Danny Masterson: Por que julgamento do ator de 'That 70's Show' envolve a cientologia?
Se condenado por série de estupros, ele pode pegar 45 anos de pena ou até prisão perpétua
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Danny Masterson, ator conhecido por seus papéis nas séries "That '70s Show" e "The Ranch", uma sitcom da Netflix da qual ele foi despedido em 2017 depois de ser acusado de agressão sexual, está sendo julgado em Los Angeles por acusações de ter estuprado três mulheres em sua casa em Hollywood Hills, no início dos anos 2000.
Masterson, 46, se declarou inocente das três acusações de estupro. Os argumentos iniciais foram apresentados em 18 de outubro, e a expectativa é de que o julgamento termine em breve. Masterson pode ser sentenciado a 45 anos de prisão ou prisão perpétua, caso condenado.
Na segunda-feira (14), o ator optou por não prestar depoimento para se defender durante o julgamento. Ele anunciou sua decisão à juíza Charlaine Olmedo.
QUAIS SÃO AS ACUSAÇÕES?
De acordo com o documento de instrução do processo, apresentado pela procuradoria pública do condado de Los Angeles, Masterson estuprou uma mulher, identificada apenas como Jen B., em abril de 2003, depois que ela foi até a casa dele para buscar suas chaves e ele lhe deu uma bebida de vodca vermelha. Cerca de 20 ou 30 minutos mais tarde, ela começou a se sentir "muito desorientada", diz o documento.
De acordo com a acusação, Masterson a estuprou depois que ela recuperou a consciência, na cama dele. Ela tentou puxar o cabelo do ator e tentou empurrar um travesseiro contra o rosto dele, afirma o documento de instrução. Quando Masterson ouviu um homem gritando dentro da casa, ele apanhou uma arma em sua mesa de cabeceira e disse a ela para não se mover ou "dizer uma palavra", acrescentando diversos palavrões, de acordo com a acusação.
O documento de instrução diz que Masterson estuprou uma segunda mulher, identificada apenas como Christina B., com quem ele teve um relacionamento e que viveu com ele por seis anos.
Em novembro de 2001, segundo o documento, ela acordou com Masterson "fazendo sexo com ela" e disse a ele para parar. "Eu lutei", ela disse, de acordo com o documento. "Tentei afastá-lo de mim e dizer: 'não, não quero ter relações sexuais com você'". Ela também puxou o cabelo dele, e Masterson bateu nela, segundo o documento de instrução.
Em dezembro de 2001, ela tomou um ou dois copos de vinho em um restaurante com Masterson e acordou nua em sua cama na manhã seguinte, sentindo dor quando tentava se sentar ou ir ao banheiro, de acordo com o documento de instrução. Ela disse que desceu ao andar inferior e confrontou Masterson, e que ele admitiu ter feito sexo com ela enquanto ela estava inconsciente, diz o documento.
O documento de instrução afirma que Masterson estuprou uma terceira mulher, identificada apenas como N. Trout, com quem ele ocasionalmente se encontrava em festas e reuniões e que, como ele, era parte do Centro de Celebridades da Igreja da Cientologia.
Em algum momento entre outubro e dezembro de 2003, ela foi à casa dele, onde Masterson lhe deu um copo de vinho e lhe disse para tirar a roupa e entrar em sua banheira de hidromassagem, onde "tudo começou a sair de foco", de acordo com o documento. Ele a agrediu no chuveiro e em uma cama, diz o documento. Trout disse a ele: "Não, não quero fazer isso", de acordo com o documento.
QUAL É O ENVOLVIMENTO DA IGREJA DA CIENTOLOGIA?
O julgamento envolve acusações por duas das mulheres de que a Igreja da Cientologia, à qual elas e Masterson pertenciam, desencorajou que elas denunciassem as violações às autoridades policiais.
Depois de buscar permissão da igreja, verbalmente e por escrito, para denunciar o estupro, Jen B. recebeu uma resposta por escrito do diretor de justiça internacional da igreja que citou uma norma de 1965 a respeito de "atos supressivos", afirma o documento de instrução.
Para ela, a resposta sinalizava que, se denunciasse um correligionário à polícia, "eu seria declarada uma pessoa supressiva, e estaria fora de contato com minha família, amigos e tudo o que tenho", diz o documento. Ainda assim, ela relatou o estupro às autoridades policiais em junho de 2004, o documento afirma.
A mulher identificada como Christina B. disse que, quando ela relatou o estupro ao "oficial de ética" ou "mestre de armas" da igreja, o representante da organização lhe disse que "não há como estuprar alguém com quem você tem um relacionamento" e "não diga essa palavra novamente", o documento afirma.
O representante mostrou a ela "normas e artigos do Livro de Ética sobre altos crimes na Cientologia". Uma dessas regras envolvia "delatar outro cientologista às autoridades policiais", ela disse, de acordo com o documento.
A vítima entendeu que, se fosse à polícia, "a igreja teria acabado por destrui-la" e a declararia uma "pessoa supressiva", diz o documento.
A mulher identificada como N. Trout contou à sua mãe e à sua melhor amiga sobre o estupro, mas não à igreja, o documento afirma.
"Se você tem uma situação legal que envolve outro membro da igreja, não pode lidar com ela fora da da igreja, e isso é muito explícito", disse Trout, de acordo com o documento de instrução. Ela acrescentou que "se sentiu suficientemente intimidada pelas repercussões".
O QUE DIZ A IGREJA?
A igreja vem negando fortemente que tenha pressionado as vítimas. A instituição acusa a promotoria de inserir a cientologia no julgamento e de deturpar suas doutrinas e crenças "para despertar paixão e preconceito nos desinformados", declarou a organização em um comunicado enviado por email em 21 de outubro.
"A igreja não desencoraja qualquer pessoa de denunciar qualquer suposto crime, nem diz a qualquer pessoa que não denuncie qualquer suposta conduta criminosa", afirmou a organização em seu comunicado. "A igreja não tem norma alguma que proíba ou desencoraje os membros de denunciar conduta criminosa de cientologistas, ou de qualquer pessoa, às autoridades policiais. Muito pelo contrário. As normas da da igreja exigem explicitamente que os cientologistas respeitem todas as leis do país".
O QUE DIZ MASTERSON?
Um advogado que representa Masterson declarou em 2020 que o ator era inocente e que Masterson e sua mulher estavam "em completo choque" por fatos acontecidos "quase 20 anos atrás" terem resultado em acusações. "As pessoas que conhecem Masterson conhecem seu caráter e sabem que as acusações são falsas", disse o advogado, Tom Mesereau.
Philip Cohen, que está representando Masterson no julgamento, procurou limitar a discussão da cientologia no tribunal, dizendo à juíza que preside ao julgamento, no mês passado, que isso iria influenciar o júri injustamente e forçar a defesa a travar uma "guerra em duas frentes", relatou o jornal The Los Angeles Times.
Mas a juíza, Charlaine Olmedo, do Tribunal Superior da Califórnia no condado de Los Angeles, determinou que a cientologia era relevante para o caso, e que as mulheres estavam autorizadas a testemunhar sobre sua crença de que as normas da igreja as desencorajavam de relatar as acusações às autoridades policiais, informou o jornal.
Tradução de Paulo Migliacci