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Sites de relacionamento apostam em pessoas de meia-idade para crescer

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Após o término de um relacionamento que durou quase uma década, a aeroviária Elsa Kaminata, de 48 anos e sem filhos, decidiu dar a si mesma um tempo antes de se lançar novamente no competitivo e cruel mercado dos solteiros.

Adepta da boa forma, conquistada em corridas de rua, ela conta ter ficado logo cansada das saídas rotineiras com os amigos que se multiplicaram durante seu "período sabático".

"Sentia falta de alguém que me completasse, mas não queria suprir essa falta com qualquer um", afirma.

A alforria do celibato veio a partir da descoberta de um site de relacionamento. Kaminata decidiu se inscrever, há dois meses, no Coroa Metade, site que promete juntar homens e mulheres acima de 45 anos e 40 anos, respectivamente.

"Vi ali a oportunidade de conhecer alguém com gostos parecidos com o meu. Como me preocupo com a saúde, detesto gente que bebe ou fuma", diz.

Depois de um relacionamento virtual fracassado, Kaminata parece ter encontrado, finalmente, sua cara-metade. Só falta conhecê-lo pessoalmente.

"Ele é extremamente interessante e também gosta de fazer caminhadas. Estou com grande expectativa", afirma.

Crédito: Divulgação Sites de relacionamento apostam em pessoas de meia-idade para crescer
Sites de relacionamento apostam em pessoas de meia-idade para crescer

Interesse

Perfis como o de Kaminata, que pertence ao grupo de 25 milhões de brasileiros acima de 45 anos que não estão casados, entre solteiros, divorciados e viúvos, vêm despertando o interesse dos sites de relacionamento virtual.

"Não apenas as pessoas estão vivendo mais e melhor. Nada mais lógico, portanto, de que elas recorram a tais ferramentas para se 'recolocar' no mercado, e de uma forma mais prática e discreta", explica à BBC Brasil a psicóloga Lidia Aratangy, terapeuta de casais e famílias.

Fundador do site Coroa Metade, o jornalista Airton Gontow, de 51 anos, conta que se baseou em sua própria experiência pessoal para dar início à empreitada. No ar desde o final de novembro do ano passado, a página já recebeu 1 milhão de visitas e conta, hoje, com cerca de 8 mil cadastrados.

"Aos 43 anos, eu me separei e fiquei um bom tempo sozinho até me casar novamente. Nesse período, eu me surpreendi com a quantidade de amigos que estavam solteiros", diz.

"Lembro-me de uma reunião de amigos da escola da qual participei. Não nos víamos há 30 anos. Fiquei espantado ao constatar que mais da metade dos presentes, em sua maioria de classe média alta, não estavam casados", conta.

"Saí desse encontro com a ideia de criar um site que se voltasse para esse tipo de público e que, ao mesmo tempo, afastasse quem estivesse só a fim de farra", explica.

Um dos maiores sites de relacionamento do Brasil, o ParPerfeito, que dizem ter 30 milhões de usuários no país, também já percebeu o potencial dos usuários mais velhos.

"A maior adesão ainda se dá nas faixas etárias entre 25 e 45 anos. Mas também temos visto um crescimento no público de meia-idade", diz Gaël Deheneffe, diretor de produtos do ParPerfeito.

De 2009 a 2012, por exemplo, o número de homens acima de 60 anos cadastrados no site quadruplicou e a de mulheres na mesma faixa etária cresceu cinco vezes.

Até no site especializado em casos extraconjugais Ashley Madison, que desembarcou no Brasil em 2011 e já conta com 1,1 milhão de usuários, a faixa etária que mais cresceu nos últimos anos foi a dos homens à beira dos 40 anos.

Cenário Internacional

Enquanto no Brasil os sites de relacionamento começam a atrair um público mais velho, nos Estados Unidos, tal tendência já é verificada há mais tempo.

Especialistas estimam que dos 102 milhões de americanos solteiros, cerca de 44%, ou cerca de 45 milhões de pessoas, buscam sua alma gêmea na Internet por meio de algum tipo de site de relacionamento.

De acordo com um levantamento da empresa IBISWorld, esse mercado movimentou cerca de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 4 bilhões) nos Estados Unidos só no ano passado.

Já segundo a consultoria Experian Hitwise, especializada em Internet, a faixa etária que mais cresceu no país foi a do público acima de 55 anos, com uma alta de 39% nos últimos três anos.

A lógica do rápido crescimento do setor é em parte explicada pelo sucesso das conquistas. Segundo uma pesquisa feita em 2005, coordenada pelo professor Harry Reis, da Universidade de Rochester, 37% dos americanos se conheceram pela rede, contra menos de 1% no início da década de 90.

Outro mercado em expansão é a China, com seus 180 milhões de homens solteiros, de acordo com um levantamento da União Nacional de Mulheres da China.

O motor do crescimento é a política de filho único, instituída na década de 80, que produziu um desequilíbrio no número de homens e mulheres. Estima-se que, no país, haja dez homens para cada mulher na casa dos 30 anos.

"Essa busca por um parceiro contraria a visão de que o casamento é uma fórmula ultrapassada. As pessoas continuam querendo construir um projeto de vida em comum", explica a psicóloga Lidia Aratangy.

"Na prática, o que mudou é que o casamento saiu do lugar da necessidade e da obrigação e foi para o lugar do desejo. As pessoas buscam estar juntas porque querem estar juntas, independentemente de pressão sociais", diz Aratangy.

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