personagem é esse leque de coisas que uma pessoa é, porque ela nunca é uma coisa só."