No ar como a estilosa Poc de 'O Tempo Não Para', Leo Bahia diz que ser gordinho é luta diária
'Ouvi que meu tamanho é difícil. Difícil? Uma a cada 5 pessoas no Brasil é obesa', desabafa
As postagens alto astral de Leo Bahia são marca registrada no Instagram do ator, que está no ar em “O Tempo Não Para” (Globo) como o estiloso Igor - apelidado de Poc pela estilista Zelda (Adriane Galisteu). No entanto, um dos posts mais bombados da rede social do artista foi um triste desabafo sobre a dificuldade de ser gordinho numa sociedade que venera a magreza.
Na maioria das vezes, Leo consegue se blindar de comentários preconceituosos e de tudo o que lhe adverte que está fora dos atuais padrões estéticos. A tarefa, segundo ele, não é fácil.
“Ainda é uma luta diária. Vivemos numa sociedade que nos diz o tempo todo o quanto o nosso corpo não é o desejável ou o bonito. Às vezes isso vem de pessoas super próximas, cultuando a forma magra ‘escultural’ que só te faz pensar o quanto você não se encaixa nesse padrão”, afirma ele ao F5.
Enquanto os arquétipos não mudam, o negócio é exercitar a paciência e o equilíbrio emocional.
“Passei a ter o entendimento de que vai demorar para as pessoas verem que o diferente não é feio, que o feio e o bonito são padrões inalcançáveis que foram inventados para a gente comprar mais produto de beleza, fazer mais plástica, comprar mais remédio, comprar comprar, comprar e ficar cada vez mais insatisfeito com quem a gente é.”
Procurado por outros gordinhos nas redes sociais, que se identificam com suas angústias, Leo afirma que o carinho destes seguidores o deixa mais calmo, feliz e que o faz perceber que não está sozinho.
QUEM NUNCA?
Ansioso, Léo Bahia diz que sua relação com a comida é emocional. Está triste? Come. Está feliz? Come também. De preferência, intercalando salgados e doces. Entre tantas opções, macarrão de abobrinha é seu prato preferido.
Os exames de sangue vão muito bem, obrigado. Falta um pouco de flexibilidade corporal e disposição. Como a maioria dos mortais, já apelou para dietas malucas.
“Sinto a dieta como se fosse uma luta que às vezes estou disposto a lutar e às vezes não tenho forças. Mas com certeza a solução está em exercícios e numa reeducação alimentar (que já tentei, mas acabo desistindo depois de um tempo). Note que quando eu falo sobre aceitação e amar o próprio corpo, não estou dizendo para sair comendo desenfreadamente. O que eu digo é que nós, gordos, existimos. Independentemente da nossa saúde ou de dieta, queremos ser respeitados.”
Apesar de já ter ouvido muitos comentários desagradáveis relacionados a sua forma física, Leo diz que guarda pouco rancor - o que não quer dizer que tenha apagado esses episódios da memória.
“Já ouvi coisas como: ‘uma calça pequena assim seria para um corpo bonito e não para o seu, né?!’ E em frente a uma arara com mais de 200 ternos, ouvi dizerem que meu tamanho é ‘difícil’. Difícil? Uma a cada 5 pessoas no Brasil é obesa. Difícil é viver num mundo que ignora a minha existência e não o meu tamanho de roupa”, afirma ele.
“O pior é que quem disse isso nem deve lembrar que disse, mas em mim ficou marcado a hora, o dia, o lugar e principalmente, as palavras.”
O policiamento que a família, amigos e conhecidos fazem do que coloca em seu prato também é uma constante na vida de Leo - que reprova a atitude.
“Cuida do teu que eu cuido do meu (risos). Não é porque você vê que eu sou gordo que te dá o direito de comentar sobre minha aparência ou o que eu como.”
MERCADO RESTRITO
Leo Bahia não titubeia quando questionado sobre o mercado de trabalho para os atores gordinhos.
“É mais restrito, com certeza. Por isso fico muito feliz quando passo para um papel que nada tem a ver com o meu peso, como é esse papel que estou fazendo agora em ‘O Tempo Não Para’, o Igor Poc. Eu considero isso uma vitória e agradeço muito a Juliana Silveira (produtora de elenco), Leo Nogueira (diretor) e Mário Teixeira (autor) por me enxergarem além do meu peso.”
O artista afirma que acredita que todos os atores e atrizes gordinhos perdem papeis diariamente por causa da estética, mas consegue vislumbrar uma mudança.
“A gente pode fazer qualquer papel em que não está escrito: ‘tem que ser magro’. Mas, simplesmente nem somos cotados como possibilidade. Acho que isso está em processo de mudar, mas ainda está engatinhando.”