'O Gambito da Rainha': 4 pontos para entender a série mesmo sem saber nada de xadrez
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AVISO IMPORTANTE: Este texto contém detalhes da série "O Gambito da Rainha", da Netflix
Para ver a série "O Gambito da Rainha" não é necessário ser um mestre do xadrez, mas conhecer algumas peças-chave do esporte sem dúvida a torna mais interessante. A série da Netflix —estrelada pela atriz anglo-argentina Anya Taylor-Joy— é uma história baseada no romance homônimo do escritor Walter Tevis.
Embora seja uma série de ficção, os conceitos do jogo e vários dos personagens ali mencionados são reais. A produção foi bem recebida pela crítica, em parte por ser fiel ao ambiente e aos detalhes do jogo. Garry Kasparov, o melhor jogador de xadrez da história, foi um dos conselheiros da série.
1. O NOME DA SÉRIE E DOS EPISÓDIOS
Um jogo de xadrez é literalmente uma batalha com começo (chamado de abertura), meio e final. Antes dessa batalha, cada jogador prepara a estratégia com a qual o duelo começará.
O gambito é uma delas e, como todas as aberturas, revela muito sobre o estilo e a personalidade do jogador. É uma forma de "mostrar os dentes" e alinhar seu exército para a guerra.
Existem vários gambitos, e o da rainha é uma das mais jogadas no xadrez. Trata-se de uma abertura na qual você sacrifica um peão para acelerar o desenvolvimento das peças na partida. No entanto, enxadristas jamais usam a expressão "gambito da rainha", mas sim "gambito da dama", que é como a peça é de fato chamada pelos jogadores - entre outras coisas, para que, ao anotar os movimentos da partida, não se confunda a inricial da peça com o "r" de rei.
Se você olhar o nome de cada episódio, verá que eles seguem a ordem da batalha: primeiro há a abertura; depois, a troca em que ambos os jogadores capturam as peças do adversário. Depois, o meio do jogo e o fim da partida.
O Episódio 3 é chamado de "Peões dobrados", em referência a uma posição em que dois peões da mesma cor estão localizados numa mesma coluna. Isso pode ser considerado um ponto fraco, mas não é necessariamente assim.
O Episódio 4 é chamado de "Ataque Duplo", quando uma única peça está ameaçando duas peças do oponente ao mesmo tempo.
2. AS JOGADAS
Ao longo da série, os jogadores discutem as estratégias de ataque ou defesa de seus jogos. Os enxadristas profissionais estudam esses movimentos, seja para tentar segui-los ao pé da letra ou aplicar variações que surpreendam o adversário.
Uma das primeiras jogadas que aprendemos na série é o "Mate do pastor", com a qual o zelador do orfanato vence Beth - é uma maneira rápida de se ganhar de um iniciante em apenas quatro movimentos.
Se a série te motivou a aprender xadrez, experimente fazer um Mate do pastor com as peças brancas, mas também aprenda a evitá-lo jogando com as pretas. Assim você se salvará de uma derrota humilhante como a de Beth.
Mais adiante, os jogadores mencionam a "defesa siciliana", ou a "defesa Caro-Kann", ambas para jogar com as pretas.
Em geral, diz-se que quem joga com as brancas leva uma ligeira vantagem. Por isso, o jogador das pretas sempre prepara uma defesa poderosa de acordo com o jogo que lhe é proposto.
A defesa siciliana é o que os jogadores chamam de uma defesa "semiaberta". Ou seja, ela propõe um jogo mais agressivo, embora, como Beth menciona, também possa ter uma versão mais fechada.
A Caro-Kann, por sua vez, é uma estratégia muito mais conservadora, com a qual o jogador muitas vezes aspira a uma tablas, que é como se chama o empate no xadrez.
Outras estratégias famosas mencionadas na série são a abertura Réti ou a abertura Ruy Lopez. Todas essas aberturas e defesas são discutidas em extensos livros que fazem parte do cotidiano dos enxadristas.
3. OS GRANDES MESTRES
No seriado, Beth aprende com os melhores. Esses jogadores que atingem o nível mais alto de jogo são chamados de "grande mestre" e acumulam uma pontuação com a qual são classificados em um ranking mundial.
A pontuação que cada jogador acumula no xadrez é chamada de "Rating Elo", conforme mostrado nos primeiros episódios da série. Estes estão alguns dos grandes mestres mencionados em "O Gambito da Rainha":
— José Raúl Capablanca (Cuba): foi campeão mundial entre 1921 e 1927. Ele é lembrado pela forma instintiva de jogar e citado por suas habilidades no fim das partidas e pelas posições sólidas que conquistava.
— Paul Morphy (EUA): o site especializado chess.com o descreve como "a personificação do xadrez romântico de ataque" e como o jogador mais forte do século 19. Seu sobrenome batiza uma defesa popular.
— Alexander Alekhine (Rússia): Em uma cena, Benny Watts diz que Beth "ataca como Alekhine". Ele é lembrado por sua habilidade tática e é autor de livros considerados clássicos entre os enxadristas.
— Boris Spassky (Rússia): é uma das lendas do jogo. Ao lado do americano Bobby Fischer, ele protagonizou o duelo mais famoso da história do xadrez. Eles se enfrentaram em plena Guerra Fria, no que foi visto como uma disputa de forças entre as duas potências (EUA e União Soviética). Por sinal, enxadristas veem a personagem Beth como uma espécie de versão feminina fictícia de Fischer, por sua empreitada de derrotar a máquina enxadrista soviética.
4. O XADREZ É UM JOGO DOMINADO POR HOMENS
A história fictícia de Beth reflete uma triste realidade: o xadrez é um esporte em que as mulheres não alcançaram o mesmo destaque que os homens. Inclusive, Garry Kasparov chegou a dizer (embora logo tenha se retratado) que o xadrez não era um esporte para mulheres.
Uma das jogadoras de maior destaque é a húngara Judit Polgar, que se tornou grande mestre aos 15 anos, quebrando um recorde que Bobby Fischer deteve durante três décadas. Polgar venceu estrelas como Vladimir Kramnik, Viswanathan Anand e o próprio Kasparov e,mesmo tendo se aposentado em 2014, ainda é a única mulher na lista dos 10 melhores enxadristas do mundo.
Polgar lembra que seus oponentes do sexo masculino muitas vezes a subestimavam. "Tive que me colocar à prova e competir por décadas para obter o respeito dos outros jogadores", disse Polgar à BBC em 2018.
Por sua vez, a chinesa Hou Yifan é a atual número um no xadrez feminino. Em um artigo para a BBC, ela observou que, embora haja mais mulheres competindo hoje do que décadas atrás, ainda há espaço para encorajar mais meninas a começar a jogar xadrez e a competir.