Carnaval

'Sou mulher, preta, favelada e bissexual', diz rainha do Carnaval do Rio 2023

Mari Mola é a primeira ocupante do cargo a assumir publicamente sua orientação sexual ao disputar o concurso, que existe há 55 anos e também elege o Rei Momo

'Infelizmente, nós, passistas, carregamos o estigma de que atacamos os homens', diz Mari Mola - Divulgação/Riotur

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Rio de Janeiro

Mariana Ribeiro, mais conhecida como Mari Mola, tem orgulho de ser mulher, preta e moradora da favela. Eleita recentemente Rainha do Carnaval do Rio 2023, ela também faz questão de exaltar a sua orientação sexual. Mari, 25, é a primeira ocupante do cargo a assumir publicamente que se relaciona com homens e mulheres. Uma Rainha bissexual é fato inédito nos 55 anos do concurso promovido pela prefeitura do Rio, que também elege o Rei Momo.

"Nunca escondi a minha orientação, mas sei que para muitas pessoas continua sendo um baque ver uma passista se relacionando com outra mulher. Infelizmente, carregamos um estigma de que 'atacamos os homens' e ir contra esse rótulo soa como algo espantoso, né? Só que eu não sou a única", afirma ela, que tem consciência de que serviu de exemplo para outras mulheres do samba, um meio historicamente machista. "Quando fui eleita, várias meninas vieram me dizer que se sentiram mais fortes para se livrarem das amarras e se relacionarem com quem elas quiserem."

A "Corte Real" do carnaval carioca é formada pelo Rei Momo e pela Rainha, além de duas princesas. O Rei Momo é inspirado no personagem da mitologia grega "Momos", que personificava a ironia e o sarcasmo e, no Brasil, a figura foi adaptada para a folia. O Carnaval carioca começa oficialmente no dia em que o prefeito do Rio entrega as chaves da cidade ao Rei Momo e à Rainha.

Mari conta que houve comentários de que ela poderia se prejudicar ao declarar-se bissexual e ficou positivamente surpresa com a (não) reação das pessoas à sua revelação. "Até agora está tudo em paz. A verdade é sempre o melhor caminho e eu também não estou aqui para levantar bandeiras. Simplesmente porque não preciso. Essas bandeiras estão em mim. Eu sou mulher, preta, favelada e LGBTQIA+ com o maior orgulho".

Ser sorridente faz parte dos requisitos para o cargo de Rainha do Carnaval, mas Mari fica séria quando o assunto é o preconceito e a falta de sororidade feminina, como ela sentiu na pele no tempo em que trabalhou em uma escola como professora de Educação Infantil. Ali ouviu algumas barbaridades.

"Recebi comentários de mães querendo saber se eu dava aulas com os figurinos que apareciam nas minhas redes. Eram fotos do meu visual como passista. Outra coisa, lógico. Foi duro", desabafa. Mari atualmente só trabalha com o samba, dando aulas e se apresentando em shows pelo Brasil.

Ela quer mais e já tem planos a curtíssimo prazo. "Assim que o Carnaval acabar, vou voltar a estudar para entrar na faculdade de História. Sou do samba e quero entender e me aprofundar mais sobre esse universo."