Televisão

Para competir com web, TV está mais próxima da vida real, diz ex-diretor da MTV

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A internet mudou a TV, que está cada vez mais próxima do mundo on-line —e do mundo real. O diagnóstico é de Zico Goes, 49, que após 20 anos na direção de conteúdo da MTV, assumiu há dois meses a coordenação do departamento de TV da produtora Conspiração.

"Como telespectador aflito vejo que a TV melhorou muito nos últimos anos. Uma das razões foi a pulverização ocorrida com a TV paga, que trouxe diversidade e transformou a televisão em uma espécie de grande banca de jornal", afirma.

O outro ponto de virada é justamente a internet. "Antes, a programação era muito glamorizada, distante da realidade do espectador. Com o advento da internet, ficou claro que as pessoas querem se relacionar de verdade, ver coisas com que se identificam mais. Com o advento dos reality shows, as pessoas passaram a querer um pouco mais de verdade e menos roteiro."

Crédito: Daniel Marenco/Folhapress O ex-diretor da MTV Zico Goes na sede da Conspiração Filmes, em Botafogo, Rio, na qual é diretor
O ex-diretor da MTV Zico Goes na sede da Conspiração Filmes, em Botafogo, Rio, na qual é diretor

Goes acredita que reflexos da proximidade com a web podem ser vistos até na TV aberta, que ficou mais natural e menos robótica. "Nos telejornais clássicos, de bancada, passaram a reconhecer que tem um colega do lado. Olham, interagem, adotam uma linguagem mais real. Em alguns programas, até a bancada foi extinta."

APRESENTADOR NU

O emblema maior dessa fase, segundo o diretor, é a ascensão de uma figura como Tiago Leifert, apresentador esportivo da Globo que também comandou o "The Voice", descontraído e extrovertido. "Ele está nu. Aparece a calça, o pé. O Tiago é um cara perfeito para isso porque é ele mesmo, é solto." O diretor destaca ainda o novo "Vídeo Show", sem bancada e com auditório, como expoente da tendência.

"Junte a isso as redes sociais, que hoje são usadas para comentar o que acontece na TV. Mais de 50% dos assuntos discutidos lá tem a ver com a programação de TV. Isso faz com que a velha mídia, a televisão, vá bem, obrigado."

Mas, contraditoriamente, nesta nova fase mais "real" da TV, o roteiro é determinante para o modelo de maior sucesso. Zico Goes avalia que a série de ficção é a mina de ouro da televisão hoje. A lei da TV paga acelerou a corrida por seriados no país, e o cenário global —nos EUA, as séries de TV hoje têm sido vistas como um produto mais nobre do que a atual produção de Hollywood— dá um empurrãozão. O resultado são novas estreias todos os meses.

O curioso é ver que o movimento não ocorre apenas na TV paga, que tem que cumprir a meta da produção nacional, mas também nas TVs abertas —que, embora tenham estrutura de produção, passam a encomendar seriados prontos ou em esquema de coprodução a produtoras independentes. No caso da Globo, por exemplo, os "Experientes", que deve ser exibido ainda neste ano, é feito em coprodução com a O2, e "Doce de Mãe", que estreia no fim do mês, com a Casa de Cinema de Porto Alegre.

"A audiência quer diversidade. Se o cara produz e emite ao mesmo tempo, acaba mofando, não abre a janela para entrar ar fresco. Abrir a janela e fazer com que a produção independente alimente os canais traz novidade, novos atores, apresentadores, estética."

ACERVO DA MTV

Além de comandar a área de TV da Conspiração, Zico Goes se preocupa com o destino do acervo da MTV Brasil, que pertence à editora Abril. Segundo ele, é uma questão "pessoal e emocional".

"Eu me preocupo com o gerenciamento. O acervo precisa ser digitalizado. Daqui a pouco ele se perde. Acho importante torná-lo público, criar negócios em torno dele", diz.

Segundo Zico, a Conspiração está pedindo autorização de uso das imagens, e o apresentador Fabio Massari quer usar uma entrevista que fez com o inglês Malcom McLaren (1946-2010), empresário dos Sex Pistols, como base para uma HQ.

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