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Britânica é suspensa do trabalho por se recusar a usar salto alto e gera debate sobre sexismo

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Selo BBC Brasil

Uma recepcionista de Londres foi suspensa do trabalho depois de se recusar a usar saltos altos, levantando debates sobre sexismo.

Nicola Thorp, de 27 anos, foi contratada em regime temporário na empresa PwC, e seus empregadores disseram que ela teria de usar sapatos com salto de "5 a 10 centímetros" de altura.

Quando ela se recusou a usar salto e reclamou que os funcionários masculinos não tinham obrigações equivalentes, foi mandada de volta para casa sem pagamento.

"Disse a eles que consideraria (a exigência) justa se me explicassem por que usar sapatos sem salto prejudicaria a realização do meu trabalho, mas eles não me explicaram", disse Thorp à BBC.

"Eles queriam que eu fizesse um turno de nove horas de pé levando clientes para salas de reuniões. Respondi que simplesmente não conseguiria fazer isso de salto alto."

Quando a britânica perguntou se a empresa esperava que algum homem fizesse o mesmo trabalho de saltos, disse que ouviu risadas.

Thorp afirmou também que entende o "direito (da empresa) de ter um código de vestimenta formal", mas opinou que eles "devem refletir a sociedade, e hoje as mulheres podem ser elegantes e formais e usar sapatos sem salto. Além do fator debilitante, é uma questão de sexismo. Acho que as empresas não deveriam obrigar suas funcionárias a isso".

A Portico, empresa terceirizada que contratou Thorp, disse que ela assinou contrato aceitando as normas, mas de qualquer forma prometeu revisá-las. Já a PwC afirmou que não tem como política recomendar trajes a funcionários.

Nicola Thorp opina que uso obrigatório de saltos no trabalho é debilitante e sexista
Nicola Thorp opina que uso obrigatório de saltos no trabalho é debilitante e sexista - BBC

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O incidente ocorreu em dezembro de 2015. Nicola Thorp comentou o que aconteceu com os amigos e, depois de fazer um post no Facebook, percebeu que outras mulheres já tinham passado pela mesma situação.

"Eu estava um pouco assustada quanto a falar a respeito, (temendo) alguma reação negativa. Mas percebi que precisava dar uma voz ao que me aconteceu", afirmou.

Nesta semana, Thorp iniciou um abaixo-assinado pedindo mudanças na lei britânica, que dá aos empregadores o direito de demitir funcionários que não acatem códigos de vestuário "razoáveis". 

Até agora, ela conseguiu cerca de 20 mil assinaturas. Se o abaixo-assinado receber cem mil assinaturas, há uma chance de os parlamentares discutirem a questão.

Um código de vestimenta que exige saltos altos "cheira a sexismo", na opinião de Frances O'Grady, secretária-geral da União de Sindicatos da Grã-Bretanha, TUC. "Saltos altos devem ser uma escolha, não uma exigência", acrescentou.

Processo?

O incidente com Nicola Thorp levantou questões: uma funcionária obrigada a usar salto alto no trabalho poderia processar a empresa?

"Se eles criaram a norma por achar que os saltos fazem a mulher parecer mais sensual, então há um caso (judicial), porque ser sensual não é uma exigência da função", afirmou Lawrence Davis, diretor do escritório de advocacia britânico Equal Justice Limited.

E há ainda um debate em torno do bem-estar dos funcionários.

"Para a saúde dos pés, saltos altos são um desastre", disse Tony Redmond, especialista em biomecânica da Universidade de Leeds.

"As articulações do pé podem ficar danificadas pelo uso de saltos altos e isso pode causar algumas formas de artrite."

Redmond também alertou que o uso regular de saltos altos também pode aumentar o desgaste na área da articulação dos joelhos, o que eleva o risco de a pessoa desenvolver osteoartrite. Também aumenta o risco de problemas nas vértebras para pessoas com problemas na região lombar.

Nicola Thorp afirma uma mulher pode ser elegante com sapatos sem saltos
Nicola Thorp afirma uma mulher pode ser elegante com sapatos sem saltos - BBC

A organização britânica College of Podiatry, especializada em podologia, também afirma que as empresas não devem obrigar mulheres a usar saltos altos pois eles podem causar joanetes e problemas na coluna, tornozelos e pernas.

Há precedentes de polêmicas pelo mundo. No Canadá, as fotos dos pés ensanguentados de uma garçonete - que trabalha em período integral usando saltos altos por exigência do empregador - já foram compartilhadas mais de 10 mil vezes no Facebook.

Em 2015, uma empresa aérea israelense, a El Al, estabeleceu que as comissárias de bordo tinham que usar saltos altos até que todos os passageiros estivessem sentados.

'Sapatos inadequados'

Simon Pratt, diretor-geral da empresa Portico, que contratou Nicola Thorp, afirmou que ela se apresentou no trabalho com "sapatos inadequados", mesmo tendo aderido "às regras de aparência" pré-estabelecidas em contrato.

De acordo com Pratt, tais regras são "práticas comuns no setor de serviços", mas a companhia pretende revê-las.

A PwC, empresa onde Thorp trabalharia como recepcionista, afirmou que a discussão se limita às políticas e práticas da Portico.

"A PwC terceiriza os serviços de recepção (...). Soubemos da questão no dia 10 de maio, cerca de cinco meses depois de o problema ter acontecido. A PwC não tem regras de vestuário específicas para funcionários masculinos nem femininos", disse um porta-voz da empresa.

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