Júri avalia destino de R. Kelly após depoimentos sobre crimes sexuais
Deliberações sobre o caso devem ser retomadas na próxima segunda (27)
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Depois de 21 dias de audiências, que incluíram 50 depoimentos e horas de testemunhos dolorosos, os membros do júri se retiraram nesta sexta-feira (24) para deliberar sobre se o famoso cantor R. Kelly, 54, orquestrou uma rede de crimes sexuais por cerca de três décadas.
Diante da falta de um veredicto ao cair da noite, o juiz mandou os membros do júri para casa durante o fim de semana, antes da retomada das deliberações na segunda-feira.
O caso, atrasado por mais de um ano por causa da pandemia, é considerado um marco para o movimento #MeToo por ser o primeiro julgamento importante por abuso sexual no qual a maioria dos acusadores é mulher.
A promotoria teceu minuciosamente os fios das supostas irregularidades de um intrincado padrão de crimes que o artista teria cometido com impunidade, capitalizando sua fama para se aproveitar de mulheres jovens e adolescentes para sua própria satisfação sexual.
O estado tinha a tarefa de demonstrar que o cantor, cujo nome de registro é Robert Sylvester Kelly, é culpado de crime organizado, uma acusação grave comumente associada à máfia, que apresenta Kelly como o chefe de um grupo de associados que facilitaram seus abusos.
Ele também é alvo de oito acusações em virtude da Lei Mann, que proíbe o transporte de pessoas através das fronteiras estaduais por motivos sexuais.
Para condenar Kelly por extorsão, os membros do júri devem considerá-lo culpado de pelo menos duas das 14 infrações conhecidas como "predicate acts", que juntas constituem crimes mais graves.
Os testemunhos para provar estes atos incluem acusações de estupro, uso de drogas, cárcere e pornografia infantil.
As histórias dos acusadores mantêm um padrão: muitas das supostas vítimas contaram ter conhecido o cantor em shows ou apresentações em centros comerciais, e que seu séquito lhes entregou bilhetes com o contato de Kelly.
Várias receberam a promessa de que podiam impulsionar suas aspirações na indústria musical.
Mas segundo os promotores, ao contrário, todos foram "doutrinados" no mundo de Kelly, preparados para atender a seus caprichos sexuais e mantidos à margem mediante "meios coercitivos de controle", incluindo o isolamento e medidas disciplinares cruéis.
"Não é um gênio. É um criminoso. É um predador", disse Nadia Shihata, assistente do promotor federal aos jurados.
"Compor canções de sucesso e se apresentar para o público no palco não te dá permissão para cometer crimes".
A defesa de Kelly fez um retrato drasticamente diferente do astro, argumentando que era um "símbolo sexual" e um "playboy", que estava sendo atacado por suas ex-namoradas e fãs famintas por dinheiro.
Shihata afirmou ao júri que as testemunhas (nove mulheres e dois homens, que detalharam abusos devastadores no tribunal) "reviveram alguns dos piores períodos da sua vida".
PADRÃO CRIMINOSO?
A acusação se concentra em seis mulheres: Jerhonda, Stephanie, Faith, Sonja e outra que depôs sob um pseudônimo, juntamente com a estrela do R&B Aaliyah, falecida em um acidente aéreo em 2001.
Várias outras vítimas que alegaram abusos puderam testemunhar como parte da tentativa da promotoria de detalhar um padrão criminoso, embora estes depoimentos não façam parte das acusações.
Seis das supostas vítimas eram menores de idade quando Kelly iniciou as relações sexuais com elas. Muitas vítimas também contaram que o cantor filmava rotineiramente os encontros, o que em vários casos constituiria pornografia infantil.
Sonja viajou de Utah ao estúdio de Kelly em Chicago acreditando que ele lhe daria uma entrevista para o programa de rádio para o qual trabalhava como estagiária.
Ao contrário, disse que os sócios de Kelly a prenderam em um quarto sem janelas por vários dias, antes de lhe dar comida e bebida que a fizeram adormecer rapidamente.
Ela acordou sem a roupa de baixo e viu Kelly vestindo as calças. Outra mulher disse que Kelly a obrigou a abortar porque a teria engravidado quando era menor de idade.
Quatro contaram ter contraído herpes após fazer sexo com o cantor, que não revelou ser portador desta doença venérea.
O centro do caso foi a relação de Kelly com Aaliyah. Kelly compôs e produziu seu primeiro álbum, "Age Ain't Nothin 'But A Number", antes de se casar ilegalmente com ela quando ela tinha apenas 15 anos porque temia tê-la engravidado.
Seu ex-agente admitiu na corte ter subornado um trabalhador para obter uma identificação falsa da união, que foi anulada em seguida.
Os promotores também mostraram ao júri gravações em vídeo que não foram vistas pelo público com imagens arrepiantes de Kelly ameaçando, batendo e humilhando mulheres e crianças.
Kelly, um importante astro do R&B da década de 1990 e começo dos anos 2000, conhecido por sucessos como "I Believe I Can Fly", nega todas as acusações.
O cantor se manteve estoico durante boa parte do processo, embora durante a maratona de alegações finais da promotoria parecesse agitado, sacudindo a cabeça.
As acusações de abuso acompanham o artista há muito tempo, mas ele conseguiu se livrar delas durante décadas. Ele enfrenta julgamentos em três outras jurisdições, inclusive numa corte federal do Illinois.