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O futuro não é mais como era antigamente (dica: nunca foi)

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Então hoje, 21 de outubro de 2015, é o dia em que Marty McFly (Michael J. Fox) aterrissa no futuro depois de dar sua segunda voltinha no DeLorean —na primeira, ele havia ido parar em 1955, numa América pré-Kennedy, pré-rock and roll e que não fazia ideia de quem fosse Calvin Klein.

O caminho mais fácil para quem escreve sobre o segundo filme da trilogia "De Volta para o Futuro", de 1989, é listar todas as previsões furadas dos pobres roteiristas para depois, confortavelmente instalado em 2015 (OK, talvez nem tanto), divertir-se com quão longe elas ficaram do alvo.

Carros voadores? Nem pensar. Skates flutuantes? Até já projetaram um, mas não é beeem como no filme. Sapatos que se calçam sozinhos? Que nada —todo dia, os seres humanos que ganham o suficiente para comprar sapatos têm de encarar a dura rotina de amarrá-los.

E, convenhamos, só um acumulador mil vezes mais maluco que Doc Brown, o cientista parceiro de Marty McFly, teria hoje aparelhos de fax pela casa toda —sugiro ao leitor menor de 20 anos, se é que há algum aí, googlar para saber o que é "fax".

Aliás, o verbo "googlar" aponta para a principal lacuna na bola de cristal do diretor Robert Zemeckis: a internet. Já em desenvolvimento na época, a "rede mundial de computadores" entraria em operação comercial no Brasil meros seis anos após o filme.

No ano 2015 de Marty McFly não existem sites, blogs, redes sociais, Snapchat, Instagram. Não há nem mesmo celulares ou smartphones, já que os personagens se comunicam com uma engenhoca vagamente parecida com o que seria hoje o Google Glass.


Para sermos mais justos, podemos lembrar que as Mães Dinah de Hollywood acertaram algumas coisas —TVs de tela plana, Skype e biometria, por exemplo.

Em tese, nenhuma dessas previsões, certas ou erradas, importa quando o roteiro é bem escrito. Mas talvez elas ajudem a explicar por que o primeiro filme, de 1985, é de longe o melhor da trilogia.

Para um adolescente dos anos 80, era divertido constatar o quanto a adolescência de seus pais, 30 anos antes, era ao mesmo tempo um mundo familiar e um planeta totalmente diferente.

A maioria das situações cômicas do primeiro filme —como Marty fazendo um solo de guitarra no chão diante de uma plateia atônita— explorava esse contraste.

É diferente de esperar que o espectador de 1989 risse das excentricidades de um mundo que ele ainda não conhecia ("nossa, skate voador, que louco. E no cinema passa 'Tubarão 19', haha") e que, no fim, era só a década de 80 —aquela época em que seres humanos usavam ombreiras— razoavelmente exagerada.

Tudo somado, previsões erradas tendem a ser mais divertidas que qualquer futuro imaginado, principalmente porque nenhum roteirista, nem sob efeito de drogas, consegue ser tão delirante quanto a vida como ela é.

Se fizessem um "De Volta para o Futuro" brasileiro em 1989, quem conceberia Collor e Lula como bons companheiros, o Corinthians ganhando uma Libertadores ou a seleção levando sete gols em uma semifinal de Copa?

Por falar nisso, aceito carona no DeLorean rumo a 1958. Mas espero que me deixem levar o smartphone.


RUY GOIABA foi colunista do "F5" e adolescente nos anos 80. Sobreviveu, mas não sem sequelas.

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