Celebridades

Em ascensão no humor, Yuri Marçal prepara 'tragicomédia de quarentena' com namorada

Em entrevista, artista fala sobre lista de projetos que inclui talk show e assistência psicológica

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São Paulo

Yuri Marçal faz parte de um seleto grupo de artistas que manteve a rotina de trabalho no isolamento social. Conhecido por usar da ironia para a produção de vídeos de humor em tom de crítica social, o carioca de 27 anos tem aproveitado o momento em casa para desenvolver novos projetos, com ideias que surgem a cada semana.

Após estrear o seu próprio Talk Show “Cá Entre Nós”, no último dia 10, o carioca trabalha em um filme de “média duração”, como ele mesmo define, no gênero tragicômico. “É basicamente sobre um casal que está junto há algum tempo, e a mulher chega na casa do homem para terminar o relacionamento. Mas, neste momento, é decretado o lockdown. Ela não sabia e não pode mais sair, a não ser em caso de urgência, E começam as questões”, explica o humorista com exclusividade ao F5.

O projeto, ainda sem nome oficial, é inteiramente gravado em sua casa, com direção e atuação da namorada, Jeniffer Dias, e junto a um cinegrafista. O lançamento está previsto para este mês. Esse é mais um item da lista de trabalhos feitos pelo humorista em um ano tão caótico, e que obrigou muitos artistas a pausarem suas carreiras.

O ator e humorista também desenvolve uma ação social com o Projeto Geni, do Instituto Marçal, criado neste ano com o objetivo de combater o racismo e, principalmente, promover a saúde mental da população negra com esportes, atividades culturais, capacitação e atendimento psicológico online com o intuito de potencializar a autoestima da população afrodescendente.

Marçal explica que a ideia do projeto surgiu em 2019 após ser abordado por uma pessoa que mantinha um trabalho social, mesmo em situação precária. Nos meses seguintes, ele começou a desenvolver o projeto até a chegada da pandemia. "Montamos uma equipe de psicólogos e psiquiatras para o atendimento, já que os transtornos das pessoas aumentaram."

"Estou à mercê para que as pessoas possam fazer as atividades. Vou incluir coisas que eu quero valorizar, que faltam em uma escola, como educação sexual, financeira, alguns cursos", adianta.

ROSTO DA NOVA GERAÇÃO

Apontado como um dos principais rostos da nova geração de humoristas brasileiros, Yuri Marçal ainda se acostuma com a fama. Apesar de ser fã de stand-up comedy desde que o gênero voltou a fazer sucesso no Brasil, há mais de uma década, o carioca quase concluiu uma graduação na faculdade de direito, antes de se decidir pelos palcos e passar mais de um ano abrindo shows de Whindersson Nunes.

"Não sei se diria que sou ‘o novo rosto’ dessa nova geração de comediantes, mas certamente sou um deles. Nem digo que é ‘nova geração’, porque apesar de ser algo novo no Brasil, já existe muito nos Estados Unidos", diz ele, citando humoristas internacionais em quem ele se espelha, como Kevin Hart.

No Brasil, seu maior exemplo é Fábio Porchat, com quem ele contracena na 2ª temporada da série “Homens?”, que reconheceu o potencial de Marçal alguns anos antes. Foi em 2018 que Marçal percebeu que não era “qualquer um”, e se surpreendeu por conseguir alcançar tantos públicos pela forma como trata de temáticas adversas. “Percebi que tinham pessoas achando engraçado e querendo ouvir mais. Isso me surpreendeu, porque achava que eu falava para a bolha da bolha”, conta.

"Se eu tivesse que definir o ‘meu tipo de humor’, seria ‘o humor que eu gosto de assistir’. É um humor que vai te dar uma alfinetada, mas um humor de ‘luta’. Estou ciente que não posso ser só palestrante. Também não é revolucionário, mas é importante que exista", continua.

"Claro que a conscientização das pessoas ajuda muito ao perceber que a piada faz parte de uma realidade verdadeira. Hoje em dia, eu consigo fazer isso muito mais tranquilamente do que em 2007 e 2008. Suponho que é porque [meu humor] é bem feito e, por isso, tenho esse espaço."

Apesar de ainda se deparar com situações de racismo, mesmo no meio artístico, Marçal tem se espelhado na experiência dos últimos meses para confiar no seu trabalho. "Você sabe que seu show é bom, que há pessoas reconhecendo isso, e ainda assim a cena te ignora –e, coincidentemente, você é preto. É aí que eu ainda enxergo o problema."