Uma batalha legal de quatro anos entre o ator Robert De Niro e uma ex-funcionária foi a julgamento na segunda-feira (30) em Manhattan, onde alegações de discriminação de gênero e gastos impróprios foram expostas em tribunal aberto.

A ex-funcionária, Graham Chase Robinson, que começou como assistente executiva de De Niro em 2008 e acabou com o cargo de vice-presidente, processou o ator e sua empresa, Canal Productions, por discriminação de gênero. Ela afirmou em seu processo que De Niro a tratava como uma "esposa de escritório", mandando-a lavar suas roupas de cama e coçar suas costas, e a pagava menos do que um funcionário do sexo masculino cujo trabalho não exigia maior habilidade ou responsabilidade do que o dela.

A Canal Productions processou Robinson, acusando-a de transferir indevidamente mais de US$ 450 mil (cerca de R$ 2,25 milhões) em milhas aéreas para sua conta pessoal e gastar dezenas de milhares de dólares do dinheiro da empresa em comida, viagens e outros serviços pessoais.

O júri decidirá a validade das alegações de ambos os lados ao mesmo tempo. Em documentos judiciais, Robinson negou fazer compras não autorizadas ou converter indevidamente milhas aéreas, e De Niro negou suas alegações de atribuir a ela trabalho "estereotipadamente feminino".

Na segunda-feira, De Niro, de 80 anos, vencedor do Oscar, que está em destaque por seu papel em "Killers of the Flower Moon", de Martin Scorsese, foi a primeira testemunha a se pronunciar no julgamento.

O QUE GRANHAM CHASE ROBINSON ESTÁ ALEGANDO?

Robinson, de 41 anos, que muitas vezes é chamada de Chase, começou a trabalhar para De Niro como assistente executiva aos 25 anos, acabando por se tornar vice-presidente de produção e finanças na Canal Productions antes de renunciar, em 2019. Apesar de suas promoções, De Niro continuamente se referia a ela como sua assistente, ela afirmou no processo, atribuindo-lhe tarefas inconsistentes com suas descrições de trabalho, como aspirar seu apartamento e consertar suas roupas.

Ela afirmou que era paga menos do que um funcionário do sexo masculino por causa de seu gênero, e que De Niro fez comentários de gênero depreciativos que incluíam chamá-la de "vadia" e "mimada", segundo o processo. (De Niro negou tê-lo feito em documentos judiciais.)

O júri considerará duas alegações específicas sob a Lei de Direitos Humanos da Cidade de Nova York: discriminação de gênero e retaliação.

A alegação de retaliação gira em torno de uma disputa entre Robinson e a atual namorada de De Niro, Tiffany Chen, enquanto trabalhavam juntos em 2018 e 2019 para preparar uma casa na Upper East Side para o casal se mudar.

Em argumentos iniciais na segunda-feira, um advogado de Robinson, Brent Hannafan, disse que Chen havia expressado preocupações a De Niro de que Robinson tinha interesses românticos nele, levando a tensões enquanto trabalhavam juntos na casa.

Depois que Robinson levantou a questão para De Niro, Hannafan disse que Chen enviou um e-mail retirando suas responsabilidades de trabalho, incluindo na casa. Robinson renunciou logo depois.

"Não havia ninguém mais leal à Canal e ao Sr. De Niro do que Chase Robinson", disse Hannafan. (Ele disse que Robinson nunca teve nenhum interesse romântico em seu chefe.)

O QUE ROBERT DE NIRO E SUA EMPRESA ESTÃO ALEGANDO?

Advogados de De Niro e sua empresa apresentaram a ascensão de Robinson na Canal Productions de forma diferente: embora ela tenha pedido o título de vice-presidente em 2017, eles disseram que suas responsabilidades de trabalho coordenando a vida pessoal e profissional de De Niro não mudaram. Eles também disseram que o funcionário do sexo masculino que recebia menos do que ela —o personal trainer de De Niro— trabalhava para o ator há significativamente mais tempo do que ela.

Em argumentos iniciais, Richard C. Schoenstein, advogado de De Niro e sua empresa, reconheceu que o trabalho de assistente pessoal de um ator e empresário de alto perfil, como De Niro, às vezes pode ser pouco glamoroso. Mas ele afirmou que De Niro havia sido um chefe gentil e generoso, posicionando Robinson como alguém que "se aproveitou" do acesso ao dinheiro e à fama cobrando quantias "extraordinárias" de despesas pessoais e lançando uma viagem a Los Angeles com falsas pretensões.

"Tudo isso estava se acumulando em uma séria quebra de confiança", disse Schoenstein, acrescentando mais tarde: "Nada do que aconteceu ocorreu porque ela era uma mulher".

As alegações da Canal Productions contra Robinson, que recebia um salário de US$ 300 mil (cerca de R$ 1,5 milhão) quando renunciou, incluem violação do dever fiduciário, violação do dever de lealdade e conversão —referindo-se à disputa sobre as milhas aéreas.

O processo também a acusou de assistir a séries da Netflix durante o trabalho —uma alegação que ganhou manchetes em 2019 —embora os advogados de De Niro não tenham mencionado essa acusação no primeiro dia do julgamento.

O QUE DE NIRO DISSE NO TRIBUNAL?

De Niro passou cerca de 90 minutos no banco das testemunhas na tarde de segunda-feira, respondendo a perguntas do advogado de Robinson sobre a rigidez de seu trabalho —ela afirmou que precisava estar "à disposição" o tempo todo— e os detalhes específicos de suas funções. Ele disse que ligaria para Robinson apenas em horários "civilizados", permitindo que ela trabalhasse remotamente quando quisesse, e que suas tarefas às vezes envolviam agendar compromissos, organizar viagens e gerenciar compras de presentes para entes queridos.

"Não é como se eu estivesse mandando ela sair e limpar o chão, esfregar o chão", disse De Niro, que usava um blazer escuro, uma camisa polo cinza e tênis.

De Niro também abordou a disputa entre Robinson e sua namorada, Chen, dizendo que quando apresentou as duas em 2018, "eu queria que tudo desse certo. Eu queria que todos fossem felizes e se dessem bem".