Saiu no NP

Seleção dos sonhos vive tragédia e faz brasileiro chorar

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Desde a vexatória derrota da seleção brasileira para a Alemanha pelo placar de 7 a 1 na última Copa, realizada no Brasil, os brasileiros andam ressabiados com a equipe canarinho. Mas esse sentimento já acometeu o torcedor, especialmente após o Mundial da Espanha.

A seção "Saiu no NP" desta semana volta ao ano de 1982, quando um time recheado de estrelas, comandado pelo técnico Tele Santana, encantou o país-sede, a Espanha, e o mundo com um futebol ofensivo e bonito, atropelou quase todos os seus adversários, mas viu o sonho do tetra, à época, parar em um dos maiores carrascos de sua história: o italiano Paolo Rossi.

O jornal "Notícias Populares" de 14 de junho de 1982, dia da estreia da seleção na Copa, trouxe a seguinte manchete: "Brasil em busca do tetra quer estraçalhar os russos". A edição destacava o encontro de dois tabus, um negativo e um positivo: Telê ainda não havia ganho um jogo sequer contra os países da chamada "Cortina de Ferro" desde quando assumiu como treinador, porém a última derrota de nossa equipe em estreias de Copas havia sido em 1934, quando perdemos por 3 a 1 para os espanhóis.

No dia seguinte, o resultado estampado na capa do diário acabava com a desconfiança sobre o time: "Ferro nos russos - 2 x 1". Com uma virada, a seleção brasileira derrotou a União Soviética, em Sevilha. Em um jogo difícil, Sócrates e Éder deram a vitória para o Brasil, que no primeiro tempo viu um chute do russo Bal, da intermediária, balançar as redes do goleiro Valdir Peres. Assim os brasileiros ganharam moral para a partida seguinte, contra a Escócia, no dia 18.


A edição do "NP" do dia 19 foi praticamente pornográfica: "Brasil tira saia dos escoceses". Destaque para um trecho do primeiro parágrafo da reportagem sobre o jogo: "O Brasil levantou a saia dos manguaceiros escoceses ontem à tarde, em Sevilha, goleando por 4 a 1 e garantindo a sua classificação no grupo 6 [...]". Mais uma vez o time de Telê saiu atrás no placar, mas a virada veio pelos pés de Zico, Oscar, Éder e Falcão, que deram uma aula de bom futebol.

Na última rodada da primeira fase, já classificada, a seleção brasileira passeou. Uma vitória maiúscula em cima da Nova Zelândia por 4 a 0, gols de Zico (2x), Falcão e Serginho Chulapa. O Brasil ficou com o primeiro lugar no grupo e se credenciou para a segunda fase, em um triangular com Argentina e Itália, em Barcelona.

A empolgação da torcida brasileira e da própria imprensa pelo tetracampeonato era grande. Questionado por jornalistas que queriam saber a emoção que o capitão poderia sentir ao levantar a taça, Sócrates pensou um pouco e respondeu: "Eu não gostaria de reproduzir o gesto dos outros capitães brasileiros [...] Seria melhor achar um jeito de todos segurarem o troféu e posarem juntos para as fotos. Os onze, os reservas e a comissão técnica".

Crédito: Folhapress
Paolo Rossi disputa bola com os brasileiros Oscar e Falcão na partida disputada no estádio Sarriá

Com esse clima de empolgação nossa seleção partiu para cima de sua maior rival, a Argentina. A manchete do "Notícias Populares" de 3 de julho de 1982 foi: "Adiós muchachos". Nossos hermanos, comandados por Menotti, não foram páreos para o futebol arte da camisa canarinho. O resultado de 3 a 1 (Zico, Serginho Chulapa e Júnior; Diaz fez o gol argentino) fez com que o Brasil precisasse somente de um empate no jogo seguinte, contra a Itália, para chegar à semifinal. Falcão, que foi chamado de "monstro" pelos espanhóis, esbanjou categoria e foi um dos grandes responsáveis pela vitória, mesmo sem ter marcado. A grande decepção foi Maradona, expulso.

Antes do grande confronto diante dos italianos, Sócrates desabafou sobre a prolongada concentração a que os jogadores brasileiros estavam sendo submetidos e afirmou que faria exigências em seu próximo contrato com o Corinthians: "Vou exigir ser dispensado das concentrações. Sou um profissional, um médico, um homem adulto que conhece suas obrigações. Inclusive, me parece negativo ficar privado da companhia das pessoas de que gosto".

Tragédia do Sarrià

O estádio Sarrià, em Barcelona, estava lotado de torcedores, com a expectativa de outro show brasileiro, já que a seleção italiana vinha de uma classificação complicada, com três empates na primeira fase e uma vitória apertada por 2 a 1 em cima da Argentina, pela segunda fase.

O jogo começou com uma forte marcação da Itália, que demonstrou muita disciplina tática e soube se aproveitar das falhas defensivas da equipe brasileira. Foi assim que Paolo Rossi abriu o placar para os italianos. Sócrates empatou, mas Rossi colocou a Azzurra na frente novamente. Falcão fez o seu e devolveu a esperança da classificação, já que o empate bastava, mas o atacante italiano estava inspirado, marcou seu terceiro e pôs números finais: Itália classificada para a semifinal, 3, Brasil eliminado, 2.

A derrota até hoje é lembrada com dor, pois a seleção de 82 encantou com belas jogadas e um futebol digno da escola brasileira. A capa do "NP" de 6 de julho daquele ano foi suficiente para explicar o sentimento do torcedor e dos próprios jogadores: "Chora Brasil".

Zico, inconformado com a eliminação, declarou: "Incrível, mas nossa seleção não soube jogar pela vantagem de empatar. Fomos ofensivos demais, quando o certo era jogar mais atrás".

Crédito: Folhapress
Em 5 de julho de 1982, Paolo Rossi, que na foto fez um dos três gols que eliminaram o Brasil, tornou-se o maior carrasco da seleção na Copa de 82

Os italianos seguiram em frente, eliminaram os poloneses na semi por 2 a 0 e chegaram à final contra a Alemanha, que vinha de um jogo desgastante contra a França, vencido nos pênaltis após empate no tempo normal e na prorrogação. O carrasco dos brasileiros abriu o placar, ampliado por Tardelli e Altobelli. O único gol dos alemães saiu dos pés de Breitner: 3 a 1, Itália igualava o tricampeonato do Brasil, e Paolo Rossi ficava com a Bola de Ouro –Falcão ficou com a de Prata.

O grito de tetracampeão viria 12 anos mais tarde, em 1994, com um futebol nem de perto parecido com o apresentado em 1982. O grande craque de 1994 foi Romário, que fez a diferença durante toda a campanha até a vitória na final contra a Itália, nos pênaltis. O título ajudou amenizar o sentimento amargo de 1982, como todo brasileiro espera agora apagar a mancha de 2014.

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