Alexandre Nero estrela o terror psicológico nonsense 'Albatroz': 'É um filme que nunca será unanimidade'
Longa tem roteiro de Bráulio Mantovani, de 'Cidade de Deus'
Conhecido por roteirizar filmes como "Cidade de Deus" (2002), "Tropa de Elite" (2007) e "Última Parada 174" (2008), Bráulio Mantovani lança o terror psicológico "Albatroz", que chega aos cinemas nessa quinta-feira (7). O elenco é estrelado. Tem Alexandre Nero como protagonista e, ainda, Maria Flor, Andrea Beltrão, Andréia Horta e Gustavo Machado. A direção é de Daniel Augusto.
"Albatroz" tem como base a história do fotógrafo Simão (Alexandre Nero) que fica famoso após retratar o momento em que um terrorista ataca um restaurante em Jerusalém. Os colegas o acusam de dar publicidade ao terror, já que ele não parou de clicar enquanto todo o desastre acontecia.
A culpa ou o trauma do fotógrafo não dá ao filme uma história com começo, meio e fim. Outros personagens se enrolam a Simão: a ex-namorada Alícia (Andrea Beltrão), a amante Renée (Camila Morgado) e atual mulher Catarina (Maria Flor).
Cada um deles dá ao público uma visão totalmente diferente do filme. Alícia escreve um livro em que vinga o desprezo de Simão. Na vida real dela - ou em um sonho - ela comete um assassinato. Na vida real ou em um sonho, novamente, ela faz uma experiência com Simão que pode ter o levado à loucura. No meio desse sonho, Simão passa por situações que nem ele mais sabe se são reais. Imagine só o que espectador pode pensar.
Segundo o roteirista Bráulio Mantovani, a intenção era realmente não explicar quase nada do que se passa pela tela.
"Todos os meus filmes perturbam, e essa é uma das missões da arte. Adoro sair perturbado do cinema, da leitura de um livro, ao ver uma obra de arte. Ficar angustiado é uma interferência estética poderosa. Isso, portanto, é o que eu busco quando eu crio também", afirma Bráulio Mantovani.
O ator Alexandre Nero, que atrai o público também das novelas, disse que já teve resposta positiva e negativa sobre o filme. "A minha peça também não tinha uma história linear. Algumas pessoas odeiam, outras saem muito tocadas. É um filme que nunca será uma unanimidade, ele divide opiniões, o que eu acho fundamental", defende o ator se referindo a peça "Grande Sucesso".
Mantovani explica que o filme é inspirado no conceito chamado de 'lógica paraconsistente', criada pelo matemático brasileiro Newton da Costa. "Hoje ele tem 89 anos e foi tratado como louco na época, mas agora essa teoria é utilizada até na criação de inteligência artificial", conta Mantovani. "Um jeito de traduzir essa lógica é pensar nas frases: 'Não, mas quase. Quase, mas não'. Pode ser um sonho, mas não. É um livro, mas não", conta o autor.
O autor diz que a tentativa do filme é retratar um cérebro desajustado, o que causa perturbação em quem assiste. "Torço para que as pessoas fiquem com vontade de ver mais uma vez, como o filme 'Estrada Perdida' foi para mim. Nunca consegui entender, mas sempre gostei de rever", brinca Mantovani ao citar o clássico de David Lynch.
Os atores Alexandre Nero e Gustavo Machado viram o filme duas vezes, conta Mantovani. "É o tipo de filme que eu adoro assistir. Fico preso na cadeira, querendo descobrir o que está acontecendo. Cada vez que eu assisto, descubro coisas novas, descarto outras que eu achava que estavam certas. Eu me divirto muito com o filme. Tenho muito orgulho de ter feito 'Albatroz'", afirma Nero.
'TODO OS MEUS TRABALHOS PASSAM PELA LOUCURA'
Ao pensar em filme mais lineares que tornaram o roteirista Bráulio Mantovani conhecido, como "Tropa de Elite", pode dar a impressão de que ele navega pela primeira vez no suspense. O autor nega.
"Minha vida não se resume ao cinema. Minhas peças de teatro e o meu romance 'Perácio' estão totalmente na praia do 'Albatroz', então isso não é uma inspiração nova na minha vida,. Sempre me interessei em estados mentais desestruturados", afirma o autor de "Perácio: Relato Psicótico" (editora Leya, 224 pags, 2010).
Mesmo assim, Mantovani não acha que seu novo filme seja tão diferente dos demais. "O 'Tropa' e o 'Cidade de Deus' passam pela loucura, não só de uma pessoa, mas da sociedade", afirma ele.